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Odeio os indiferentes
Conversa (des)afinada
Alexandru Solomon

Resumo:
Somos líderes, logo marchamos na frente, e quem marcha na frente corre o risco de tomar chutes de quem vem atrás.

O título acima foi tomado emprestado de Antonio Gramsci. De fato, o que fazemos é permanecermos inertes ante o desenrolar da História, delegar, em suma, aos “outros” a tarefa de escolher os caminhos a serem trilhados nos próximos quatro anos e suportar as consequências da escolha. Nada mais apropriado do que este momento importante em que estamos prestes a decidir democraticamente os rumos da Nação para repudiar o irresponsável dar de ombros.
Estamos em plena campanha eleitoral, e sem a pretensão de ter algum dom superior, capaz de separar o certo do errado, é possível tecer algumas considerações.
Dizer que a campanha eleitoral em clima de Fla-Flu chega a beirar o ridículo mais atroz nada tem de original. A troca de ideias deu lugar a um pugilato verbal, no qual a agressão aos fatos – e aos oponentes – tem lugar de honra.
O marketing eleitoral flerta com os limites que justificariam um direito de resposta e vendem uma imagem apoteótica do/da cliente, sem perder a oportunidade de espalhar inverdades injuriosas a respeito dos concorrentes. Se houver uma reação mais violenta, azar, publique-se... um dia um desmentido. Não! As cadernetas de poupança não serão confiscadas. Ops! essa é de 1989. Um BC independente vai tirar a comida da mesa do trabalhador! Como? Não interessa. Os banqueiros malvados vão se empanturrar com os juros da dívida. Pera lá, quando o Tesouro se endivida, lemos ou ouvimos que o Tesouro ‘captou’. Inflamos o peito de orgulho. Pois é ‘captou’ significa se endividou, tomou dinheiro de aplicadores e aumentou a dívida emitindo papel. E vez por outra repassa distraidamente uns 10% do PIB ao BNDES que empresta a juros amigos aos tais “campeões nacionais”. Nesse caso, a dívida líquida nem cresce, pois é repassada, em condições que custam ao País algo como duas vezes o orçamento da Bolsa família. E daí? A cada centavo dessa dívida, o Tesouro tem a receber o mesmo valor do BNDES... um dia, já que o grande banco repactuou a sua dívida.
Do lado dos elogios, não falta nada, nem o atestado do cardiologista afirmando ser certa candidata possuidora de um coração valente. E é preciso, afinal para construir – não fazer construir, aí seria muito banal – quilômetros de estradas, vias férreas etc, haja coração. Detalhes como atrasos nas obras pouco importam. Até o relógio do seu Zé atrasa. Se as obras saem pelo dobro, triplo e por aí vai, do preço acordado, paciência. Quem já reformou sua cozinha sabe que isso é normal.
Vivemos a redenção da nossa indústria naval com o navio João Candido que deu menos Ibope que o Titanic. O Titanic afundou o João Candido voltou para reparos. Fizemos um carnaval com nosso Trem-bala. Já não se ouve falar desse projeto.
Na política externa, somos os promotores do eixo Sul-Sul. Vamos mostrar a língua pro Tio Sam. Perdoar dívidas de tiranetes africanos é um achado, afinal, são dívidas que nunca serão pagas. Depois das Polonetas, que venham as afriquetas! Nossa diplomacia é de gigantes diplomáticos. Estamos prontos para, através de negociações, mediar todos os conflitos do planeta. Azar de quem duvida. O mundo está de olho nas nossas iniciativas.
Como potência hemisférica estamos prontos a levar de pigmeus sul-americanos os tais pontapés aos quais se referiu o tal de Jerôme Valcke. Se a Bolívia pisa nos nossos calos, e toma manu militari as instalações da Petrobrás, não tem importância, afinal o PIB boliviano vale menos que o valor de mercado do Itaú. O irmão mais velho está aí para ajudar. Quanto à Petrobrás... Rockefeller estava errado ao dizer que o segundo melhor negócio do mundo é uma empresa petroleira mal administrada.
