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Meu desamor por mim mesmo
Alexandre Engel

E ela observa-o, fitava o movimento de seus lábios que se movimentavam de uma maneira sublime e particular. Aquele sorriso que indica uma ambiguidade enorme, que oscilava entre, posso conversar com você, até situações mais causais.
E toda vez que ele perguntava algo a ela, suas bochechas ficavam cada vez mais rosadas, e ela assim, mais bonita. Ela diversas vezes já imaginou-se mordendo-o, pegando-o, pelos corredores, nas salas vazias, no carro no meio da avenida.
Ela tinha compromisso, namorava faz anos, e ele um dia investiu-lhe algumas palavras mais penetrantes. Ela seguia os preceitos da sociedade, mas mesmo assim, não parava de imaginar aonde suas mãos poderiam recostar com as dele. Seu relacionamento já um pouco defasado pela rotina, pelo excesso de desamor, pelo comodismo fiel que acompanha muitos casais, a fazia pensar cada vez mais nele. E ele, disso sabia.
Não demorou muito para que os dois marcassem um encontro, ele obviamente manipulou da melhor forma possível, arquitetou tudo, o script perfeito esconde o cafajeste ideal. Ele previa e antecipava cada possível resposta dela, principalmente as de resistência, para assim, quebrar as poucos sua armadura, e depois quem sabe lhe enfiar uma estaca em seu coração...
E então ele a deixou esperando não mais que três vezes, ela achava isso insuportável, e ao mesmo tempo a instigava o porque disso. Como um homem nos padrões atuais da sociedade a deixaria esperando - como ele poderia fazer isso. Ela era linda, sabia disso, provoca quem por ela passava só pelo sentimento de poder que isso lhe causava. Mas ele apesar de tudo, parecia fazer pouco disto tudo, ele esbanjava um mistério peculiar, como se fosse indiferente a qualquer intempérie.
Até que finalmente seus olhos se fitaram a menos de um palmo...isso ocorreu em um de seus convites para que ela fosse até sua casa. Ela colocou seu melhor vestido, e ele insistiu para que fosse de salto (nem podemos imaginar a causa deste pedido), e sua indecisão ficou pela escolha da melhor lingerie.
O dia estava quente, e ele com um corpo quente por natureza, já a atendeu a porta sem camisa alguma, as linhas desenhadas de seu corpo fizeram com que ela apertasse os lábios sobre os dentes cerrados e as unhas cortassem suas palmas sedentas pelo contato logo. ele a beija no rosto, sabe que mesmo apesar de o encontro já deixar claro as intenções, a intimidade conquistada aos poucos, sempre o conduziu aos melhores caminhos.
Suas mãos logo se encontram, mas ele se vira e a leva para a sala, pede que sente-se e busca um dos vários vinhos que guarda para enganar as mentes mais inquietas e manipular o consciente mais rapidamente, sua premissa é faze-la se entregar por si só, que a angustia de perder os receios e a saliva acabe em um movimento estigmatizado dela. Deste modo ele se sente menos culpado como se isso realmente pudesse ocorrer.
Para o azar dela (ou sorte) ele muito aprendeu com o tempo, suas observações e experimentos lhe deram um tato bem mais ágil que os demais, conhecia os caminhos como se já transita-se por quaisquer curvas, sabia aonde colocar pressão em seus dedos, e aonde os sopros seriam melhor sentidos. sabia distinguir o que cada movimento do corpo dela queria dizer, se este implorava uma pegada mais árdua ou um olhar mais profundo. A induzia a tudo sem precisar fazer nada. Os botões de sua blusa abriam-se quase sozinhos, era a ânsia pelo outro corpo. Ela insinuava o desejo ao deixar seu pescoço sempre a vista, com o sorriso para o mesmo lado, indicando-o aonde gostaria de ser beijada. E ele não a poupava, na verdade abusava de sua gentileza para cada vez mais deixar que ela lhe mostrasse um novo local a ser perturbado..
Então que - o celular dela toca, seu marido está a ligar-lhe...
Seu fiel escudeiro esta noite percebe,tira-lhe o celular das mãos, desliga-o e o guarda, ele não podia deixar que ela pensasse em algo que a distraísse um segundo que fosse. Pegou-a no colo e caminhou pela casa até seu quarto, em cada parede que esbarravam, as faziam de um colchão vertical em solo, uma coreografia digna do melhor funk-axé-Lulu-e-Gonzaguinha.
Ele a joga na cama sem dó nem piedade, a fita nos olhos sem nenhum rancor do que fará, e umedece seu lábios, liga seu abajur escudeiro, abre sua gaveta dos milhares de desejos e sussurra, hoje...com certeza...você não volta pra casa...
