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Contentamento
wilhelmus à Brakel


Título original: Contentment

Extraído de The Christians Reasonable Service

Por Wilhelmus à Brakel (1635-1711)

Traduzido, Adaptado e
Editado por Silvio Dutra


Introdução do Tradutor

Já ouvi várias vezes ser pronunciado que o verdadeiro contentamento é algo impossível, pelo menos enquanto vivermos neste mundo de trevas e pecado.
Quantas vezes, eu mesmo abriguei em meu coração expectativas de ser alegrado e ficar satisfeito em determinados projetos, que no fim deram em grande frustração.
Todavia, estes eventos são uma causa real para a anulação de um verdadeiro contentamento?
Creio que esta pergunta será plenamente respondida à medida que o leitor se dedicar em meditar nas verdades que são reveladas neste livro.
Não a título de antecipação, mas para expor minha própria experiência, tenho aprendido ao longo dos anos que quanto mais colocamos nossa esperança de contentamento na criatura, é quase certo que sempre seremos frustrados no processo.
A Bíblia e especificamente o ensino de nosso Senhor Jesus Cristo e dos Seus apóstolos revelam claramente, que é em Deus somente que deve ser colocada a nossa expectativa de contentamento, e esta deve excluir totalmente o tratamento que recebemos de pessoas ou das circunstâncias que tenhamos que enfrentar.
Quando nosso Senhor estava consolando os apóstolos com suas últimas palavras em Seu ministério terreno, Ele lhes disse que, para que a alegria deles fosse completa deveriam começar a se dirigir ao Pai fazendo-lhe petições. Veja que Ele associou o contentamento, à relação deles com Deus e não a qualquer outro motivo.
O apóstolo Paulo afirma, que é no Senhor que deve estar o motivo da nossa alegria.
Em muitas outras passagens encontramos a mesma orientação para o referido propósito.
Então, enquanto ficamos entristecidos ou frustrados e descontentes pelas circunstâncias, ou pelas criaturas em nosso relacionamento com elas, é porque ainda não aprendemos a grande lição de estarmos contentes em toda e qualquer situação, porque o nosso foco de alegria deve estar direcionado somente para Deus e nada mais.
Viver de expectativas de alegrias terrenas, e de cavarmos aqui o nosso contentamento, certamente trará muito abatimento e descontentamento de espírito, que muitas vezes impedirá que continuemos na prática do bem com o coração aberto e alegre, amando até mesmo os que nos frustram ou maltratam, em razão do nosso foco no amor de Deus e em nosso dever de dar um bom testemunho de fé, de amor e alegria em tudo o que possamos estar sofrendo neste mundo.
É por isso que a ordenança bíblica pode ser “alegrai-vos sempre no Senhor”, e também, “em tudo dai graças”, pois se dependêssemos de circunstâncias favoráveis e agradáveis para sermos encontrados contentes em espírito, tal ordenança seria simplesmente impossível de ser vivida, pois somos afligidos por diversas provações.
Somos ordenados a fazer todas as coisas com amor e não como para os homens, mas para Deus, ou seja, para agradar a Deus e não aos homens, e nem mesmo para buscarmos agrado para nós mesmos.
Se Noé fosse construir a arca naqueles 120 anos contando com o aplauso, a gratidão ou a aprovação dos homens, é bem certo que jamais a teria construído, pois deve ter sofrido oposição até mesmo dentro de sua família, por ter se entregado à realização de um projeto que aos olhos de todos parecia uma loucura.
Assim, também nós se formos esperar sermos reconhecidos, amados, e ter o agradecimento e a aprovação dos homens nos projetos que realizamos para Deus é bem certo que iremos parar no meio do caminho, porque toda obra que proceda verdadeiramente de Deus sempre fica sujeitada a grandes oposições, porque é uma lei; que onde há a fé, esta deve sempre ser provada.
Mas, deixemos a palavra com Wilhelmus à Brakel para sermos melhor instruídos neste fascinante e tão proveitoso caminho, que tem muito a ver com nossa vida real e cotidiana, se é nosso desejo viver de modo esclarecido e aprovado diante de Deus e dos homens.


Introdução do Autor

Uma vez que a profissão da verdade geralmente tem um efeito adverso sobre as questões temporais que impedem tantos de serem ousados em sua profissão, é necessário, portanto que resistamos a essa adversidade e estejamos satisfeitos com a vontade de Deus em relação às circunstâncias temporais. Isso vamos discutir agora.
A palavra "contentamento" em hebraico é “dai”, isto é, “plenitude, abundância e suficiência”. Frequentemente esta palavra é atribuída a Deus. O Senhor se chama (El Shaddai), isto é, o Deus que possui tudo e a todos.
É capaz de trazer tudo de Sua plenitude. É geralmente traduzido como "o Todo-Poderoso". Em grego, a palavra é (autarkeia), que é composta por duas palavras: ser suficiente e – si mesmo. Isto, é indicativo de ter suficiência por nós mesmos ou para nós mesmos, pois ninguém pode se contentar se não tiver o suficiente, e nós temos bastante se já não desejarmos qualquer coisa. Assim, “contentamento” não consiste na multidão de posses, mas no cumprimento do desejo. Se o desejo é grande, então muito é necessário para a realização deste desejo; se for pequeno, só um pouco será suficiente. Um pouco vai encher uma pequena garrafa, e muito é necessário para encher um grande barril. O homem precisa senão de pouco para viver no serviço de Deus, e se seus desejos são proporcionais com o que precisa, um pouco é suficiente para preencher seus desejos e seu estômago.
O contentamento é uma virtude cristã consistindo numa correspondência entre o desejo dos filhos de Deus e as suas circunstâncias presentes - isto é verdade, porque é a vontade de seu Deus em Cristo, de acordo com Sua soberana determinação. Nisto descansam com alegria, em confiança tranquila com alegria e gratidão, confiando que o Senhor fará com que o presente e o futuro se transformem em vantagem. Isso faz com que eles utilizem sua condição atual para o avanço de sua vida espiritual e para a glória de Deus.
O contentamento é uma virtude cristã dos filhos de Deus. Os não convertidos são reprovados para todas as boas obras e não são familiarizados com a natureza dessa virtude. Quando percebem isso nos filhos de Deus, eles o desprezam como tendo um nível baixo de inteligência, sonhadores, de insensibilidade estoica, e nos consideram impróprios para assuntos mais elevados - sendo este um tesouro que está escondido para eles. Os filhos de Deus, no entanto têm esta virtude em princípio, e eles percebendo a beleza desta virtude fazem diligente esforço para possuí-la em maior medida. O coração é o verdadeiro assento dessa virtude. O contentamento não é questão de palavras. Não é de natureza obrigatória, nem consiste em abster-se de perseguir o que é necessário no mundo. Não é uma determinação mental para manter-nos satisfeitos, mas é uma disposição da alma. O intelecto, a vontade, e as afeições estão em uma disposição satisfeita, e a partir desta propensão ações surgem que são consistentes com essa disposição. Essa disposição só pode ser encontrada nos filhos de Deus – naqueles que são de fato piedosos. “Mas a piedade com contentamento é de grande ganho." (1 Tim 6: 6).
(Nota do tradutor: Esta disposição de estar contente em todas as circunstâncias é aprendida pela instrução e poder operante do Espírito Santo, e o seu fundamento é a justificação pela fé em Cristo, motivo pelo qual não pode ser achada no não convertido - naquele que rejeita a Cristo e a Sua salvação.)


