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O Querubim e a Alma
Martinho do Rio

Resumo:
Eduardinho era um querubim que habitava o céu.

Martinho do Rio

O Querubim e a Alma




Eduardinho era um querubim que habitava o céu. Naquele dia encontrava-se sobre uma pequena nuvem branca e era de lá que observava a Terra com curiosidade e muita inveja. Via os meninos da Terra a brincarem com alegria os seus jogos infantis e ele sem nunca poder acompanhá-los. Eduardinho estava proibido de ir á Terra. Ainda era um querubim e só quando fosse mais velho e tivesse ascendido á categoria de anjo o podia fazer. Até lá teria ainda que aprender muito. No céu ele não tinha muitas oportunidades de brincar. Claro que havia outros querubins como ele, mas as regras no céu eram muito severas e os querubins só tinham licença de brincarem depois de terem aprendido as lições na ponta da língua. Não era como os meninos na Terra que podiam brincar mesmo quando chumbavam nos exames. Ali não ! No céu quem não sabia a lição ficava de castigo. E Eduardinho já tinha apanhado a sua dose de castigos. Por isso é que olhava com tanta inveja as brincadeiras dos meninos na Terra. Via-os a brincar a correrem e a saltarem, a inventarem novos jogos, sempre diferentes uns dos outros, mostrando uma imaginação quase sem limites. No céu não era assim; mesmo quando podiam brincar havia sempre limites. O anjo custódio estava sempre a vigiá-los e não os deixava pôr o pé em ramo verde. Quando Eduardinho inventava novos jogos o anjo testava-os e, se não concordava, impedia-os de jogarem. Era uma enorme maçada e essa era uma das razões, - senão a principal -, porque se sentia frustrado. Todas as suas novas ideias, toda a sua imaginação, toda a sua criação eram limitadas ás conveniências e ás regras do anjo custódio. Ele dizia sempre que era para seu bem, que todas aquelas limitações e regras eram para ele adquirir disciplina; mas ele não o ouvia e só pensava nas brincadeiras sem limites e dos jogos dos meninos da Terra. Por isso, Eduardinho naquele dia, estava sobre aquela nuvem e pensava com tristeza porque era que não tinha nascido antes na Terra, em vez de ser como era, um querubim no céu. Uma lágrima de tristeza e de raiva deslizou-lhe pela bochecha gorda e ele num assomo de audácia e de desafio, inclinou o mais que pode a cabeça e o corpo para fora da nuvem, sentindo irresistivelmente o apelo do planeta que girava por debaixo dele. Uma voz ansiosa soou então atrás dele :
- O que é que estás a fazer ?
Eduardinho corou e sentiu uma raiva surda por ter sido apanhado a fazer uma asneira. Voltou-se e deu de caras com uma menina que tinha mais ou menos a sua idade, embora os querubins não contassem a idade da mesma maneira que os humanos.
- O que é que tu queres ?
Perguntou-lhe ele com um ar zangado.
A menina respondeu-lhe com mais uma pergunta :
- Porque é que estavas tão inclinado para fora da nuvem ?
Sentiu-se corar novamente e intimidado com a pergunta balbuciou :
- Eu...nada...só estava a ver.
Ela franziu a testa e durante alguns segundos permaneceu séria, fazendo com que o coração de Eduardinho batesse ainda com mais força. Será que ela o ia denunciar...Mas um sorriso abriu-se-lhe na boca e ela falou num tom alegre :
- Já sei o que estavas a fazer. Ás vezes também faço como tu, também me inclino, embora não tanto como estavas a inclinar-te agora. É tão bom sentir a atracção da Terra...parece...parece...que vamos mesmo cair lá embaixo.
- Também gostas de te inclinares ?
Perguntou o Eduardinho admirado. Antes de lhe responder ela olhou para trás e para os lados, como se quisesse certificar-se que ninguém os estava a ouvir. Só depois disto feito é que respondeu num tom baixo quase conspirativo :
- É tão bom. Faço-o muitas vezes, mas só quando estou sozinha. O anjo custódio já me castigou mais do que uma vez quando descobriu que eu fazia isso.
