Pergunto à estatua porque tão alta
tão grande
ela não sabe me explicar
me diz do cimento
da tinta
da espátula a lhe esculpir
me fala
sem sorrir
que mãe não tem e pai nem existe
não sabe porque insiste
o homem a lhe lavar às sextas-feiras
os olhos parados e duro
postos em direção ao muro
onde os pombos pousam e cagam
pergunto o que faz ali
ela me diz que não sabe do seu existir
apenas permanece ereta
com um franzir de testa
como se isso lhe fosse um aspecto
de algo pensante ou político
nem de onde veio ela sabe
se das dunas
se de Algarve
eu me vou descontente
por não saber como pensa e fala
sem mover os dentes
me afasto e a deixo só
mesmo que ainda me dê um nó
na voz quando digo o nome
dessa força material
aceno
sumo na bruma de inverno
mesmo que diferente
porém igual...

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