Lacrimosos dias limpando a sujeira
A bagunça da cidade vestida
Como um abutre, como um leão
Individual, animal, espertalhão
Brasão neoliberal
Nem a pau
Nem me fale desse mal
Que eu nem entendo
É que sei do meu trabalho
E do aço e é árduo
Mas eu que quis crer
Neste tal de merecer
Oportunidades faltou, viu
Diferente que sou
Nem são capazes de me contratar
No digno, no ato de proclamar
A democracia deveras
Sei o que é, nunca vi prática igual
Ao discurso belo e conciso
Daqueles que vi pela televisão
Porque, ademais, de impressão
Já vi de montão, mas aí vem um programa melhor
Eu vi uma pessoa como eu lá
Era eu, povo, era eu
Mal sabia que era mentira
Mal sabia
Ah, o dinheiro, que palavra de valor
Ao que parece, compra-se amor
Neste sistema e nesta cidade
Não vi nada de solidariedade
Nem misericórdia tampouco piedade
Há uns poucos por cima, o restante por baixo…
Eu levanto, mas quase não saio do mesmo lugar.
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