Localizado no bairro de Santo Amaro, São Paulo, há 63 anos está a estátua de Borba Gato. Alvo de controvérsias, esse monumento resiste, com seus dez metros de argamassa, pedras, pastilhas e 20 toneladas, contemplando o infinito e protegendo o bairro dos forasteiros .
O monumento fincado numa praça da avenida Santo Amaro, divide opiniões: quanto à sua beleza (ou feiúra); a história dos bandeirantes (vilões tratados como heróis), já que Manuel de Borba Gato foi um deles; e a obra é considerada brega em comparação, por exemplo, com o Cristo Redentor, do Rio de Janeiro.
Diferentemente da concorrente carioca, a estátua paulistana não é tão bela, não é mundialmente famosa, não atrai turistas (apenas pichadores) e a ela não são atribuídos poderes sobrenaturais. Entretanto, Borba Gato de botas está sempre lá, estático, solerte e servindo de ponto de referência, com suas vestimentas de couro, chapelão e arma pronta para a guerra.
Recentemente, a representação do velho bandeirante vem sofrendo a ameaça de destituição do cargo que está exercendo há décadas. A ameaça é feita pelos Antifas (Blackblocs), porém, na internet, há uma discussão quanto a derrubada da representação do vilão nascido no século XVII. Essa tentativa, mal disfarçada, de reescrever a História já vitimou algumas obras pelo mundo: Cristóvão Colombo, EUA e Winston Churchill, Inglaterra. Este último foi acusado, postumamente, de racista -isso revela a total ignorância dos rebeldes e o simples comportamento de manada.
O monumento kitsch (maldosamente chamado de “monstrumento”) já é um patrimônio da Cidade. Por ter resistido aos anos, poluição, intempéries, vandalismo e todos os tipos de contestações e, além disso, pelo valor artístico, cultural e histórico, ele já conquistou seu espaço. Pedaço de chão conquistado sem a ajuda de João Pedro Stédile, Guilherme Boulos ou o Minha Casa Minha Vida. Se não é tão nobre, nem possui a mesma fama da Estátua da Liberdade e não está (e nunca estará) entre as Sete Maravilhas, a representação daquele que lutou a Guerra dos Emboabas, luta ano a ano e chega ao século XXI se defendendo de Blackblocs.
Nessa onda de revisionismo histórico -ou varrer para debaixo do tapete o passado ruim- pode ser solucionada de maneira menos revolucionária: mudem o seu nome, como a “cicatriz urbana” apelidada de Minhocão; ou tirem a arma e fantasiem o bravo bandeirante de mosqueteiro e ponham, espantando os adversários, em frente ao estádio do Corinthians.
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