Eduardinho estava de boca aberta. Uma menina a fazer isso...! A fazer o mesmo que ele...! A arriscar-se a um castigo como ele...! Impossível ! Mas quem era ela ? E de onde tinha vindo ?
- Quem és tu ? Não te conheço...nunca te vi por aqui...
Ela baixou os olhos como se tivesse ficado intimidada com a pergunta dele. Mas foi sol de pouca dura, porque logo os levantou e com um sorriso na boca respondeu-lhe :
- Sou uma alma. Uma alma que ainda não nasceu.
Eduardinho soltou um suspiro de alivio. Uma alma...ainda por cima não nascida...mas, que fazia ela por ali ?
- Não estás muito longe do local das almas não nascidas ?
Foi a vez dela corar antes de responder :
- Eu sei que estou longe. Mas não consigo resistir a vir até aqui. É mais forte do que eu.
Eduardinho sorriu. Não ia denunciá-la, era incapaz de fazer isso. Mas, se ela fosse apanhada, arriscava-se a um severo castigo. E ele também, porque já estava ali à muito tempo. O melhor era voltarem quanto antes.
- O melhor é voltarmos antes que nos apanhem.
Sugeriu ele. E começou a andar.
Mas ela não o seguiu e gritou-lhe nas suas costas :
- Espere !
Ele parou e voltou-se admirado.
- Espero...porquê ?
Em vez de responder-lhe ela saltou para a pequena nuvem e começou imediatamente a inclinar-se, devagar, num movimento lento que mal se notava. O pequeno corpo debruçou-se tanto que a sua cabeça ficou uns bons centímetros para lá do limite da pequena nuvem; e foi então que ela gritou :
- UUUAAAUUU !!!
E abriu os braços como se fosse um avião.
Ele estava de olhos esbugalhados, nunca tinha feito uma coisa como aquela...Ela com os braços completamente abertos rodava o corpo como um avião no ar, ao mesmo tempo que a sua boca imitava o ruído do motor :
- RRRRR...
Os braços abertos inclinavam-se ora para um lado, ora para o outro. Numa imitação perfeita do voo dum avião.
- É tão bom -, dizia ela com os olhos a brilharem-lhe de prazer - Parece que estou mesmo a voar.
Ele continuava de boca aberta. A estupefacção era tanta que não conseguia falar.
- Tu fazes sempre isso ? quando vens para aqui ?
Perguntou ele quando conseguiu arranjar voz.
- Sempre -. Respondeu ela com os olhos ainda iluminados de felicidade -. Só assim é que tem graça.
Ele começou a sentir o pecado da inveja a invadir-lhe o coração. Ele nunca tinha feito nada igual àquilo. Quando ia para aquela nuvem era só para ver os meninos da Terra a brincarem. E só se inclinava o suficiente para ver. Agora fazer aquilo por prazer... ainda por cima uma menina...era demais para o seu orgulho.
- Eu também quero fazer isso !
Disse ele endireitando bem a cabeça.
Ela olhou para ele e respondeu com um sorriso :
- Claro. Experimenta.
Não foi necessário que ela repetisse o convite. Ele saltou para a nuvem e colocou-se ao lado dela inclinando-se para a frente e abrindo também os braços.
- UUUAAAUUU ! É maravilhoso !
Logo a seguir inebriado pela experiência começou também a imitar o ruído do motor dum avião :
-RRRRR...
- É bom não é ?
Perguntou ela virando o rosto radioso de felicidade para ele.
- É óptimo, nunca tinha sentido uma sensação tão boa como esta.
De braços estendidos Eduardinho voava como os aviões que de vez enquanto entrevia entre as nuvens. Sempre invejara as pessoas que voavam dentro deles, ele, que não podia ainda voar. O seu curso de voo só começaria no ano seguinte; até lá estava impedido, sob severo castigo, de sequer tentar. E até ali ainda não tentara. O medo de uma severa punição fora sempre mais forte.
- E se nós tentássemos...
Ela abriu muito os olhos e perguntou :
- O quê ?
Ele hesitou e durante alguns segundos olhou para ela sem responder. Depois, o que viu nos seus olhos, quebrou-lhe de repente todas as hesitações.