Ela até então não havia percebido as pregas que as paredes atrás da cama tinham, mas isso logo ocorreu quando ele tirou duas algemas de sua particular gaveta, com certeza, não seria uma experiência qualquer.
Pensamentos a consomem, misturados, condensados em vontades, de sair, fugir, gritar, ficar, chamar, pedir e ganhar.
Ela cobre seu corpo com seus longos cabelos, e mesmo ainda vestida, sabe, ele é criativo demais para se deixar qualquer brécha.
Sua respiração se torna soluço e sussurro ao mesmo tempo, angustia pelos volumes ocultos de sentimento viril. Mesmo estando deitada, o suor escorre em todo seu corpo, seus pés fraquejam, edemasiam, se espreguiçam, anseiam pelo contado direto.
Ele senta-se em cima dela, montado em cela, ela sem resposta, ou quem sabe deixar-se levar fosse sua resposta. Ele tira suavemente sua blusa ao mesmo tempo que escorre seus dedos por cada curva, cintura, peitos, braços, o corpo desliza como se houvesse um óleo, e para cada ponta da cama, uma mão foi estendida. De braços abertos para o amor, ou desamor se assim quisesse, ela já não ligava. Ela já presa, ele abre um sorriso de canto a canto do quarto, isso significava muitas coisas, e ela já não fazia questão em adivinhar.
Ele sem delongas tira sua camisa, e seus corpos se fundem, ela não sabia explicar como o cheiro dele entrou nela como insenso, um tabaco bom, uma tragada da mais pura testosterona. E ele abusava de seus conhecimentos anatomicos com maestria, cada conexão do corpo dela com sua maos delineavam suspiros cada vez mais longos, as mordidas encaixavam nos ossos de seu rosto com uma voracidade que ela só conseguia comparar a um animal, e por assim dizer, era.
Seus ouvidos foram acariciados fielmente pelo seu domador, anos estudando a fio as áreas erógenas e os pontos de liberação dos chakras em outros corpos, ahhh...ela nem sabia distinguir essas sensações, seu primeiro orgasmo já tinha ocorrido em uma das prensas nas paredes, o segundo foi só pela mente, pela sensação de estar presa, e agora, o terceiro estava se materializando novamente.
É, nada como uma boa preliminar, e desta vez, não foi sozinha - ela pensava.
Ele entrelaçou seu braço direito por debaixo do corpo dela até sua mão chegar na nuca, pegou-a pelo cabelo, espaçou as pernas dela com as suas, e em movimentos contínuos, fortes e incisivos, arrepiou cada uma de suas partes móveis em corpo. Beijando-a na boca como se fosse o último morango do planeta, vermelho sangue, lábios aveludados, e uma língua tão suave quando um bom vinho em inverno apreciado ao lado de um fogão a lenha.
Quando suas mãos encaixam em seu quadril, ela se da conta, de que ele não havia nem começado, e estava certa...
Sem poder usar os braços, ela já havia se tornado uma presa fácil. Na verdade já havia se tornado desde o primeiro contato, quando ela o respondeu, em um oi, daqueles mais puros e sem intenções, pela parte dela é claro.
Ela ainda tenta em vão com suas pernas o jogar para trás, não que ela realmente quisesse, mas o corpo já não respondia aos seus pensamentos.
E então, ele a beija, a boca, o pescoço, e assim desce, contorna seus seios com a língua e ao mesmo tempo a pressiona com as mãos - uma na cintura com uma pegada forte e outra na nuca da mesma maneira -, a morde na barriga umas duas ou três vezes e puxa só um lado de sua calcinha - ele não queria tira-la, isso aconteceria aos poucos. Passa suas mãos pelas costas, em uma sintonia ritmica assustadora, afasta então suas pernas, segura forte o quadril e a faz desfrutar de um toque que nem ela conhecia, nem sozinha havia se tocado assim, a textura de uma língua no lugar certo vale mais que uma diamante. E assim ele a delinia por minutos que parecem horas, as pernas dela continuam sem saber responder de uma maneira que o cérebro concorde.
Ele nunca foi dos bonzinhos, e apesar de as maças no rosto dela revelarem uma pessoa gentil e amorosa, ele mantinha tudo em perfeito processo. Ele ergue o quadril dela para a deixar mais vulnerável, e quando enfim ele deixa que o corpo desça, ela encontra algo que já anseava desde o primeiro contato, claro que ela o imaginava eu sua boca primeiramente, mas não recusaria esse encaixe. Como ela gostaria de ter suas mãos soltas para agarra-lo, prende-lo, arranha-lo sem nenhuma gentileza.