O Objeto do Contentamento

O objeto do contentamento é nossa condição atual. Sendo crentes e permanecendo no estado de graça, ainda encontram muitas coisas relativas aos desejos da alma e do corpo. Às vezes, a condição de ambos concorda em um sentido geral com seus desejos, e às vezes há uma discrepância muito grande entre os dois. É fácil se contentar, se o Senhor conceder o desejo do coração. Se, entretanto nossas circunstâncias não concordarem com nossos desejos será uma tarefa difícil trazer nossos desejos em harmonia com nossas circunstâncias. O cristão é exercitado quanto a isso.

As posses não produzem contentamento. O homem pode ser descontente ou satisfeito, independentemente de ser rico ou pobre. Alguém que é rico ou de posses medianas deve se esforçar tanto para ser contente com seu estado, quanto o pobre no seu. Não devemos nos esforçar para estarmos em circunstâncias diferentes, pensando que estaremos melhor; pelo contrário devemos trabalhar para estarmos bem, na condição em que nos encontramos. Um pobre pensa: "Se eu fosse apenas da classe média..."; um da citada classe pensa: "se eu fosse rico..."; uma pessoa rica: "se eu tivesse mais"; uma pessoa solteira pensa quanto ao contentamento: Se eu fosse casado...; e uma pessoa casada: se eu fosse solteiro...; um marinheiro: se eu só tivesse uma ocupação em terra...”; um artesão: se eu fosse um homem de negócios; etc. Estes são pensamentos tolos. O contentamento não consiste nisso, mas em sentir que a condição em que nos encontramos é a melhor para nós.
A exortação é a seguinte: “Seja a vossa vida isenta de ganância, contentando-vos com o que tendes; porque ele mesmo disse: Não te deixarei, nem te desampararei." (Heb 13: 5).


A Natureza do Contentamento

A natureza dessa virtude consiste em haver harmonia entre nossos desejos e nossas circunstâncias atuais.

O homem não é naturalmente autossuficiente; ele é apenas um vaso no qual algo pode ser inserido. E, para ser preenchido ele tem desejos que - como mãos – se estendem para o que ele julga necessitar.

