Login
E-mail
Senha
|Esqueceu a senha?|

  Editora


www.komedi.com.br
tel.:(19)3234.4864
 
  Texto selecionado
Ainda estou aqui
César Vergara de Almeida Martins Costa

Resumo:
O filme merece o Oscar, mas muito além disso, merece os lares e corações dos quatro cantos do mundo.

Em 2007 minha vida deu uma reviravolta.
Precisei cortar laços que me prendiam, mudar de rumo.
Em dezembro daquele ano, parti de Porto Alegre, minha cidade natal, e fui morar no Rio de Janeiro com minha mulher e dois filhos. Tivemos que deixar uma casa amada, vivemos a tristeza dos quartos vazios.
Éramos apenas uma jovem família em busca de novos horizontes, forçados a migrar para que o ciclo da renovação se completasse.
No Rio de Janeiro, provamos a alegria carioca de viver, uma espécie de magia que se dá na mistura de sol e mar salgado, entre pessoas que chiam charmosamente ao falar e sorriem para tudo.
Ao ver “Ainda estou aqui” foi inevitável lembrar daqueles anos vividos no Rio.
Meu filho voltando da quadra de futebol com os pés esfolados, às vezes uma ou outra fratura. Minha filha chegando em casa com seu coque de bailarina exausta depois das aulas de ballet na Escola Maria Olenewa, do Teatro Municipal. Coincidentemente, depois ela foi dançar na Dalau, a grande amiga de Eunice.
Naquela época minha mulher estava feliz com o curso de design de moda que fazia, meu escritório ia crescendo e eu, aos poucos, amealhando amigos. Uma família íntegra, feliz e cheia de planos. Uma alegria contagiante.
Ao assistir o filme senti como se estivessem arrancando minha família de mim. Doeu muito.
E essa dor foi se agigantando ao perceber que a história da família Paiva é uma história perene, principalmente para nós brasileiros.
Não aprendemos nada.
Inebriados pelo esquecimento, desatentos com os métodos do extremismo de direita.
Compreendi que o oito de janeiro foi como a bagunça feita pelos policiais no escritório do Rubens. Um ato de violência que está no primeiro degrau da violência fascista que nos assombra.
O filme trouxe angústia e dor ao meu peito, mas acompanhar a trajetória da Eunice, encarnada pela “entidade” Fernanda Torres trouxe também acalento, esperança.
Porque onde ainda existirem Eunices, existirá esperança.
Eunice é humanidade.
É um conjunto de valores que compõe um gigante moral: empatia, alteridade, afetividade, firmeza de caráter, solidariedade, cordialidade. Tudo aquilo de que carecemos no novo mundo do Tecnofeudalismo que nos quer como servos.
O filme merece o Oscar, mas muito além disso, merece os lares e corações dos quatro cantos do mundo. Merece penetrar nas casas alemãs, húngaras, polonesas, italianas, austríacas, venezuelanas, russas e ucranianas, israelenses e “hamasianas”, chinesas e americanas, e se espalhar como se espalham os vírus até acessar cada morada do globo.
Que todos o vejam, que todos sintam a dor, a angústia, a esperança, a dignidade e a alegria da família Paiva, para que, antes que seja tarde, ainda possamos dizer: “sorriam todos!”.

Rio de Janeiro, 28 de fevereiro de 2025
César Vergara de Almeida Martins Costa


Biografia:
Advogado
Número de vezes que este texto foi lido: 61408


Outros títulos do mesmo autor

Artigos Ainda estou aqui César Vergara de Almeida Martins Costa


Publicações de número 1 até 1 de um total de 1.


escrita@komedi.com.br © 2025
 
  Textos mais lidos
Ao calor do incenso - Flora Fernweh 61838 Visitas
DIA VINTE DE NOVEMBRO – MAIS UM DIA PARA ESQUECER - Antonio de Jesus Trovão 61784 Visitas
Perseverança ou teimosia - Patrícia 61657 Visitas
Insônia - Luiz Edmundo Alves 61554 Visitas
O pseudodemocrático prêmio literário Portugal Telecom - R.Roldan-Roldan 61546 Visitas
PERIGOS DA NOITE 4 IND 14 ANOS - paulo ricardo azmbuja fogaça 61541 Visitas
Viver! - Machado de Assis 61537 Visitas
Canção - valmir viana 61531 Visitas
A menina e o desenho - 61525 Visitas
Hoje - Waly Salomão (in memorian) 61519 Visitas

Páginas: Próxima Última