Podia?
Caber na brisa, ser do tamanho dela?
Inspirar o mundo em flores,
expirar como se nele tudo coubesse, leve.
Olhar, toque macio e devagarinho.
Andar pela vida como se fosse líquida,
coisa delicada, miúda, quebradiça.
Falar experimentando as palavras,
como se fosse pela primeira vez, sempre?
Amar mesmo com amor,
bicho, folha, terra e pedra, gente?
Podia, deslizar-se pelo mundo,
sem a certeza da queda,
sem medo dela?
Podia, cantar sem ter que ser bonito
Dançar sem ter que ser medido,
Poesia sem ter que ser rimado?
Mundo de almas sem corpo,
mais que mundo de corpo sem almas.
Podia?
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