Após a queda, nossos desejos se tornaram desordenados tanto em relação aos assuntos desejados que não podemos cumprir, bem como à maneira desejada, fazendo isso com muita veemência e paixão. Este vício ainda está parcialmente presente nos filhos de Deus após a regeneração, e lhes dá muito sofrimento. Ainda que eles saibam que devem ser opostos a isso, também desejam muito. Eles desejam que tudo esteja bem, de acordo com suas aspirações, no entanto eles não as podem preencher com o que é terreno, porém seus desejos devem ser moderados, de acordo com o que possuem- seja muito ou pouco.
Não devemos eliminar todos os desejos, como se a ausência de desejo constituísse a verdadeira satisfação. Isso seria desumanizar o homem e torná-lo menos que um animal. Nossos desejos devem ser contrários ao que é mau. O que é mal deve ser um fardo para nós, deve nos afligir, deve-se sentir dor sob ele, e ter o desejo de ser livrado dele. O que é bom deve ser desejável para nós e nossos desejos devem ser focados em seu prazer. Devemos perseguir esses desejos usando os meios que estão subordinados a isso. Assim, a satisfação não exclui os desejos nem o uso dos meios, mas exclui todos os desejos que se concentram em assuntos pecaminosos. Isso se refere a todos os desejos para tudo o que excede nossas necessidades; todos os desejos veementes e apaixonados por algo que normalmente poderia ser legalmente desejado, todas as angústias mentais, mágoas e desânimos se as coisas não seguirem nosso caminho.
No entanto, tudo isso ainda não constitui o contentamento. O contentamento consiste na correspondência de nossos desejos com nossas condições, e numa disposição para estar nas circunstâncias em que estamos, e em nenhuma que seja correspondente a outras pessoas. Antes de estar em tais circunstâncias, podemos realmente ter desejos (uma questão que consideramos essencial), contudo devemos fazê-lo com um julgamento verdadeiro e justo. Além disso, se entramos em circunstâncias difíceis, então realmente desejamos ser libertados delas e vir a circunstâncias melhores. Isso não é contrário a ser satisfeito. No entanto, enquanto estamos em nossas circunstâncias presentes - sejam boas ou más - devemos nos contentar com o presente, e regular nossos desejos em harmonia com as condições em que estamos vivendo atualmente. Mesmo os homens naturais, que aderem a um stoicum fatum (ou seja, “isto deve ser assim; não há nada a ser feito sobre isso”), enquanto na verdade permanece descontente quanto ao desejo que foi apenas sublimado. Já, no caso do contentamento cristão, a grande diferença está em que o crente se gloria inclusive nas próprias necessidades, e assim demonstram que o contentamento consiste em uma correspondência entre desejos e circunstâncias atuais. Os piedosos têm muito mais razão para regular seus desejos de acordo com suas circunstâncias, e fazer com que sua vontade esteja em harmonia com isto - sendo a vontade de Deus.
Isto não é apenas aplicável ao físico, mas também ao espiritual. Estar contente quando as coisas não vão de acordo com nossos desejos é uma tarefa difícil em ambos os aspectos, entretanto isto é muito mais verdadeiro no reino espiritual. Se estamos em trevas espirituais sofrendo de deserção espiritual, sendo espiritualmente agredidos e estando sujeitos ao poder da corrupção, então também devemos estar satisfeitos e regular nossos desejos de acordo com nossas circunstâncias. Devemos fazê-lo, não porque tais circunstâncias são desejáveis para nós ou poderiam ser, e não porque não devemos nos esforçar para estar contentes, mas porque é a vontade de Deus não nos dar mais graça presentemente, uma vez que lhe agrada conduzir-nos sob provação no caminho para a salvação e a glorificação de Seu Nome.
(Nota do tradutor: Este último ponto pode ser exemplificado por condições em que mesmo estando cumprindo fielmente a obra de Deus, somos atingidos por espinhos na carne, conforme sucedeu com o apóstolo Paulo na experiência relatada por ele em II Coríntios 12, e somos chamados a contar somente com a graça de Jesus, de maneira que possamos até mesmo nos gloriar nas tribulações, nas perseguições, nas angústias, nas necessidades, por causa do nosso amor por Cristo.
Este espinho na carne pode vir a nós sob variadas formas, quer em ataques espirituais diretos dos poderes das trevas, ou através da instrumentalidade de pessoas que nos sejam até mesmo muito queridas, em demonstrações de provocação, ingratidão, injustiça, confrontação, desmerecimento, calúnia, injúria, maledicência ou em qualquer outra forma que vise anular o nosso contentamento.
Caso estejamos buscando o favor dos homens, de sermos amados ou aprovados e elogiados por eles, é bem certo que ficaremos desanimados, entristecidos, magoados, caso sejamos decepcionados por eles, mas se estivermos buscando fazer tudo somente para a glória de Deus, para o Seu agrado em cumprimento à Sua vontade, e na plena convicção de estarmos cumprindo a mesma, nada poderá nos deter no caminho da prática do amor e do bem, por maiores que sejam as injustiças e perseguições que possamos sofrer da parte dos homens. De igual forma, nada poderá tirar o nosso contentamento em Deus, pois é a certeza de que Deus está contente conosco, pelo nosso bom testemunho e procedimento, que é a nossa força, como se afirma na Palavra que “a alegria do Senhor é a nossa força”.)