- Voar...voar pelo céu através das nuvens.
- Voar...
- Sim, voar...voar como um pássaro, como um avião.
- Mas...não é proibido ?
- É proibido é verdade. Mas temos aqui a nossa oportunidade, ainda por cima ninguém está a ver...
Ela olhou-o com um ar hesitante. O medo de ser castigada impedi-a de decidir-se. E não era de somenos, quem voasse sem o consentimento do anjo custódio era severamente punido. E podia, se o anjo custódio assim o decidisse, ver adiada durante algum tempo a sua promoção a anjo. Quanto ás almas, podiam ter que passar, como castigo, algum tempo no purgatório. E essa era uma perspectiva que ela não queria sequer encarar.
- Tenho medo.
- Medo ? Porquê ? Ninguém está a ver, estamos aqui sozinhos. Ninguém vai saber.
Ela olhou para trás e para os lados, temendo que alguém estivesse naquele momento a espreitar.
- Não sei. Não sei se faremos bem em voar.
Desta vez ele olhou-a com um ar superior e um sorriso escarninho surgiu-lhe repentinamente nos lábios.
- Então onde está essa tua coragem, essa tua valentia que demonstraste ter á bocado?
Não sabemos se foi o ar superior que ele lhe fez, ou o sorriso irritante que ostentava que a decidiu. Ela impertigou-se e, num salto decidido, caiu a pés juntos na pequena nuvem.
- Sabes voar ? Eu ainda não aprendi.
Disse ela virando-se para ele.
Eduardinho sorriu outra vez. Ele sabia voar, pelo menos julgava que sabia, tinha visto quase todas as lições que os anjos professores tinham dado aos querubins mais adiantados que ele. E só esse facto, de saber voar, e ela não saber, era uma vantagem que ele não queria desperdiçar.
- É muito simples. Estendemos as asas e deixamo-nos levar pelo vento.
- É só isso ? Estendermos as asas e deixarmo-nos levar pelo vento ?
Mais uma vez sorriu para ela. Ele não tinha a certeza, mas não queria que ela percebesse isso. Não queria, agora que sabia estar por cima, perder a vantagem que ganhara com tanto custo. Mas no seu intimo temia pelo que ia suceder, porque tinha consciência que não fazia a mínima ideia como era voar. As lições que tinha visto não englobavam as aulas teóricas, apenas as práticas; e nessas ele nunca tinha participado.
- É apenas isso, estendermos as asas e deixarmo-nos levar pelo vento.
Ela deitou-lhe o seu mais belo sorriso e abriu completamente as asas. Depois, aproveitando uma súbita rabanada de vento, deixou-se levar por ele. Eduardinho seguiu-a e já no ar deram as mãos. Depois o vento levou-os para as alturas e a pequena nuvem onde tinham estado tornou-se cada vez mais pequena.
- Oh...! É maravilhoso...nunca tinha sentido nada de parecido !
Exclamou ela com os olhos a brilharem de felicidade.
Eduardinho com as bochechas vermelhas e também a brilharem de felicidade exclamou por sua vez :
- É bom não é ? E estavas tu ainda a hesitar.
O vento continuava a levá-los sempre para cima e em breve confundiam-se com o azul forte do céu. Bem lá no alto, muito mais acima, o grande sol amarelo espraiava os seus raios quentes e compridos aquecendo com eles a Terra. Onde os meninos que Eduardinho invejava, continuavam as suas brincadeiras, sem sequer se aperceberem da extraordinária aventura que se desenrolava muito acima deles.
Eduardinho sentia-se feliz como nunca se tinha sentido até ali. Não era só por sentir o vento e o calor do sol a queimar-lhe a cara e o corpo. Era também e principalmente por ter a noção que quebrara um tabu. Não há nada que nos deixe mais feliz, que nos empole mais a alma, que quebrar uma regra ou um tabu que achamos injusto. É quase igual á alegria que sentimos quando recebemos pela primeira vez um presente de Natal. É uma felicidade e uma alegria inimaginável. Eduardinho sentia-se assim: Inebriado de felicidade. Completamente embriagado. Pela primeira vez sentia-se livre, tão livre como qualquer pássaro. E foi essa liberdade que o levou a cometer o seu primeiro erro. Resolveu imitar um avião. Abriu as asas o mais que pôde e começou a imitar o ruído do motor dum avião:
-RRRRRR...
