A validade da relação...
A Pandemia do Corona-vírus e a necessidade de isolamento, trouxe a família um cotidiano diferente. Tarefas que antes eram delegadas, passaram a ser compartilhadas; a limpeza de casa, a comida, o cuidado com o cachorro, as plantas ou mesmo aquela plantinha na janela, enfim a família e os casais tiveram de compartilhar bem mais. Com isso, as necessidades de cada um ficaram mais expostas e a presença de todos ficou muito mais presente em todos ambientes da casa.
Para nos adequarmos a essa nova realidade foi preciso reaprender os valores, significá-los e nosso ego foi nesse momento comprimido, para caber junto com o de todos no mesmo ambiente. Todos tiveram de ver o mesmo programa de TV, ouvir aquele telefonema do amigo, o som da música do adolescente que era mais um barulho difícil de conviver, o tempo de dividir o banheiro e tudo mais.
Certo momento da Pandemia, rolou um vídeo na internet de um senhor de mais idade que falava algumas coisas e ao mesmo tempo mostrava nas mãos umas mensagens assim: Falava: está tudo bem estamos compartilhando tudo em harmonia com carinho ao mesmo tempo que abria as mãos com a mensagem: Socorro! Não aguento mais!!!, mas mostrava as mensagens de longe de todos, fingindo estar tudo bem. Como todos nós.
Enfim, somos como muitas engrenagens dentro de uma caixa de marchas rodando juntas. Duas maiores, o casal, e outras menores, os filhos, porém tão grandes em importância redistribuindo a força do conjunto desse movimento dinâmico maravilhoso da vida em família.
Muitos casais nessa repetição e compreensão do ego de cada um não aguentaram a pressão. Para isso, é preciso estar conectado ao mundo interno de cada um, o que é difícil quando tá na hora de cobrar do filho que a pia não limpa as louças sozinha e nem que o dinheiro que ficou mais difícil cai do céu.
Aquela sensação de liberdade foi ficando cada vez mais necessária a sobrevivência, como a luz em uma prisão. É preciso respirar para viver, respirar que não vem pelas vias de comunicação e nem pelas vias aéreas, mas pelas vias do prazer que a liberdade dá, nos momentos íntimos de grande contato conosco.
Sem as vias corporais desse reconhecimento, o beijo, o toque, o sexo, foi surgindo um ser vazio, com o rosto sem expressão, bloqueado por uma máscara que representava além da proteção, um ser partido e sem fala ou expressão.
A compensação desse nosso vazio, foi cobrar do outro pelas nossas dificuldades fazendo a relação tornar-se insuportável; implicâncias aqui, ali, um cede por fora até não aguentar mais de vontade de “chutar o balde”.
Para não explodir com tudo e depois ver que não era bem assim, é preciso liberar a pressão e o motivo que nos leva a insatisfação, é preciso conversar com o nosso íntimo. Compreender e ser compreendido. Nosso cachorro só de olhar para gente sabe direitinho como estamos não é mesmo?
As pessoas são diferentes, muitas vezes precisam falar com alguém para conseguir se ouvir. Somos assim mesmo, gente simplesmente.
Rodrigo Nascimento
Psicólogo Clínico. CRP 6773
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