O Fundamento do Contentamento

O fundamento sobre o qual nossas circunstâncias atuais são baseadas, e pelo qual estamos satisfeitos com elas é porque tal é a vontade de nosso Deus em Cristo Jesus, e Ele tem dirigido estas circunstâncias para serem assim.

O homem não pode amar o que é doloroso e desejá-lo como tal. Em vez disso existe uma razão diferente para que os crentes estejam contentes em circunstâncias que são maléficas e graves - a razão é porque assim agrada a Deus. É uma coisa para que simplesmente coloquemos em prática o princípio de buscar o fortalecimento da graça, e somente dela tal como o apóstolo havia experimentado com seu espinho na carne, de maneira que nossa condição seja de acordo com a vontade de Deus, porque todos devemos ceder ao poder e à mão de Deus. Então não há um desejo sequer do qual se possa dizer que não deve corresponder às circunstâncias. Pelo contrário, é um ser obrigado a consentir, e isso não difere muito do destino pagão. É algo bastante diferente abraçar a vontade de Deus como sendo a mais eminente em si, e desejável para eles, porque para que a vontade de Deus seja eficaz para o contentamento, devemos considerar Deus como nosso Deus - nosso Deus reconciliado em Cristo Jesus. O exercício da fé é de grande significado aqui, seja ao receber expressamente Jesus como oferecendo a Si mesmo, e assim vindo a Deus, ou seja que a fé é operada reflexivamente e com segurança sobre nosso estado de graça. O exercício da fé também é de grande significado, quando se pode considerar como sendo reconciliado somente em virtude da propensão da fé, além de uma manifestação renovada de segurança, e quando alguém se apega somente a Jesus para ter uma participação nEle, assim vindo a Deus através dEle enquanto exercita a esperança. Quanto mais forte for a fé, maior será o contentamento com a vontade de Deus.
Esta disposição crente gera amor para com Deus, e o amor reconhece Sua majestade e a adequação da sujeição. O amor engendra um deleite na vontade de Deus, e assim o amor pela vontade de Deus conquista e prevalece sobre o amor por si mesmo. O amor para com o bom prazer de Deus faz com que os desejos do crente correspondam às suas circunstâncias. Ele desejará que seja assim, mesmo que com lágrimas nos olhos, porque o Senhor deseja que assim seja. Esta vontade é preciosa para os crentes acima de tudo o mais, e faz tudo o que é amargo se tornar doce, e o que é pesado, leve. Observe isso no perfeito exemplo do Senhor Jesus: "Porque desci do céu, para não fazer a minha própria vontade, mas a vontade daquele que enviou." (João 6:38); “todavia, não seja como eu quero, mas como tu queres." (Mateus 26:39).
(Nota do tradutor: é por este motivo que podemos entender melhor o significado das seguintes palavras do apóstolo Pedro:
” 15 Porque assim é a vontade de Deus, que, fazendo o bem, façais emudecer a ignorância dos homens insensatos,
16 como livres, e não tendo a liberdade como capa da malícia, mas como servos de Deus.
17 Honrai a todos. Amai aos irmãos. Temei a Deus. Honrai ao rei.
18 Vós, servos, sujeitai-vos com todo o temor aos vossos senhores, não somente aos bons e moderados, mas também aos maus.
19 Porque isto é agradável, que alguém, por causa da consciência para com Deus, suporte tristezas, padecendo injustamente.
20 Pois, que glória é essa, se, quando cometeis pecado e sois por isso esbofeteados, sofreis com paciência? Mas se, quando fazeis o bem e sois afligidos, o sofreis com paciência, isso é agradável a Deus.
21 Porque para isso fostes chamados, porquanto também Cristo padeceu por vós, deixando-vos exemplo, para que sigais as suas pisadas.” (I Pedro 2.15-21).
E também:
“12 Amados, não estranheis a ardente provação que vem sobre vós para vos experimentar, como se coisa estranha vos acontecesse;
13 mas regozijai-vos por serdes participantes das aflições de Cristo; para que também na revelação da sua glória vos regozijeis e exulteis.
14 Se pelo nome de Cristo sois vituperados, bem-aventurados sois, porque sobre vós repousa o Espírito da glória, o Espírito de Deus.
15 Que nenhum de vós, entretanto, padeça como homicida, ou ladrão, ou malfeitor, ou como quem se entremete em negócios alheios;
16 mas, se padece como cristão, não se envergonhe, antes glorifique a Deus neste nome.” ( I Pedro 4.12-16).
O apóstolo havia aprendido isto do exemplo do próprio Senhor Jesus Cristo e da ordem expressa que ele deixou para ser cumprida na vida de todos os crentes:
“10 Bem-aventurados os que são perseguidos por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus.
11 Bem-aventurados sois vós, quando vos injuriarem e perseguiram e, mentindo, disserem todo mal contra vós por minha causa.
12 Alegrai-vos e exultai, porque é grande o vosso galardão nos céus; porque assim perseguiram aos profetas que foram antes de vós.” (Mateus 5.10-12).

