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Um banquinho, um violão, um adeus
(R.I.P João Gilberto)
Roberto Queiroz

A notícia triste se deu às três da tarde (e, para mim, foi meio que uma tragédia anunciada, vide o clima dos últimos meses).

A morte do cantor João Gilberto no último dia 6 fez eu me lembrar imediatamente do antigo comercial da cerveja Brahma que ele participou em 1991, em que cantava "pediu cerveja, pediu Brahma Chopp" e exibia ao final da campanha o símbolo que eternizou a marca (a número 1). No últimos meses João vinha mal de saúde, chegando a ser interditado judicialmente pelos próprios filhos. E a última imagem que vi dele na internet, ao lado da neta, me assustou. Não era só uma questão de idade (João faleceu aos 88 anos). Ele estava mal mesmo.

Enfim... A MPB perde um de seus maiores ícones. E a Bossa Nova seu inventor. Mais do que isso: João Gilberto foi responsável por uma grande revolução na forma como o violão passaria a ser tocado pelas gerações posterior.

Nascido em Juazeiro, na Bahia, João não era um baiano arretado, pois preferia um outro estilo de vida, mais suingado, mais clean, contido. Foi adepto da cultura "um banquinho e um violão". E dessa maneira simples conquistou multidões, não só no Brasil como no exterior também (como deixou claro o antológico show no Carnegie Hall que fez a Bossa Nova ganhar os EUA). Entretanto, era um homem complexo, de comportamento por vezes difícil, visto até como antipático por alguns. Mas nada que afetasse seu talento óbvio.

Prova disso são seus álbuns Chega de saudade (1958), O amor, o sorriso e a flor (1962) e Getz/Gilberto (1964) que redefiniram a MPB para o resto da vida. Quem é fã de boa música e não os conhece, não sabe - mesmo - o que está perdendo. Procurem no you tube urgentemente.

João foi, direta ou indiretamente, responsável pela carreira de muitos artistas de renome. Que o digam Caetano Veloso, Gilberto Gil, Gal Costa, Roberto Carlos e Os novos baianos (banda, aliás, da qual sou fã doentio, compro briga e tudo se necessário!), entre tantos outros.

Hoje muitos fãs vêem seu histórico de indisciplina e rebeldia como uma espécie de charme inerente ao artista (para muitos, um provocador). Contudo, essa mesma indisciplina já lhe trouxe dissabores os mais diversos, principalmente entre os grupos musicais aos quais pertenceu na década de 1950. Polêmicas à parte, mais vale a pena lembrar do garoto que aos 18 anos se tornou crooner da Rádio Sociedade da Bahia e anos depois, ao lado de Tom Jobim e Vinicius de Moraes estabeleceu a bossa como gênero.

Eu, confesso, custei a comprar o talento de João Gilberto. Achava-o a princípio um chato de galocha, metódico em excesso e sempre reclamando da luz, do som, do ar-condicionado... Até que ouvi sua versão de "Pra que discutir com madame" e pensei uau! esse cara sabe fazer música.

É uma pena perdermos uma figura ímpar como João numa época em que a MPB anda tão carente de boas vozes e compositores e ainda por cima flertando em demasia com o ressentimento de pessoas que não aguentam levar um fora ou terminar uma relacionamento amoroso. Que as novas gerações redescubram a obra desse gênero para que ele não morra no ostracismo de vez (algo que adoramos fazer nessa terra cheia de poses e de pouco conteúdo cultural).

Mestre, todo sucesso do mundo para o senhor (agora em outro plano espiritual). Toca "Desafinado" para eles ouvirem, toca! Num instante você vira ídolo de novo.


Biografia:
Crítico cultural, morador da Leopoldina, amante do cinema, da literatura, do teatro e da música e sempre cheio de novas ideias.
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