Ele então solta um de seus braços, ela respira achando que agora poderá desfrutar de ser a domadora também, grande engano, ele a vira com destreza e a prende novamente, "mas agora meu bem, você esta de costas pra mim".
Ele parecia que não tinha pressa alguma, da duas voltas em seus longos cabelos em sua mão direita, desliza a esquerda por toda a coluna, e quando a suavidade tomava conta de seus pensamentos, ele a puxa forte o cabelo e lhe tasca um tapa forte, com direito a estalo. Ela nunca foi judiada assim, e estava amando. E ele e desfere uma entrada consonantal, era como se junto com ele, uma corrente eletrica se desferi-se corpo a dentro. E ela então desaba, sim, dasaba. Não teve forças, sumiram quaisquer sinal de rigidez muscular, não pode nem afronta-lo...o veneno, o vinho, sim, fez efeito, a dose certa para durar o tempo necessário.
Ela nunca desconfiará o porque de ele insistir em saber o seu peso, sabendo que ela tinha um corpo escultural, aonde isso influenciaria, bom, agora ela nem pensava, nem agia, anestesiada no ponto certo, a cicuta fez efeito, estava paralisada mas ainda consciente.
O show dele, era pra ela, e com ela.
A chaira de afiar faca estava ali o tempo todo, em cima do bide, ela nem se quer percebeu. E ela que achava que somente seu coração seria exonerado do corpo, de uma forma sentimental, sentiria na pele e assistiria o concreto disso tudo.
Ele, toda vez que se deparava afiando sua faca, lembrava da infância hostilizada que teve por seu pai, as cicatrizes, mentoladas na face e extenso a olho nu, desferiam hoje a alma de sua psicopatia.
Os 40 minutos dos quais ela dormiu profundamente foram mais do que suficientes, arquitedado por dias, o plano de nosso vulgaz herói do desamor, acabou com o desfecho esperado.
Enquando ela dormia e regurgitava um sonho infantil, seu marido atendeu a chamada de seu celular feita pelo amante, que logo chegou ao lugar de abate. A carne fresca emanava eu suas narinas logo que batiam a porta.
Ela abre os olhos então, seu fiel esposo, amarrado em pé ao seu lado, sangrava por todos os orificios possiveis, a cruel cena, até então horrizava a mulher que traiu seu coração, entregou-se ao perfeito corpo do bom vinho chileno 1802.
"Está gostando? - ela chora, olha para seu marido, se arrepende de tudo - está gostando de saber que seu marido vai assistir a tudo?"
Ele desfere tapas em sua bunda esplendorosa pátria amada, pega sua faca, puxa seus cabelos com ela de quatro e a corta a garganta, como se fosse uma carne qualquer de frigorifico barato, a degola bastiosa inunda o lençol de uma tonalidade que só o amor coberto pelo inferno podem descrever.
Suas mãos já são navalhas a tempo, ele solta suas mãos e joga o corpo da esposa nos braços de seu marido, e os amarra, com ele ainda vivo, sem se mexer, e ela sem pulsos, sem calor, e como sempre, sem amor.
Ele então senta na beira da cama e assiste de camarote, degustando um de seus melhores Whisky's o perplexo paradoxo amoroso. O esposo enfim, teve sua amada em seus braços.
A moeda jogada para cima, só define o desfecho final, "cara" ele será morto rapidamente, sem sofrimento, "coroa" ele sofrerá por horas a fio. Sorte do dia, deu "cara".
Corpos enterrados, limonada gelada à mesa, agenda aberta, o vento abre em uma página qualquer, seus olhos brilham, o místico sempre lhe convém. Larissa - sempre achei que ela merecia um final feliz também.Ele já tem sua próxima vítima, uma garota que sempre foi ética, com prícipios, eiras e beiras bem limitadas. Em sua sistematica e pragmatiga mente, ela não cometeu os erros necessários para viver de verdade.
- Larissa, como está? Pensei tanto em você, lembra aquele projeto de artesanato que sempre te falei, já terminei, venha até minha casa...
Essa mensagem ecoou não menos que duas horas em sua caixa de mensagem.
Ela sempre deixou de lado seu sonho para seguir uma carreira sólida, ele sabia tão bem disso, que não exitou vez alguma.
Lençóis limpos, gaveta arrumada, vinho novo a mesa, incenso, perfume suave, e a mesma bermuda sem camisa quando batem em sua porta.


Biografia:
Alexandre Engel, solteiro, natural de Rosário do sul, 24 anos, professor.
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