Os Efeitos ou Frutos do Contentamento
Os efeitos ou frutos do contentamento são:
(1) Estar satisfeito com determinadas circunstâncias, uma vez que é a vontade de Deus. “Pelo que sinto prazer nas fraquezas, nas injúrias, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias por amor de Cristo. Porque quando estou fraco, então é que sou forte." (2 Cor 12:10).
(2) Uma confiança tranquila. Este não é um ser descuidado e insensível, mas um abraço ativo da vontade de Deus que faz com que os crentes fiquem em silêncio - não com relutância ou desânimo, mas crendo na submissão. “Emudecido estou, não abro a minha boca; pois tu és que agiste," (Salmos 39: 9).
(3) Uma disposição alegre. Isso não se refere às tribulações como tal. “Na verdade, nenhuma correção parece no momento ser motivo de gozo, porém de tristeza; mas depois produz um fruto pacífico de justiça nos que por ela têm sido exercitados." (Heb 12:11).
A vontade de Deus torna aquilo que é amargo doce, portanto, o apóstolo diz: "Também nos gloriamos nas tribulações" (Rom 5: 3);
“Meus irmãos, tende por motivo de grande gozo o passardes por várias provações," (Tiago 1: 2).

(4) Gratidão. Um cristão vê a mão de Deus como sendo a mão de um pai amoroso. Ele sabe por experiência própria, que é bom ser afligido e que Deus aflige em fidelidade. Assim sendo, ele dá graças a Deus em tudo (1 Tessalonicenses 5:18), e diz com Jó: "O Senhor deu, e o Senhor tomou; bendito seja o nome do Senhor." (Jó 1:21).
(5) Descansar e confiar na providência do Senhor. Uma pessoa contente encontra tal prazer na vontade de Deus, que não tem preocupação com o presente nem com o futuro, pois acredita que Deus é seu Pai, portanto tudo o que Deus trouxer sobre ele será para seu bem e sua vantagem. E, em consequência fica confiante e bem satisfeito.
“1 Aquele que habita no esconderijo do Altíssimo, à sombra do Todo-Poderoso descansará.
2 Direi do Senhor: Ele é o meu refúgio e a minha fortaleza, o meu Deus, em quem confio." (Sl 91: 1-2).
(6) Crescimento espiritual. Por meio do contentamento escaparemos a muitos obstáculos que nos impedem de praticar a piedade. O mal engendra muitos pecados e nos mantém em uma condição pecaminosa, ou impede a prática de muitas virtudes. Por meio do contentamento, nós iremos afastar cada peso e o pecado que tão facilmente nos aflige; Ele nos capacitará a "correr com paciência a carreira que está diante de nós" (Heb 12:10).
Somente quando carregamos nossa cruz com contentamento, a cruz será para nosso benefício e seremos santificados por ela. Se pudermos nos gloriar na tribulação, então a tribulação vai trabalhar a paciência; e a paciência, a experiência; e a experiência, a esperança." (Romanos 5: 3-4). Assim, a cruz se torna uma escola. “Bem-aventurado é o homem a quem tu castigas, ó Senhor, e a quem ensinas a tua lei." (Sal 94:12).
(Nota do tradutor: para tal viver é essencial que nos exercitemos a identificar em todas as circunstâncias que nos sejam desagradáveis, a mão de Deus nos provando, para que possamos saber o quanto ainda estamos depositando nossa confiança em estarmos contentes nas circunstâncias e pessoas que nos sejam favoráveis, ou sempre e somente no Senhor independentemente do que sejam tais circunstâncias. Se ficamos desanimados, abatidos, magoados ou irados, é sinal que não aprendemos ainda como o apóstolo Paulo havia aprendido a estarmos contentes em toda e qualquer situação.)
(7) Que Deus é glorificado por isso, pois os crentes demonstram assim, que o Senhor é soberano e pode fazer com Sua criatura segundo o Seu bom prazer. Eles manifestam que Deus é todo suficiente e que, ao ter Deus, nós podemos perder tudo o mais. Então se tornará manifesto que Deus é bom, fiel, verdadeiro, sábio e onipotente. “Para que a prova da vossa fé, mais preciosa do que o ouro que perece, embora provado pelo fogo, redunde para louvor, glória e honra na revelação de Jesus Cristo;" (1 Pe 1: 7).
“Mas, se padece como cristão, não se envergonhe, antes glorifique a Deus neste nome.” (1 Ped 4.16).
A verdade que apresentamos e explicamos é apropriada para convencer os não convertidos de sua má condição, e os crentes de sua deficiência e pecado.
O descontentamento é uma característica dos não convertidos, pois em muitos casos, com eles...
(1) Algo está sempre errado. Eles não têm filhos ou têm muitos. Eles aprenderam o comércio errado; se eu fosse um lojista, se soubesse um ofício, ou tivesse tal ou tal habilidade, então eu estaria muito melhor. Em tudo o que eu começo, eu contra a corrente; onde terminarei finalmente? Procuro agradar a todos e desfrutar de seu amor e estima; no entanto, eles viram as costas para mim. Todo mundo se opõe a mim, e lidam comigo e minha família de uma maneira injusta. Eles me caluniam, roubam-me da minha honra e todos estão me perseguindo. Eles estão sempre rodeados por ursos, para que nem de dia, nem de noite possam encontrar descanso devido a uma agitação externa e interna.
(2) Outra pessoa pode ser letárgica e preguiçosa, portanto insensível.
