Login
Editora
|
|
Texto selecionado
AUTÓFAGA |
(sextina: fome, carne, pele, mente, toque, mesma) |
Ricardo Cunha Costa |
AUTÓFAGA
Das entranhas lhe vem estranha fome
Que lhe consome toda a sua carne.
Frêmitos de sentir-se à flor da pele
Lhe agitam os desvãos da vaga mente
Ao perceber-se entregue ao próprio toque,
N'uma exploração húmida em si mesma.
Os dedos que percorrem a alma mesma
Têm no êxtase o saciar d'aquela fome
Certa de que, no corpo, o ser se toque.
Assim, a aura que envolve a nua carne
Revele-lhe os recônditos da mente
Em seu dedilhar de harpas pela pele.
Exsude todo o ser por sobre a pele
E, entorpecida, saía de si mesma
No alheamento de quanto tinha em mente.
Autófaga, de si sentia fome...
Era o saciar da carne pela carne
Ao s'entreter consigo em suave toque.
Das entranhas se vê estranha ao toque
Que lhe provoque ardor em toda a pele
E lhe revele a si apenas carne...
Não obstante, perceba-se ela mesma
Como fome de si a sua fome
A ponto de absorver de todo a mente.
Incerta se de pele ou se de mente
Sua explosão de si àquele toque;
D'ela trazer consigo tanta fome.
Incerta se de mente ou se de pele,
Resta-lhe conhecer-se ora a si mesma
No afã de se sentir na própria carne!...
Entenda-se na fome em sua carne,
-- O que for: seja pele; seja mente --
Ser ela toda ao toque d'ela mesma.
Betim - 13 04 2018
|
Biografia: Escrevo. Gosto de escrever. Se sou escritor ou poeta, eu deixo para o leitor ponderar. |
Número de vezes que este texto foi lido: 52891 |
Outros títulos do mesmo autor
Publicações de número 41 até 41 de um total de 41.
|
|
|
Textos mais lidos
|