A visita de Rosa
Rosa vinha todo sábado, quando o sol ainda
empunhava o seu gesto mais viril
Eu me perdia junto às formigas e taturanas
Rosa carregava consigo uma velha sombrinha
Descia a difícil ladeira
E lá da esquina ia anunciando a nós a sua chegada
Antonio detinha o seu passo de marido sempre atrasado
- Que a irmã mais velha lá embaixo esperasse
Na verdade, não tinham muitas afinidades
A irmã nascera em Córdoba, província distante da Vila Esperança
Rosa sempre quando chegava dizia:
- Nossa, Mercedes, que belo afilhado é o meu
Eu me entretinha com a terra vermelha
Escaldava-me sob o sol esturricante
De repente uma chuva fina surpreendia-nos com a sua torrente
Em conchas, eu tentava retê-la em minhas frágeis mãos
Mãos flácidas e lânguidas
A chuva fina escorria por entre os meus dedos e os meus dedos
choravam de alegria
Os meninos brincavam de bate-lata
Mãe-da-rua
Passa-anel
Lembra-me que eu perdi um anel naquele dia
Minha mãe desesperada percebia que eu não havia nascido
para a hermenêutica
A primavera reluzia
As flores matizadas enfeitavam todos os meus dias
Vovó, solerte, acariciava-me com o seu olhar distante
Eu entendia a sua sagacidade
Dividir o seu amor com outros seis filhos
Os meninos brincavam de bate-lata
Passa-anel
Lembra-me que perdi um anel naquele dia
A primavera reluzia
As flores matizadas enfeitavam todos os meus dias
Uma chuva fina entre os meus dedos
Meus dedos choravam de alegria
Era sábado
E Rosa sempre vinha nos visitar
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