(3) Outra pessoa tem uma disposição doce, suave e pode suportar tudo.
(4) Outros usam a razão e percebem como as coisas são, ou então percebem que não há saída. Assim sendo, são pacientes à força, isto é, não há nada a ser feito sobre isso. Ou eles se engajarão de tal maneira que tudo correrá bem.
(5) Outros, quando a coisa principal escapa, agarram-se a um remendo flutuante e se ocupam com uma coisa ou outra.
(6) Outros ficam completamente desencorajados, desanimados e estariam inclinados a pendurar-se para trazer seu sofrimento ao fim.
(7) Outros, embora possam lidar com o presente, estão preocupados com o futuro. Todo o mau suposto faz com que eles tremam, roubando-lhes o gozo pacífico do presente.
(8) Outros querem encontrar sua satisfação em comer e beber, gastar dinheiro, ter prestígio e gratificar suas concupiscências pecaminosas.
(9) Outros procuram gratificação no trabalho de suas mãos, ou o procuram nos homens, sendo obsequiosos, lisonjeiros, e adorando-os para ganhar seu favor. Toda pessoa não convertida procura descansar desta maneira sem encontrá-lo, e seu contentamento não é nada, senão agitação.
(10) Outro fará um pouco melhor e, segundo o seu dito está satisfeito com a vontade de Deus, embora nunca tenha buscado nem obtido reconciliação com Deus e, portanto não pode esperar a ajuda ou o favor de Deus.
Todos aqueles cuja disposição concorda com o que acaba de ser dito devem saber:
(1) Que você está sem Deus e Cristo, e que Deus não é por você, mas contra você. Se Ele agita as coisas, quem então vai silenciar as questões? Se Ele te desamparou, o que te ajudará? Então você não pode deixar de ser cheio de medo por dentro e por fora.
(2) Que todos os seus movimentos, e todo o seu contentamento e descontentamento não são senão pecaminosos. Isso faz você, cada vez mais abominável aos olhos de Deus. E se você imaginar que suas circunstâncias atuais sejam satisfatórias ou insatisfatórias, o resultado de tudo o que persegue terá consequências para você e não produzirá senão descontentamento, tristeza, terror, apreensão, bem como a condenação roubará tudo o que você procura até certo ponto. A ira de Deus e o fogo do inferno te envolverão para sempre, portanto volte-se para o Senhor e busque a reconciliação com Deus, em Cristo. Ele vai ser a sua satisfação, e estando satisfeito Nele, todas as coisas cooperarão para o bem.


O Piedoso: Também Sujeito ao Descontentamento

Agora vou dirigir-me aos piedosos. É triste que aqueles que têm Deus, como um Deus reconciliado, que O escolheram para ser Sua porção única e suficiente (ao mesmo tempo em que rejeitam tudo o que não é Deus), que têm tanto descontentamento, porque tanto de acordo com o corpo e a alma, não agem neste mundo como a sua nova natureza gostaria de agir.
(1) Seus olhos e coração olham demais para o que é do mundo, isto é, para aquilo que é elevado e belo, bem como para comida, bebida, vestuário, e toda sorte de aquisição de bens terrenos, como se isso pudesse lhes render qualquer satisfação.
(2) Eles também querem agir a seu modo, e se isso não ocorrer e os homens não cederem a eles, ficam tristes, irritados e magoados.
(3) Eles comem o pão com descontentamento, pois a quantidade e o sabor não são como gostariam que fosse.
(4) Eles temem e tremem, tanto quanto o futuro está em causa. Eles dizem: "O que devemos comer e vestir?"
(5) A ansiedade aflige o coração, e as preocupações afastam a alegria da vida.
(6) Eles vacilam em relação à providência de Deus.
(7) Eles imediatamente percebem Deus como estando irritado com eles.
(8) Eles rejeitam seu estado espiritual.
(9) Eles se tornam vulneráveis aos assaltos do diabo, que então facilmente se apodera deles, jogando-os para lá e para cá.
(Nota do tradutor: o descontentamento espiritual, a falta de satisfação em Deus em todas as circunstâncias faz com que o crente se torne, por outro lado, iracundo, ingrato, amargo, insensível, sem afeto natural, e sujeito a tudo que se refira às obras da carne, que são ampliadas pela atuação de demônios que lhe oprimem. E, caso não se arrependa e se volte para Deus para achar libertação, sua condição se agravará e considerará tudo e todos como culpados pela sua condição infeliz, ou buscará alento e contentamento nas coisas que são do mundo; e não achando paz para sua alma em suas próprias iniciativas, a tendência é que fique ainda mais descontente.)
(10) A vida espiritual perderá seu vigor, e se o Senhor não fosse fiel e imutável, eles seriam corrompidos em corpo e alma; e tão severamente as tribulações mundanas poderiam feri-los. Em tal condição eles se deliciam em desejar serem consolados, mas de uma maneira que concorde com o atendimento de seu desejo – então eles seriam encorajados. A tristeza deve primeiro desaparecer, a matéria deve primeiro ser atingida, eles devem primeiro ver e possuir aquilo que vão viver, e então o conforto terá um efeito. Assim poderiam viver despreocupados e servir o Senhor.


