Login
E-mail
Senha
|Esqueceu a senha?|

  Editora


www.komedi.com.br
tel.:(19)3234.4864
 
  Texto selecionado
Ao calor do incenso
Flora Fernweh

O ritual místico que acontecia nas noites mais quentes, naquele quarto de aroma inebriante, é até hoje parte de meus sentidos. Ao longe, encontro nas mais antigas memórias sensoriais as meditações sagradas a dois, que acompanhavam o ritmo circular da dança exótica nascida de um incenso enfeitiçado, à baixa luz da lua e do abajur marroquino em cores vibrantes.

Queimava depressa a ardente paixão desconhecida, até o momento em que o vapor bipartido se transformava em um único rastro fumegante e suave, como uma centelha cada vez mais alta. Era imponente a forma como eu poderia me encaixar em você e pender para cada um dos lados, devagar e doce, tornando-me inesquecível aos seus anseios sem sequer ter proferido uma palavra distinguível entre murmúrios. O ardor de minha terra era raro e inexistente nos áridos haréns que tão desoladamente costumavas frequentar, e como uma faísca enérgica e destituída de linhagem, eu te alumiava todo um destino.

Amávamo-nos como se fosse a última das mil e uma noites, éramos bailarinos das volúpias que não se acendem ao calor do dia, aguardando o deságue em tímida mansidão, no esmaecer do crepúsculo que anunciava uma noite de delícias fugidias e de um elo inseparável entre uma alma desértica e um corpo que era oásis. Foi assim, em uma febre da lascívia, que tão despudoradamente entreguei-te minha virgindade moura, à custa de algumas joias que não aceitei.

Deixei-me levar pelos encantos do mundo árabe, em episódios que como esse, se repetiram diversas vezes depois, mas sem a sensação do primeiro contato, cuja picância lembrava uma especiaria distante de minhas reminiscências, mas tão próxima de minha infância agreste, que agora se ofuscava pela fumaça de um incenso que durava o suficiente para ser afrodisíaco do imperioso ato de amor, banhado em magia branca e adoração sublime.


Biografia:
Sobre minha pessoa, pouco sei, mas posso dizer que sou aquela que na vida anda só, que faz da escrita sua amante, que desvenda as veredas mais profundas do deserto que nela existe, que transborda suas paixões do modo mais feroz, que nunca está em lugar algum, mas que jamais deixará de ser um mistério a ser desvendado pelas ventanias. 
Número de vezes que este texto foi lido: 61908


Outros títulos do mesmo autor

Crônicas Opinião - Redação ENEM 2024 Flora Fernweh
Poesias 20/10 - Dia do Poeta Flora Fernweh
Poesias Primeva Primavera Flora Fernweh
Poesias No Princípio era o Verbo Flora Fernweh
Resenhas Latim em Pó - impressões pessoais Flora Fernweh
Crônicas Despertada no REM Flora Fernweh
Resenhas O Leitor como Metáfora - impressões pessoais Flora Fernweh
Poesias Escrever não é meu hobby Flora Fernweh
Contos Tudo o que é denso não pode ser tão alto Flora Fernweh
Crônicas O medievo que nos habita Flora Fernweh

Páginas: Primeira Anterior Próxima Última

Publicações de número 41 até 50 de um total de 447.


escrita@komedi.com.br © 2025
 
  Textos mais lidos
- Ivone Boechat 62373 Visitas
Linda Mulher - valmir viana 62364 Visitas
Jogada de menino - Ana Maria de Souza Mello 62362 Visitas
A RELAÇÃO ENTRE CIÊNCIA E ARTE, CULTURA E NÃO-CULTURA - ELVAIR GROSSI 62360 Visitas
Canção - valmir viana 62359 Visitas
Oh,filhos deste dia - Kelen Cristine N Pinto 62355 Visitas
Poema para um mortal. - Poeta do Amor 62353 Visitas
Um conto instrumental - valmir viana 62351 Visitas
Soneto Sofrido - Poeta do Amor 62346 Visitas
O pensar é dialógico e dialético - ELVAIR GROSSI 62345 Visitas

Páginas: Primeira Anterior Próxima Última