A carne ama na carne o que o espírito pretende alcançar
como ama na cama do mar o pescador
o peixe que pretende pescar...

A luz ama o escuro pois pode caminhar em sua senda
mesmo quando seus olhos de úmidas partículas
são cobertos por humana venda...

A paz ama conversar com a guerra sobre tantas possibilidades
que mal chega a noite estão rindo e muito à vontade
se dão as mãos e prometem a trégua da reparação
mesmo que um cisco de ódio ainda voe pelo sangrento chão...

O medo se assusta com o medo que o homem sente
quando diante de si um semelhante com uma arma quente
lhe avisa que os pássaros negros estão a voar sobre si
procurando o que comer e o que vestir...

O amor sai à ruas a apanhar os restos de suas pérolas perdidas
e encontra fragmentos de beijos e cartas mal escritas
afagos descendo pelas corredeiras em dia de chuva
o que era vivo e feliz hoje é só uma passa uva
senta-se no meio-fio e recita o poema a quem caminha
de ombros baixos e olhos assustados
pela falta de amor que vinha
o olhando do outro lado...

O poeta
apanhando versos nas altas árvores no meio da floresta
escreve com um graveto a poesia de alcançar a quietude
que há depois que for levada ao setor de embarque a guerra...

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