O Piedoso Exortado a Não Ser Irritável

O que eu devo dizer? Que eu devo ter pena de você? Isso eu terei, mas de tal maneira que não prejudicarei nem incentivarei você em seu pecado. Em vez disso, eu o farei agitando-o para superar essas ansiedades improdutivas, este ímpio descontentamento, e essas preocupações que o arrastam para baixo.
Primeiro, quando descobrimos tudo isso, você mesmo perceberá que ainda é muito carnal e que tem dado sua atenção a coisas que são insignificantes. Você ainda é deste mundo como outros são, cuja porção está nesta vida? Aquilo que é do mundo é capaz de satisfazê-lo? Quando você entrou no pacto da graça, não estipulou que o que quer que lhe acontecesse seria para seu bem e sua satisfação? Ou você mudou seu modo de pensar em relação a isso? Por que haveria mais preocupação por seu corpo, do que por sua alma? Por que deveriam as deficiências corporais serem mais dolorosas do que as deficiências da alma? Tenha vergonha diante de Deus e do homem, que você seja assim tão carnal.
Em segundo lugar, você não percebe que isso é idolatria? Há nisso um afastamento secreto de Deus, uma negligência de Sua dependência, e uma negação secreta da providência de Deus. Existe uma acusação secreta de crueldade e falta de cuidado por você, de mutabilidade e de não ser fiel às Suas promessas. Sob a pretensão de estar preocupado com necessidades há o desejo de confiar em coisas temporais e viver apenas de pão; e mesmo se não, sua confiança nas coisas temporais é parcialmente verdadeira. Deus e as coisas deste mundo juntos devem realizar a sua satisfação; ou você serve a Deus para que Ele lhe dê coisas temporais? Que disposição má é esta! Quão longe isso está da disposição do salmista: "A quem tenho eu no céu senão a ti? E na terra não há quem eu deseje além de ti. A minha carne e o meu coração desfalecem; do meu coração, porém, Deus é a fortaleza, e o meu quinhão para sempre.” (Salmo 73: 25-26)!
Ao chegar diante de Deus tenha vergonha da sua disposição pecaminosa.
Em terceiro lugar, essas preocupações e ansiedades que fazem estremecer provêm de um coração orgulhoso relativo tanto a Deus, quanto ao homem. É orgulho relativo a Deus, pois implica que alguém é digno de alguma coisa, e que Deus é obrigado a nos tratar de acordo com nossos desejos. Se alguém fosse verdadeiramente consciente de sua pecaminosidade e culpa, e refletisse sobre isso, ele chegaria a um lugar inferior e afundaria em espanto, que Deus ainda o suportou e lhe deu muito acima de outros que têm muito menos do que ele, considerando que pecamos gravemente, e talvez sejamos ainda mais pecaminosos do que pensamos.
É também uma manifestação de orgulho em relação ao nosso próximo, pois olhamos para aqueles que são superiores a nós e perguntamos: "Por que eu não tenho tanto como ele?" Muito raramente a preocupação pertence verdadeiramente ao que está presentemente em necessidades temporais, pois pouco é suficiente. Em vez disso pertence ao nosso desejo de possuir, de ter tanto quanto o outro, e a busca de dignidade para não sermos desprezados, por sermos pobres e ter que depender da igreja ou de outros. É verdade que isso, quando considerado em si mesmo, não deve ser uma questão de indiferença para nós. É a vontade de Deus que tenhamos desejos relativos ao nosso bem-estar e que nossa jornada por este mundo seja com dignidade, no entanto devemos negar esses desejos quando Deus deseja nos humilhar e nos manter humildes. Portanto, escondido sob a capa de estar preocupado com as necessidades, com a dignidade e ser capaz de servir a Deus, está o orgulho.
Deus deseja ser servido por alguém enquanto tendo uma posição mais elevada no mundo, e por outro enquanto em uma posição mais humilde. A vontade de Deus deve ser nosso prazer em qualquer circunstância em que estejamos. O desânimo de estar em uma posição mais baixa, não é nada além de orgulho.
Portanto, torne-se humilde e você será libertado de muitos cuidados não lucrativos.
Em quarto lugar, todas as suas preocupações são em vão e você não vai ganhar um centavo por elas. Deus já decretou desde a eternidade quanto você terá. Há uma porção "conveniente" (Provérbios 30: 8) que Deus designou para todos, e que Ele dá em Seu tempo. Ninguém tirará esta porção de você, nem será diminuída. Com todas as suas preocupações e ansiedade você não vai adicionar nem um níquel, nem quebrar ou mudar o conselho determinado de Deus. Havia Israelitas cobiçosos que ajuntaram muito maná, contudo quando chegaram em casa, não tiveram mais do que a sua medida.
Havia outros que devido à falta de força, ou por estarem em um local onde não havia caído muito maná, haviam juntado pouco. Mas quando chegaram em casa, sua medida também estava cheia. O primeiro não teve sobras e o outro não teve falta. (2 Cor 8, 15).
“25 Por isso vos digo: Não estejais ansiosos quanto à vossa vida, pelo que haveis de comer, ou pelo que haveis de beber; nem, quanto ao vosso corpo, pelo que haveis de vestir. Não é a vida mais do que o alimento, e o corpo mais do que o vestuário?
26 Olhai para as aves do céu, que não semeiam, nem ceifam, nem ajuntam em celeiros; e vosso Pai celestial as alimenta. Não valeis vós muito mais do que elas?
27 Ora, qual de vós, por mais ansioso que esteja, pode acrescentar um côvado à sua estatura?
28 E pelo que haveis de vestir, por que andais ansiosos? Olhai para os lírios do campo, como crescem; não trabalham nem fiam;
29 contudo vos digo que nem mesmo Salomão em toda a sua glória se vestiu como um deles.
30 Pois, se Deus assim veste a erva do campo, que hoje existe e amanhã é lançada no forno, quanto mais a vós, homens de pouca fé?
31 Portanto, não vos inquieteis, dizendo: Que havemos de comer? ou: Que havemos de beber? ou: Com que nos havemos de vestir?
32 (Pois a todas estas coisas os gentios procuram.) Porque vosso Pai celestial sabe que precisais de tudo isso." (Mt 6:25, 27, 32).
Em quinto lugar, você desonra a Deus e se prejudica, pois por meio destas preocupações mostra que não tem somente a Deus como sua porção, e que não pode ser satisfeito com Ele a menos que tenha tantos bens temporais quanto você julgar necessário. Não seria uma desonra para um Pai que tem riqueza suficiente, se permitir que seus filhos sofram necessidade, apesar de seus gritos e súplicas? Você também não é a causa para que outros, por meio de sua insatisfação e preocupações infrutíferas, comecem a pensar no Senhor dessa maneira, como se Ele não tivesse amor, misericórdia e compaixão? Você o glorificaria, pelo contrário, se ficasse satisfeito com suas circunstâncias atuais e se sua felicidade consistisse no gozo do próprio Deus.
No que diz respeito a si mesmo, se permanecer em inquietação, apreensão, medo e ansiedade; você se rouba de prazer e alegria em Deus. Você impede seu crescimento, uma vez que a sua disposição desagrada a Deus, e o torna impróprio para usar adequadamente os meios para crescimento espiritual. Suas preocupações farão com que a Palavra e seus bons movimentos interiores sejam sufocados, tornando-os assim Infrutíferos (Mt 13:22). A incredulidade tem oportunidade de aparecer, e lançará a alma ansiosa de um lado para outro. O desejo do exercício religioso diminui e o livre acesso a Deus é dificultado. Os pensamentos que essas adversidades vêm sobre você sob a ira de Deus, faz com que a alma trema. Assim, em grande parte a quietude, a dependência de Deus, uma confiança infantil nEle, e andar com Ele desaparece. Você perderia tudo isso por uma quantidade maior ou menor de pão, o caminho para sua própria honra e para o futuro, do qual você não sabe como será? Oh, esses assuntos também são insignificantes para permitir que o bem-estar de sua alma se dissipe.
(Nota do tradutor: esta insatisfação motivada por desejos inadequados por coisas materiais pode ser estendida a todos os demais motivos, inclusive a todas as circunstâncias em que nos sintamos sendo contrariados por 0utros, ou até mesmo por motivo de complexos de inferioridade. Em suma, tudo o que nos leve para longe de um contentamento permanente em Deus pode comprovar para nós mesmos o quanto ainda somos carnais, e não plenamente confiantes e satisfeitos no Senhor.)
Em sexto lugar, depois que o Senhor te livrar da tua perplexidade - o que certamente fará em Seu tempo - então, devido à sua insatisfação anterior e resmungos, você terá se tornado incapaz de ser verdadeiramente grato ao Senhor, e um sentimento de vergonha sobre a sua desconfiança anterior fará com que sua alma sinta uma nova tristeza. Também pode acontecer que o Senhor, ao ter cumprido seu desejo desordenado enviará uma magreza em sua alma. Então, você será confundido e desejará que estivesse em uma condição espiritual melhor. Assim sendo, conduza-se bem enquanto estiver em uma escola em que pode aprender muito daquilo que não poderia aprender em um tempo de prosperidade. Tome cuidado, portanto e esteja em guarda para não ser murmurador e queixoso sobre sua condição, enquanto andando de acordo com suas concupiscências (Judas 16). Em vez disso, possua a sua alma em paciência e fique satisfeito com o presente. Você então estará apto a servir ao Senhor em prosperidade ou em adversidade.




