A ‘Super Máquina’ foi o seriado que veio no lugar certo, na hora certa. Não precisaria muito para perturbar a tranquilidade de um moleque nos anos 80, mas um carro falante! Era um truque barato, do tipo “tirar doce de criança”, mas a realidade é que eu caí no golpe sujo.
Nos anos 80, aquele carro conseguia me impressionar. Acostumado com Fusca, Brasília, Passat, Chevette e Opala; a ‘Super Máquina’, o veículo loquaz, me impressionou bastante. Afinal, naquela época, fora o caminhão da cândida e o carro onipresente da ‘Pamonha de Piracicaba’, não existia outro veículo que falasse. Sem falar que, ainda criança, qualquer seriado enlatado norte-americano deixaria os brasileiros — confinados no atraso da reserva de mercado, no máximo, com acesso às quinquilharias paraguaias — boquiabertos com as maravilhas tecnológicas.
Portanto, na época, seriados do Silvio Santos ainda me ludibriavam, ainda mais um automóvel com características futuristas. Eu mal sabia, isso ainda iria piorar: o “Homem do Baú” era teimoso e insistiria em destruir a minha infância com os episódios dos mexicanos ‘Chaves’ e ‘Chapolin’; e, pelo que vejo, muitos adultos não conseguiram se desintoxicar disso.
Anos depois, o meu Gol beje (86) me faria abandonar a fantasia de possuir uma super máquina. Como era inquilino constante da oficina mecânica, o meu golzinho não lembrava em nada o automóvel que falava. Com idade suficiente para enfrentar as durezas da vida real, finalmente concluí que o Silvio Santos e seu carro falante estavam me enganando com bugigangas em propagandas persuasivas que repetiam a frase imperativa: “Peça para a mamãe” ou “Peça para o papai”.
Meu carrinho, ao contrário do KITT (o carro tagarela), parecia um papagaio falso, ou seja, insistia em não pronunciar uma só palavra. O mais próximo que o “Gol quadrado” esteve de passar alguma mensagem, era quando eu conferia o para-brisa e o vidro traseiro procurando a frase escrita com o dedo: “Lave-me, por favor”.
Hoje, entretanto, a eloquente ‘Super Máquina’ da longínqua “Década Perdida” causaria tanto embaraço quanto um veículo equipado com o aviso, da ‘Car System‘: “Estou sendo roubado”. Ou aquela buzina ‘Paquerinha’ que ofende quaisquer mulheres dentro de um raio de 153 metros e distribui impropérios supostamente galanteadores.
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