E o céu se abriu em azul, sem vergonha. As flores se juntaram promiscuas. Vermelhas, amarelas, brancas, fechadas e abertas , com e sem espinhos ( os guarda- costas de suas belezas).
Sentem-se seus perfumes, mas as maçãs perfumam mais. Só para nos lembrar que Eva sabia muito bem o que estava fazendo.
Com os braços imensamente abertos, recebamos a nova estação, felizes por Deus ter cumprido sua promessa, aquela de sempre, a de nós enviar flores ao final do inverno.
Com todo esse incentivo voltam-me as ganas de arrebentar as amarras que me prendem ao cais da minha vida. E então navegar não só pelos mares, mas pelo verde dos campos virgens, pelas ruelas tortuosas, poéticas, das cidades esquecidas. Para ouvir as sonatas do vento, norte, sul ou qualquer outro, nas folhas das árvores entortadas pelo tempo. E, também, os cantos de dourados pássaros incomuns e, por fim, o batucar das gotas da chuva nos telhados.
Sentem-se alguns de vocês, também assim? Isso não é sintoma de apego ao passado nem de fuga à realidade. É identificar que somos todos poetas diante da beleza da paisagem, do gesto, do que se ouve pelo que os outros falam e pelo que praticam no caminho do bem.
Estendamos, pois, as mãos para quem está por perto, tragam para junto, quem está separado, sem preconceito aos calos e às temperaturas. Transformemos a proximidade num abraço e sintamos o melhor calor de que se tem notícia, o calor do amor.
P.S. Spellbound, como sabem, quer dizer enfeitiçado, fascinado... mas o filme de Hitchcock, com esse título, teve a versão brasileira apresentada como “ Quando fala o coração”, bem melhor do que o original.
Rio, 30/09/2018
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