Passo os dias jogando e fumando, sinto que estou desperdiçando minha existência, as vezes penso em sair, quando saio percebo que esse mundo se tornou hostil a mim; as conversas cotidianas e apressadas se tornaram verdadeiros pesos em minha alma, as formalidades de gestos exagerados e exaltações desproporcionais passaram a me causar náuseas morais terríveis, passo o tempo todo a me perguntar quando eu vou me levantar de dentro de min mesmo e reassumir o controle de minha vida, deixei os outros se tornarem o motor e capitão de mim, agora eu daria tudo por um gole de realidade mas ser real é como cortar a própria carne, na verdade a culpa não é do mundo nem dos homens, a culpa é minha, eu me matei aos poucos, fui fazendo concessões em minha personalidade até o ponto de não saber mais quem eu sou, fora tudo isso me sinto superior a todos, pois me parece que sou o único que sabe que toda aquela felicidade é falsa, sou o único que sabe que as caras e gestos nada mais são que mascaras para esconder os monstros que somos, e como tememos nos reconhecer no monstro mas como podemos saber a verdadeira face da criatura se ele só existe entre as sombras, a simples constatação de sua existência nos torna inseguros diante da chamada “vida normal”, talvez por conta disso os grandes homens sempre souberam muito bem esconde-lo no mais fundo possível e encontraram conforto na vida em sociedade e nas suas manifestações que nada tem em sua essência, elas existem apenas em aparência assim como alguns homens.
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