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A FELICIDADE - CAPÍTULO II
EFRAIM MARQUES

É sempre assim!
A culpa é sempre de Samuel.
Samuel quebrou.
Samuel sujou.
Samuel começou.
Samuel isso, Samuel aquilo.
Sempre Samuel.
É, isso mesmo eu sou o Samuel. Meu sobrenome “CULPADO”.
Todos sempre dão um jeito de colocar a culpa das coisas erradas sobre mim. Por quê? Ah, isso eu não posso responder, mas posso afirmar que sempre foi assim, desde que nasci tenho recebido “as culpas” que a mim são destinadas. Por quê? Já disse, eu não sei. Sei que minha mãe e meu pai se divorciaram alguns meses após o meu nascimento. E até onde sei a culpa foi minha, pois minha mãe sempre repete isso para mim.
- A culpa de seu pai ter nos abandonado é sua. Somente sua.
Eu não entendo a razão. Ela nunca me explicou o motivo, e quando tento saber quem é meu pai ou porque ele nos abandonou, minha mãe parece ficar ainda mais estressada comigo. Desisto e fico remoendo a culpa que a mim foi imposta.
Mas o caso é que hoje eu realmente não fiz por merecer este castigo. Qual castigo? O de entregar até sexta-feira uma pesquisa sobre Juscelino Kubitschek de Oliveira. Isso mesmo sobre o Presidente JK! Como se isso fosse resolver o problema. E qual o motivo do castigo destinado a mim: nenhum. Simplesmente levei a culpa. Vou lhes contar do inicio, para não restar dúvidas de que neste caso sou inocente, uma vítima pagando pelo crime que não cometeu.
Segunda-feira, primeiro dia de aula e primeiro dia da semana. Como sempre acordo sem animação nenhuma para ir à escola, no entanto minha mãe está sempre disposta a me ver fora de casa. E sinceramente, não tenho muita escolha, ou vou à escola e fico longe dos lamentos de minha mãe, ou então fico em casa sempre ouvindo dizer que eu sou culpado pela vida que ela leva. Bom, neste caso prefiro a escola.
Sempre vou caminhando. Acredito que caminhar me ajuda a pensar melhor e refletir no motivo de minha vida ser tão complicada. Enquanto caminho pelas ruas do bairro, que geralmente são tão silenciosas que é possível até ouvir o ronco das pessoas que ainda dormem, ou o sussurrar do vento sobre as copas das árvores, fico a imaginar como teria sido minha vida se meu pai estivesse conosco. Pergunto-me como ele seria comigo, que apelido teria me dado, de que brincaríamos, onde ele trabalharia e onde moraríamos. E minha mãe será que seria diferente. Perguntas que jamais poderão ser respondidas.
Mas enquanto estou caminhando perdido em meus pensamentos, um som me atrai. Um som não muito familiar, que há muito não consigo emitir. Se meus ouvidos não me enganam este é o som de alguém feliz: sorrisos, gargalhadas, alegrias.
Eu não sabia mais como era sentir alegria, sorrir e até mesmo o sentido de dizer “Eu sou feliz”. Mas, sabe depois que a conheci tudo mudou. Eu mudei, minha vida mudou da água para vinho. Ela trouxe sentido para minha vida.
Nossa! Antes de ela entrar em minha vida eram poucas as vezes em que sorri, gargalhei e me alegrei com algo. Ela me ensinou o que realmente é a felicidade. Me mostrou como preservá-la em todos os momentos. Quando estava com ela meus problemas não existiam, minhas angústias eram passageiras, e a alegria preenchia meu coração. Quando a conheci jamais imaginei que poderia ser tão feliz. Desculpe, ela me faz lembrar momentos tão bons.
Não! Os sorrisos que ouvi não eram dela. Quando a conheci as circunstâncias eram outras, mas tenha calma, afinal essa é a minha história. Não, essa é a nossa história.
O som que me afastou de meus pensamentos, vinha de uma casinha simples, modesta, onde a pintura já necessitava de uma nova e as suas portas talvez já não fizessem o trabalho a elas destinado perfeitamente. E a grama já não existia no quintal. Observei atentamente a cena que via e perguntei-me como pode ser.
A mãe que brincava com o filho, segurando-o nos braços, refletindo em seu olhar um sentimento tão puro e bom, que quando olhava para o menino, ele se sentia amado, seguro e protegido. E esta segurança o fazia ficar com os bracinhos abertos, as pernas esticadas enquanto a mãe o levava no ar perfazendo os movimentos de um avião em pleno voo. O menino não parava de sorrir. Era uma gargalhada contagiante, daquelas que mesmo você não sabendo o motivo também começa a rir. O menino sorria e isto deixava a mãe satisfeita, orgulhosa. Vasculhei minhas lembranças, a fim de encontrar alguma em que eu, minha mãe e meu pai tenhamos passado momentos assim, mas essas lembranças não existiam. Eu passaria o dia ali, observando e tentando absorver um pouco daquela alegria. É, passaria se não fosse por Erik.
- Samuel, você está bem?
- Oi, Erik. Sim estou e você? – Perguntei tentando disfarçar meu semblante de decepção por não nunca ter partilhado de momentos como esses com minha mãe ou meu pai.