A alma que continuava ao seu lado sorriu e imitou-o :
-RRRR...
Pareciam dois super-constellations carregados de passageiros a cruzarem os céus.
Só que Eduardinho queria mais. Queria imitar aqueles caças que tinha visto combater na segunda guerra mundial. E eles quando atacavam picavam sempre como falcões sobre o caça inimigo. E ele sempre se perguntara qual seria a sensação de voar daquela maneira. A velocidade devia ser estonteante e ele queria conhecer e sentir essa velocidade. Olhou para a alma que continuava ao seu lado e fez-lhe sinal que ia para baixo; dobrou o corpo e apontou-o para terra. No segundo seguinte parecia uma bala a correr na direcção do solo.
- Para onde é que tu vais !
Gritou-lhe ela assustada.
Eduardinho não a ouviu empolgado com o grito do vento que lhe assobiava aos ouvidos. O solo aproximava-se a toda a velocidade e ele começou a assustar-se. Tentou torcer o corpo, mas a velocidade era tanta, que ele já não conseguia controlá-la. Tinha entrado num remoinho em forma de funil que o atraía irresistivelmente para o solo. De repente sentiu um grande medo e a ousadia do que tinha feito apareceu-lhe em toda a sua clareza. Faltava-lhe experiência, faltavam-lhe sobretudo as lições. Ele ainda não sabia voar. Ninguém nasce ensinado e só agora ele percebia a utilidade das lições. Olhou para cima e o seu grito desesperado ecoou como um sino aos ouvidos da alma :
- Socorro ! !
Mas a alma estava longe, muito lá em cima e não podia fazer nada para o ajudar. Eduardinho sentiu que estava perdido ia esmagar-se no solo e, quem sabe, talvez até morrer. Se os querubins pudessem morrer. Fechou os olhos e preparou-se para o inevitável. Então qualquer coisa sucedeu, alguma coisa o agarrou, uma mão forte que evitou que ele batesse com força no solo. E essa mesma mão trouxe-o são e salvo para cima, para junto da alma; que, angustiada, tinha tapado a cara com as mãos para não ver a sua morte inevitável.
- Obrigado.
Disse ele ainda de olhos fechados. Quando os abriu viu a cara brilhante do anjo custódio a poucos centímetros da sua. Tinha sido ele que o tinha salvo. A boca do anjo sorria-lhe, mas a sua testa estava franzida e o seu olhar denotava preocupação.
- Não tens emenda Eduardinho.
Disse-lhe o anjo num tom preocupado.
Eduardinho corou e balbuciou uma desculpa. Sentia que o seu corpo tremia e as lágrimas escorriam inundando-lhe as bochechas.
- Eduardinho !
O grito da alma chegou-lhe aos ouvidos e ele viu-a pousar á sua frente.
- Tive tanto medo...parecia que ias morrer.
- Morrer...- disse o anjo custódio -, os querubins não morrem. - E num tom quase irónico acrescentou : - Embora ás vezes também devessem morrer.
Eduardinho corou outra vez e baixou os olhos.
- A culpa foi toda minha. Eu é que a levei a fazer isto.
O anjo custódio sorriu bondoso :
- Eu sei, conheço-te bem, e espero que o que te aconteceu hoje te tenha servido de lição.
Olhou de seguida para a alma.
- E a ti também.
Depois num tom firme ordenou-lhe :
- Agora volta para o lugar onde pertences.
Ela baixou os olhos obediente e quando se preparava para partir hesitou. Virou-se para o anjo e, num tom implorativo, pediu :
- Posso dar-lhe um beijo antes de me ir embora ?
O anjo custódio hesitou. Os beijos não eram muito bem vistos no céu. Desde que o filho de Deus feito homem tinha sido traído por um beijo eles tinham sido a partir daí votados ao ostracismo. Embora alguns santos, anjos e almas, continuassem a beijar-se ás escondidas. Era muito difícil perder um hábito que estava á muito tempo enraizado no céu e na Terra.
