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Jezebel
Mario Bourges

Impressionada estava eu assim que vi a paisagem pela primeira vez da janela do quarto onde me localizava. Havia ao longe uma porção de coisas bonitas, o céu bem azul, o mar tranqüilo com suas águas projetando aos olhares enfeitiçados, um incrível azul turquesa, areias brancas me convidando para caminhar nelas, árvores frondosas, flores, muitas flores espalhadas pela mata onde estava localizada a casa da qual se encontrava. Uma grande variedade de pássaros e insetos voava e caminhava pela região. Tudo era festa, tudo era alegria.

Mas apesar de conseguir ver toda esta maravilha não conseguia me deslocar até lá para sentir tudo isso sob meus pés. Encontrava-me imóvel e não tinha como atender meus mais profundos desejos. Eu realmente precisava de alguém para me colocar à disposição da natureza. Certamente, se isso acontecesse de verdade, seria o ser mais feliz do mundo. Contudo, precisaria da boa-vontade de um outro alguém para que tal desejo se realizasse.

Certa vez, enquanto eu olhava um pequeno passarinho fazendo umas piruetas no céu alguém, que não pude ver quem, atendeu meu silencioso pedido. Expôs-me, enfim, direto onde queria, na natureza. Lá eu, dentro de minhas limitações, me agitava e dava gargalhadas sob o sol que, gentilmente queimava minha pele. Sendo ela um pouco áspera pela falta de cuidados. Mas isto não me incomodava naquele momento, pois estava realizando um desejo e um sonho meu; ficar sob o sol, ficar sobre a areia fofa e ver o mar de perto, como sempre quis.

Porém, vi o tempo mudar gradativamente. O vento, que outrora soprava como carícia, soprava agora como vendaval. Forte e colossal. O céu azul deu espaço para o cinza das nuvens pesadas, carregadas de ira e ribombando feito loucas pelo mundo. Os pássaros já não voavam mais tão tranquilamente assim. Agitação entre os animais e os insetos mais variados me causou aflição. Queria, realmente eu queria, mas não podia fazer nada para mudar a situação.

De repente o mundo caiu sobre mim, chuvas fortes vieram acompanhadas com os mais temíveis ventos. Caí então. Logicamente que sem ação. Ninguém lembrou de mim. Fiquei à mercê da natureza. Contudo, senti que não seria meu fim. Afinal de contas aquilo era um pedido meu; ficar sob o sol, ainda que o ser supremo tivesse desaparecido naquele instante, e naquela época. Durante muito tempo fiquei no relento, sem ação ou reação. Estava inerte.

Um bom tempo após esta quase catástrofe a forte chuva cessou, os ventos pararam, o sol volto a aparecer e a vida reinou naquele ambiente. Embora eu estive ensopado, debilitado e com as pernas arqueadas, mais que o normal, estava contente. Loucura? Pode ser, mas tive o prazer de sentir a força da vida sobre mim. Situação esta que me deixou animada para, se caso fosse, morrer por lá mesmo e servir de alimento a outros seres, de tão feliz que me encontrava. Apesar de que, nem todos os seres gostarem de meu corpo.

E quando eu começava a ficar melancólica e desanimada, por ninguém dar a mínima pela minha falta, alguém, que também não pude ver quem, me pegou com carinho e me levou para dentro de casa novamente. Consternada com a situação em que me encontrava, a tal pessoa tratou de me cuidar. Pegou algum material e trabalhou em mim, com carinho e afeição. Disse-me, em segredo, que aquilo que tivera feito a mim era um teste, e completou dizendo que eu tinha passado nele. E assim sendo cuidaria de mim como quem cuida de algo bastante precioso. Com zelo. Depois que ganhei cuidados especiais recebi até um nome; hoje em dia eu sou a cadeira que se chama Jezebel.


Biografia:
Sou jornalista de formatura, fotógrafo na prática e escrevo sempre que me é possível, pois vejo nesta atividade uma válvula de escape do cotidiano.
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Publicações de número 11 até 18 de um total de 18.


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