- Você não parece bem. Estava aí parado a um tempão observando aquela mulher e criança com uma cara de bobo.
- Erik, por favor, não começa que hoje não estou afim de sermão. – E rapidamente retomei minha caminhada rumo à escola.
Tirando o fato ocorrido com a mãe e seu filho, o dia parecia que seria tranquilo sem nenhum percalço pelo caminho. Foi aí que me enganei.
Bom, como em todas as turmas existem os grupos. Grupo dos CDFs, grupo das patricinhas, grupo dos bad boys, grupo dos feios e etc. Eu não me encaixava em nenhum, tinha o meu próprio grupo que eles chamavam de Grupo do Culpado, este grupo era composto apenas por mim e meu amigo Erik.
Neste dia, já na última aula os alunos resolveram pregar uma peça no professor de História do Brasil e eu já sabia que isso não daria certo, por este motivo fiquei quieto e resolvi não participar.
Os meus caros colegas resolveram pôr sobre a porta um balde cheio de água, para que quando o professor entrasse a água caísse sobre ele. O plano era perfeito. Mas o que eles achavam? Que o professor não revidaria, acharia engraçado e sorriria para nós como se isso fosse a coisa mais natural do mundo? Claro que não! Só que o problema foi justamente este, o plano deu certo e no fim eu recebi a culpa por esta armação e agora tenho um trabalho a fazer.
A biblioteca! Nunca gostei da biblioteca até aquele dia. Uma sala imensa, estantes enormes com livros tão grossos que só de olhar já me davam vontade de dormir, aliás, eu só entrava na biblioteca para dormir. Mas naquele dia eu não podia dormir, e muito menos ir a outro lugar. Quando cheguei aquele lugar e abri as portas surpreendi-me com a quantidade de alunos ali dentro, parecia que todos os professores resolveram pedir que os alunos pesquisassem. O barulho tomou conta da biblioteca, enquanto a responsável pela biblioteca, Dona Neide, tentava sem sucesso colocar ordem na casa. Procurei uma mesa isolada de tudo e de todos e após uns minutinhos de procura finalmente encontrei uma não muito escondida, mas ficava um pouco afastada de todas as outras. Sentei-me e coloquei-me a vasculhar a vida de JK.
Quanto mais lia, menos interessante achava a vida de JK: “Foi o primeiro presidente do Brasil a nascer no século XX. Foi o quinto político mineiro eleito para a presidência da república pelo voto direto. Casado com Sarah Kubitschek. Foi o responsável pela construção de uma nova capital federal, Brasília...” Por favor, o que isto me interessava? Nada. Absolutamente nada. Estava tão cansado de “blá-blá-blá”, que levantei a cabeça para ver o movimento e por incrível que pareça estavam todos sentados e silenciosos. Como a D. Neide conseguiu essa proeza eu não sei, mas quando olhei para a porta da biblioteca lá estava ela, parada, observando a biblioteca a procura de alguém ou alguma coisa que fizesse um movimento brusco ou um barulho inconveniente.
Naquele mesmo instante a porta abriu-se e ela adentrou a biblioteca e arrebatou-me com sua beleza estonteante. Ela era alta, tinha os cabelos escuro feito o ébano, sua pele era branca e seus lábios vermelhos como sangue, e seus olhos tinham um brilho tão intenso que parecia atrair a atenção de quem os visse. De repente me deu um súbito desejo de levantar e ir até lá e saber o que ela procurava, o seu nome, o que fazia nas horas vagas. Queria saber quem era ela. Mas eu não podia simplesmente chegar e perguntar: “Oi! Sou Samuel, quem é você?” Iria parecer um idiota e ainda por cima levaria um fora daqueles. Tinha que pensar em algo melhor. E se ela gostasse de alguém ou ainda se ela já tivesse namorado. Enquanto eu pensava em como me aproximar dela, eu a observo novamente e neste momento meu coração para, minhas mãos gelam e minhas pernas tremem. Meus olhos apenas enxergam ela se aproximando lentamente da mesa onde estou sentado, será que é um sonho.
- Oi! Desculpe atrapalhar seus estudos, mas não há mesas vazias, e queria saber se há...
- Sim! Claro que sim. – Nem deixei que ela terminasse e afastei meus livros que estavam espalhados, enquanto ela olhava e sorria para mim.
- Não quero atrapalhar. Se for incomodar eu volto outra hora.
- Você não vai atrapalhar. Permaneça o tempo que quiser.
- Obrigada!
Pronto! Se a história de JK já não me interessava e eu não conseguia manter a concentração na leitura, saber que ela estava ali, sentada na minha frente piorava a situação. Que sentimento era esse que me deixava desconcertado sem saber como agir ou como falar.

Quem era essa garota?!


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Outros títulos do mesmo autor

Romance A FELICIDADE - CAPÍTULO III EFRAIM MARQUES
Romance A FELICIDADE - CAPÍTULO II EFRAIM MARQUES
Romance A FELICIDADE - CAPÍTULO I EFRAIM MARQUES


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