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A Criança e o Abutre
Ney Sampaio

Lá pelo meado dos anos 60 a Barra da Tijuca apresentava aspectos suburbanos e até mesmo rurais. Ruas de terra batida, animais pastando eram bastante comuns. Foi neste cenário que passei por uma experiência do gênero HITHCOCH.
Garoto mimado pela caçulice e grande diferença de idade para meu irmão do meio, estávamos nós na “casa de praia” de um parente de minha mãe. Lá tinha uma liberdade consentida para andar de bicicleta desde que não ultrapassasse os quarteirões adjacentes. No alto dos meus 10 anos isso era uma conquista e tanto!!
A bicicleta era uma Philips de freio contra-pedal e já a dominava bem... imaginava que era o meu carro e a conduzia com cuidado e atenção mas de vez em quando tentava algo do tipo “com emoção”.
Certo dia, sozinho e imbuído por uma adrenalina a mais, decidi descer a rampa que havia ao lado da boate Flamingo (hoje um condomínio de luxo) até a rua de baixo. Velocidade máxima e eis que já no meio da descida percebi um agrupamento de abutres pousados no meio da estrada. Tomado por um pânico infantil procurei o freio do guidão esquecendo que era uma contra-pedal! Tombei a bicicleta para direita e fui ralando sobre pedra e areia que compunham o pavimento, parando a alguns metros das referidas aves!... já ia chorando quando reparei que os abutres não moveram um centímetro com o movimento de meu tombo... pernas, joelhos e costas sangravam... a manha pelo sangue logo sucumbiu à ameaça dos carniceiros que avançavam em minha direção liderados por um mais atrevido! Este abria suas asas para parecer maior do que realmente era. Mais tarde fui aprender que era uma tática da espécie para intimidar a vítima na luta pela vida... Atávico instinto de sobrevivência! Levantando a pesada bicicleta, a lancei sobre aquelas agourentas abrindo caminho para fuga! Corri até a casa todo ensangüentado parecendo para meus pais um estado muito mais grave do que realmente era.
Elucidado o caso, passei a evitar o encontro com as rapineiras...
Passaram muitos anos, a gente cresce e amadurece. Descobri que, assim como aqueles abutres que agem por natureza, há também “pessoas-abutre”! Com seus espíritos grotescos agem com maledicência e ficam à espreita dos que se ferem ou são feridos para saciar seus instintos. Isso acontece na rua, no trabalho, nos relacionamentos, no amor etc. Pessoas que se tornam carniceiras movidas por frustração, inveja, egoísmo e outros atributos do lado negro da humanidade. São fáceis de reconhecer, se bem que algumas disfarçam bem. Embora não as tema, prefiro evitá-las . Contudo, se tiver que enfrentá-las, tal qual fiz aos dez anos, lanço novamente a bicicleta sobre os abutres, agora mais pesada e contundente com os acessórios que a vida me deu...





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