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Ternura.
ANIBAL BENEVOLO BONORINO


A gente se reunia ao anoitecer, antes ou depois do jantar, não lembro. Era a Radio Nacional que apresentava,   sob o patrocínio de Cashmere Bouquet, uma novela de Amaral Gurgel numa canção de Lyrio Panicali : Ternura.   Até hoje lembro pedaços da letra...li nos olhos teus, à luz dos meus, num beijo dado a medo , teu amor por mim e vi assim morrer o teu segredo... Ilha do Governador –Rio -1944 –minha primeira estada na cidade maravilhosa
Gente, eu tinha seis anos.   Hoje entendo porque me esqueço de tudo, gastei a memória desde os tempos de criança. Já em Bagé, depois da novela, cada um de nós se ocupava de curtir as suas pré ou juventudes e eu a infância, que acabaria dali a pouco.
Eu, na minha vocação para ser solitário, iria ao cinema.   Não pagava entrada, cortesia dos proprietários das salas , por ser filho de um funcionário federal. Frequentava os cinemas em todas as sessões, pois não havia censura. Não por descuido, mas porque não havia o que censurar. Fazendo os cálculos com os descontos necessários,   devo ter visto mais de 2.000 filmes, naqueles oito anos de Bagé.
Na minha sina de ir embora, parti para Itaqui, minha cidade natal, bem menor que a anterior mas com a vantagem de ser invadida por um rio. Não um riozinho qualquer, mas o Uruguai, imponentemente belo, separando-nos sem preconceitos da Argentina. Esse sem preconceitos se aplicava somente ao rio. E eu, se tinha um pé atrás em relação aos “hermanos”, abandonei essa situação e adorei Buenos Aires, quando passamos um fim de ano por lá, muito tempo depois. Talvez por ter nascido na fronteira e por ter muito contato com o “castellano”, sempre ouvi e gostei de tangos e boleros. Em Itaqui tantas pessoas ocuparam meu coração, que em 2015, tive que botar um marca-passo.
Depois, passando cinco anos por Porto Alegre, onde conheci os melhores e mais bonitos cinemas da minha vida, cheguei ao Rio, um sonho realizado. Minhas alternativas eram Rio ou Nova Iorque. Por razões óbvias fiquei com a primeira. Cidade que amo há sessenta e dois anos e onde nasceram meus três filhos, minhas efetivas razões de continuar por aqui. A adoção de um português maravilha ocorreu mais recentemente.
E afinal de contas, estou contando tudo isto por qual razão? São fatos que só interessam a mim. Mas, estou relatando esses acontecimentos para que percebam a velocidade do tempo. Muitos que eram crianças, quando aqui cheguei, hoje são senhores e senhoras na terceira idade. Por isso que a terça-feira caiu no sábado e hoje eu só saio daqui amanhã.
Resta repetir, mais uma vez, Lamartine : “ ô temps suspends ton vol”.
Rio, 19/09/20


Biografia:
Nascido em Itaqui, no Rio Grande do Sul. Escrevo por prazer e gostaria de conhecer sua opinião a respeito da minmh ousadia.
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