Login
E-mail
Senha
|Esqueceu a senha?|

  Editora


www.komedi.com.br
tel.:(19)3234.4864
 
  Texto selecionado
Desembarque pelo lado esquerdo do trem
Gladyston costa

A corrida dos carros pela avenida é ruidoso e impessoal, lá dentro os rostos ocultos pelas janelas são como peixes no aquário. Pela calçada até a estação do metrô tendas, barracas, biscateiros e gente de todo o tipo. Na entrada da estação o cheiro ocre de diesel colore a cena com cinza.
- É três por cinco! Tem sempre alguém vendendo alguma coisa.
A comida é rápida e barata, pouco dinheiro é a regra e o cardápio a fome. Tem batata frita com creme no saco de papel, cachorro quente e ketchup derramando, biscoitos, balas e suco colorido na garrafa. Têm roupas e bugigangas, coisas eletrônicas, relógios reluzentes e às vezes o rapa.
Toda aquela gente apressada em seus sapatos personalizados, o social clássico de maleta e terno pretos, o encardido de sola gasta, o salto alto de saia curta, o brega, a rasteirinha e o chinelo de tiras. Os pés andam ligeiros e levam seus donos pela estação, quase correm, o ambiente é de pressa e pouco tempo.
Bilheterias à esquerda, catracas à direita, escadas que sobem e que descem,trens que vem e que vão. Fila no guichê, fila na catraca, na escada e na porta do vagão. Gente que entra e que saem como sonhos que evaporam, rostos como fleches que desmancham no ar.
- Para a sua segurança não ultrapasse a linha amarela.
No vagão pessoas em pé ou sentadas são passageiros de uma historia tão curta quanto à viagem entre as estações. As vozes se espremem pelo pouco espaço e se misturam em frases entrecortadas, dizem sobre amor, dinheiro, política, jogo, novela e fé. O movimento é constante, as estações se alternam, pessoas vão e outras vêm. Pregam, falam, calam, tem a voz que bilíngue anuncia a chegada a uma próxima estação e a clandestina que faz o pregão.
- É mais barato, é pra acabar, é um real!
A senhora com sacola, a moça bonita com fone de ouvidos, o cara de chapéu e maleta, o estudante de mochila nas costas, o leitor, o vendedor, aonde vão? Gente diferente e ao mesmo tempo tão igual. Fome, sede, sonhos e medos é gente no plural de um único rosto singular.
- Suporte aranha, a novidade, pra ver, tirar foto e filmar, sem imposto... Cinco reais!
Segue o trem, corre a cidade, desliza nos trilhos, para na estação, gente que entra e gente que sai. Um pedaço encardido de papel rouba o sossego, passou por tantas mãos com frases feitas na medida, reclama compaixão.
– comida e remédio, mãe doente e desemprego... A miséria social e a vida como ela é. Segue o trem incontinente, com pessoas, desejos e necessidades em seu insólito mercado.
- Próxima estação Sé, desembarque pelo lado esquerdo do trem, nex station Sé... Voz com locução milimétrica nos detalhes.
Quem vai e quem fica?   O trem para, a porta abre, gente sai, outras entram, a viagem segue, a vida segue.
                                                                                               Gladyston Costa


Biografia:
-
Número de vezes que este texto foi lido: 52902


Outros títulos do mesmo autor

Poesias Infarto Gladyston costa
Crônicas No trânsito, a cidade. Gladyston costa
Poesias Luz de vela Gladyston costa
Crônicas Segundos no farol e a vida Gladyston costa
Crônicas COVID 19, nem tão novo assim. Gladyston costa
Poesias A morte da velha rica Gladyston costa
Crônicas Desembarque pelo lado esquerdo do trem Gladyston costa
Crônicas O verme da razão Gladyston costa
Crônicas Insônia Gladyston costa
Poesias Gula capital Gladyston costa

Páginas: Primeira Anterior Próxima Última

Publicações de número 11 até 20 de um total de 48.


escrita@komedi.com.br © 2024
 
  Textos mais lidos
Coisas - Rogério Freitas 54631 Visitas
1 centavo - Roni Fernandes 54569 Visitas
frase 935 - Anderson C. D. de Oliveira 54558 Visitas
Ano Novo com energias renovadas - Isnar Amaral 54355 Visitas
NÃO FIQUE - Gabriel Groke 54309 Visitas
Na caminhada do amor e da caridade - Rosângela Barbosa de Souza 54289 Visitas
saudades de chorar - Rônaldy Lemos 54258 Visitas
PARA ONDE FORAM OS ESPÍRITOS DOS DINOSSAUROS? - Henrique Pompilio de Araujo 54184 Visitas
Jazz (ou Música e Tomates) - Sérgio Vale 54049 Visitas
Depressivo - PauloRockCesar 54009 Visitas

Páginas: Primeira Anterior Próxima Última