Somos líderes, logo marchamos na frente, e quem marcha na frente corre o risco de tomar chutes de quem vem atrás. E viva o Mercosul, onde enterramos definitivamente a chance de fazer florescer nossas exportações. E se exportamos para a Argentina e recebemos com atraso, é por causa dos abutres. Se o pacto automotivo muda como mudamos de camisa – sempre a nosso desfavor, isso não tem importância. É só mudar menos de camisa. Culpa de FHC!
Nossos portos são uma calamidade? E daí, sabemos construir portos... e demonstramos isso em Cuba.
Na onda dos rapapés, fizemos força para admitir, no Mercosul, a Venezuela, nossa parceira na tal refinaria Abreu e Lima, que um dia estará pronta. Somos bolivarianos nas horas vagas.
Temos o exemplo luminoso da Venezuela. Ah, lá falta papel higiênico? Mas para quem come pouco para que esse luxo neoliberal?
O termo “conta de padeiro” ganhou destaque ultimamente. Funcionaria no caso do nosso Fundo Soberano? Vejamos. Em 2008 ao invés de pagar uma parcela de juros da dívida, separou-se uma grana – uns R$ 14 bi – e foi criado o FSB. É chique ter um Fundo soberano! Ativo como um girino – pouca cabeça, muita cauda e muito movimento, participou do “maior capitalização do mundo’ subscrevendo ações da Petrobrás, pagando R$ 26,30 as PN e R$ 29,65 as ON. Tempo depois, se desfez – com prejuízo – delas, vendendo-as ao BNDES, para não derrubar o mercado, que já não andava bem das pernas. Comprou ações do BB. Agora para funcionar como esparadrapo das contas públicas terá de se desfazer das ações do BB e pingar R$ 3,5 bilhões na conta do Tesouro, a fim de complementar nosso raquítico superávit primário. Com qual finalidade? Bingo! Para praticar o oposto da manobra que o criou: pagar juros da dívida! Parabéns, padeiro contracíclico!
Tivemos a promessa de se construir 800 aeroportos regionais. Parece que só faltam 799, descontando o aeroporto da família do candidato do PSDB, em torno do qual o que não falta são comentários.
Nossa presidenta, em busca de um segundo mandato, comete vez por outra deslizes, deixando a cargo da fiel asponeria a tarefa de explicar que não era bem aquilo. Ao comentar, numa entrevista com blogueiros, a regulação econômica de mídia, um dos objetivos do seu eventual próximo mandato, afirmou que essa bandeira nada tem de bolivariano. “Controle de conteúdo é típico de país ditatorial, não de país democrático”. Recapitulemos em câmara lenta. O controle econômico difere do controle de conteúdo. O controle de conteúdo é típico das ditaduras. Não há intenção de estabelecer o controle de conteúdo pois se pretende uma forma que nada tem de bolivariano. Por acaso ela quis dizer que o bolivarianismo seria próprio de país ditatorial? Puxa vida, e Lula que dizia que não há país mais democrático que a Venezuela. Excelência, é preciso atualizar urgentemente o banco de dados e de pensamentos.   
Em resumo, odiar os indiferentes talvez não baste. É preciso votar com responsabilidade. Abraçar o prédio da Petrobrás é, para quem não tem o que fazer, a não ser impressionar os desinformados.
Permanecer insensível ante a inevitável reeleição... de Tiririca é dose.


Biografia:
Alexandru Solomon, empresário, escritor. Formado pelo ITA em Engenharia Eletrônica e mestrado em Finanças na Fundação Getúlio Vargas, autor de ´Almanaque Anacrônico`, ´Versos Anacrônicos`, ´Apetite Famélico`, ´Mãos Outonais`, ´Sessão da Tarde`, ´Desespero Provisório` , ´Não basta sonhar`, ´Um Triângulo de Bermudas`, ´O Desmonte de Vênus` ´Plataforma G` (Ed. Totalidade), ´Bucareste` e ´A luta continua` (Ed. Letraviva). Livrarias: Saraiva (www.livrariasaraiva.com.br), Cultura (www.livrariacultura.com.br), Loyola (www.livrarialoyola.com.br), Letraviva (www.letraviva.com.br). | E-mail do autor: asolo@alexandru.com.br

Este texto é administrado por: Celso Fernandes
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