- Está bem, mas que seja discreto.
Ela sorriu e a sua boca colou-se á bochecha gorda de Eduardinho. O beijo foi de tal forma sonoro que o anjo custódio sem querer corou.
- Agora vai-te embora.
Ordenou ele.
Antes de partir ela ainda se virou para assoprar um beijo na direcção dele.
- Ela é muito impertinente, não é ?
- O que é que lhe vai suceder ?
Perguntou o Eduardinho preocupado.
- A ela não vai suceder nada de especial. Está pronta para nascer e, se Deus quiser, vais servir-lhe de anjo da guarda.
A novidade era tão forte que ele abriu a boca de espanto. “Anjo da guarda...vou ser anjo da guarda...e eu que pensava que eles me queriam para anjo custódio de querubins...mas anjo da guarda é melhor e ainda por cima vou ser anjo da guarda dela...Eduardinho sorriu estava a safar-se melhor do que pensava.
- Mas antes que isso aconteça tens um castigo a cumprir.
O sorriso apagou-se-lhe imediatamente e mentalmente preparou-se para o pior.
- Percebeste o que te aconteceu ? Percebeste porque é que no céu existe a disciplina e porque é que as regras são para se cumprirem ?
Ele baixou os olhos envergonhado. Pelo menos entendia para que é que serviam os cursos de voo, o susto que apanhara servira ao menos para isso. Quanto ao resto, ainda estava longe de perceber para que é que serviam todas aquelas regras. Havia muitas que para ele não faziam sentido.
- Os meninos da Terra brincam quando querem, mesmo quando fazem asneiras.
- Isso não é verdade. Os meninos da Terra também cumprem regras. É verdade que parecem ter mais liberdade. Mas isso acontece porque no céu a responsabilidade é maior. Não te esqueças que somos nós que velamos pela humanidade.
Eduardinho suspirou. Isso de velar pela humanidade parecia-lhe uma tarefa cansativa e muito difícil.
- Porque é que eles não se guardam a si mesmos ?
O anjo custódio sorriu com a ingenuidade dele.
- Os homens nunca gostaram de ser responsáveis por si mesmos. Sempre arranjaram alibis e desculpas para as asneiras que fazem. Porque é que julgas que eles nos criaram ? É verdade. Nós existimos porque eles nos inventaram. Precisavam dum poder, duma força superior que os guardasse e lhes perdoasse todas as asneiras que fazem. Nós somos uma criação da humanidade, nunca existiríamos se eles não acreditassem piamente em nós.
- Os homens inventaram-nos...
Repetiu ele ainda chocado com o que ouvira.
- É verdade, acredita. Eles inventaram tudo isto.
E com a mão fez um gesto largo apontando todo o céu.
- Eles inventaram o céu, os anjos, os santos e as almas. Tudo isto foram eles que criaram.
Ele engoliu em seco custava-lhe acreditar em tudo aquilo. Mas o anjo custódio parecia sincero. De repente sentiu imensa sede.
- Estou com sede.
O anjo custódio deu-lhe a mão e começaram caminhar.
- Já é tarde e há horários a cumprir.
Enquanto caminhavam uma pergunta importante começou a bailar-lhe na mente e em breve bailava-lhe também na ponta da língua. Mas ele não tinha coragem de perguntar, porque era uma pergunta perigosa e que se poderia considerar até blasfema. Mas os seu nervosismo era tanto que o anjo acabou por notar a sua inquietação.
- O que é que se passa Eduardinho ? Estás com medo do castigo ?
Ele olhou para o anjo com uma cara ansiosa e algumas gotas de suor impudicas brilharam como pedras preciosas nas suas bochechas gordas. A pergunta era de tal forma assustadora que ele não conseguia encontrar voz suficiente para poder falar. Só ao fim dum grande esforço, conseguiu por fim sussurrar :
- E Deus, também foi criado pelos homens ?




Biografia:
Escritor com o primeiro livro já publicado
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