Exortação para Lutar pelo Contentamento
Portanto, filhos de Deus, ou ricos, ou da classe média, de meios limitados, insignificantes, pobres, oprimidos ou atirados com a tempestade - quem quer que você seja e quaisquer que sejam suas circunstâncias, todos precisam de uma exortação, pois nenhuma circunstância por si só produz satisfação. Aprenda a ajustar seus desejos às suas circunstâncias, independentemente do que possam ser, e não se esforce para ajustar suas circunstâncias aos seus desejos, pois não haveria fim para isso. Mantenha a insatisfação longe de você como sendo uma pestilência prejudicial para sua vida espiritual, e possua a sua alma em contentamento.
Para isso, primeiro você deve meditar sobre todas as exortações vigorosas. Ouça-as da boca do Senhor, que lhe fala desta maneira: "Entrega o teu caminho ao Senhor; confia nele, e ele tudo fará." (Sl 37: 5); "Lança o teu fardo sobre o Senhor, e ele te susterá; nunca permitirá que o justo seja abalado." (Sl 55:22); "Seja a vossa vida isenta de ganância, contentando-vos com o que tendes; porque ele mesmo disse: Não te deixarei, nem te desampararei." (Heb 13: 5);
" Não andeis, pois, inquietos, dizendo: Que comeremos, ou que beberemos, ou com que nos vestiremos? Porque todas estas coisas os gentios procuram. Decerto vosso Pai celestial bem sabe que necessitais de todas estas coisas; (Mt 6: 31-32);
“Este habitará nas alturas; as fortalezas das rochas serão o seu alto refúgio; dar-se-lhe-á o seu pão; as suas águas serão certas."(Isaías 33:16); “Lançando sobre ele toda a vossa ansiedade, porque ele tem cuidado de vós." (1 Pe 5: 7).
Não passe depressa esses textos, mas preste atenção a cada um; sim, a cada Palavra individual. Tome nota dessas palavras como sendo dirigidas a você pelo Deus do céu. Ele não apenas lhe ordena que deve pensar, mas também se contentar. O comando de Deus não é suficiente para motivá-lo a se tornar obediente? Sua exortação não é suficiente para te incentivar? Tome nota também, das promessas que o Onipotente, bom e verdadeiro Deus faz além disso: Ele o fará acontecer; Ele te sustentará; Ele não te desamparará; o seu Pai celestial sabe que tem necessidade de todas estas coisas; e Ele cuida de você.
As promessas de Deus não são o suficiente para você? Ele diria isso e não o faria? Portanto, fique satisfeito, deleite-se e se regozije em Suas promessas que certamente serão cumpridas. É verdade que o Senhor nem sempre promete aquilo que julgamos que é mais adequado para nós, no entanto o Senhor certamente o fará em Seu tempo. Isto é assim melhor se não as recebermos em nosso tempo; ainda há algo a ser aprendido e devemos primeiro, ser capazes de usar bem as promessas. É a sabedoria e bondade do Senhor que faz com que Ele adie o assunto, entretanto o cumprimento está fora de dúvida. Ele não prometeu lhe dar certa quantidade, mas tanto quanto vai precisar, que deveria ser suficiente para você, e Ele certamente lhe dará. Portanto, embora demore, espere por ela, “porque certamente virá, não tardará "(Hab 2: 3). Mesmo se você não perceber qualquer meio pelo qual, ou de onde ela virá, Ele é Todo-Poderoso. Ele também pode fazê-lo sem meios, e sustentar você e seus filhos sem comida. Ou então, Ele proverá os meios - mesmo que os corvos tivessem que trazê-lo a você, mesmo se Ele fizesse com que o pão chovesse do céu, mesmo se Ele tivesse que multiplicar farinha e óleo, ou mesmo se Ele tivesse que fechar a boca dos leões e fazer com que o fogo não tenha poder. Portanto, fiquem quietos e vejam a salvação do Senhor.
Em segundo lugar, não é Deus, que é seu Pai soberano? Você gostaria que Ele não fosse assim? Você certamente responderá, - Não, estou feliz que Ele seja assim e não quero ficar acima dEle. Eu aprovo Sua soberania, e mesmo se Ele fosse matar-me, eu adoraria Sua soberana majestade. "No entanto, aqui a vontade de Deus se opõe à sua vontade”. Você diz: "Eu desejo ter isto", e Deus diz: "Eu não quero dar isto a você; tal e tal é a medida que terá". De quem é, no entanto a vontade superior; a de Deus ou a sua? Desde que sabe que não pode prevalecer contra Deus, você se preocupará e murmurará, como às vezes as crianças fazem com seus pais? Isso seria um esforço contra Deus. Desde que é soberano, entretanto Sua vontade é suprema, e você a aprova com prazer, sujeitando-se à Sua vontade, e fazendo o que Ele quiser. Deleite-se em suas circunstâncias, pois é a vontade de Deus a respeito de você, especialmente porque Deus é seu Pai a quem você ora diariamente, “seja feita a Tua vontade”. Desde que você se submete à Sua vontade em oração, também não se sujeitará à Sua vontade em Seus tratos com você, mesmo que eles não estejam de acordo com seus desejos? Submeta-te, portanto a Deus e glorifique-O ao fazê-lo.
Em terceiro lugar, Deus não disse: "Eu sou o seu Deus"? Faça com que Ele seja a sua porção para que possa desfrutar de toda a felicidade nEle! Se você tem o Todo-Suficiente como sua salvação, ainda está em necessidade de qualquer outra coisa? Não é Ele melhor para você do que mil mundos, uma quantia de dinheiro ou um pedaço de pão? Portanto, fale e pratique o que o piedoso fez. “O Senhor é a minha porção, diz a minha alma; por isso espero nele." (Lam 3:24).
Como você considera Deus, o único Deus bendito, o Deus da salvação completa para ser sua porção, volte-se para Ele em tempos de angústia, busque refúgio nEle, deleite-se nEle pela fé, mesmo que Lhe agrade não dar a medida que você deseja. Isto é posto para você na eternidade. Delicie-se em tê-Lo como sua porção, e deixe isto satisfazê-lo, enquanto renunciando às coisas do mundo que gostaria de ter. Para isso mantenha diante de si o exemplo de Habacuque: “Ainda que a figueira não floresça, nem haja fruto nas vides; ainda que falhe o produto da oliveira, e os campos não produzam mantimento; ainda que o rebanho seja exterminado da malhada e nos currais não haja gado. Todavia eu me alegrarei no Senhor, exultarei no Deus da minha salvação." (Hab 3: 17-18).
Em quarto lugar, o próprio Deus que lhe deu o que é mais precioso para Ele, a saber, Seu próprio Filho Jesus Cristo, a fim de livrá-lo de seu estado miserável e trazê-lo para a glória eterna (que Ele colocou como uma Herança para você (Rm 8:32). Ele permitiria que você realmente tivesse falta de alguma coisa, tanto quanto as necessidades de seu corpo? “Quem não poupou a seu próprio Filho, mas o entregou por todos nós, como não dará também com ele livremente todas as coisas "(Rm 8:32). Eis que Cristo vos foi dado como Salvador, e participais de todos os benefícios do pacto da graça, e a salvação é a vossa eterna herança. Isso não é suficiente para você? Deve uma quantia de dinheiro e um pedaço de pão ainda ser adicionado a isso antes que fique satisfeito? Tenha vergonha de que tenha tais pensamentos. Será que Ele, quem te deu o que é superior e eterno, te nega o que é necessário para o teu corpo? Aquele que te deu a vida e teu corpo, também não te dará comida e roupa? “Não é a vida mais do que o alimento, e o corpo mais do que as vestes?" (Mt 6:25). Como você se atreve a pensar tal coisa? Portanto, esteja satisfeito com as suas presentes circunstâncias, e você será contente. Ajuste seus desejos às suas circunstâncias.
Em quinto lugar, o que é o mundo para você? O que é que você está tão desejoso dele? O que é para que você esteja tão preocupado com ele? Não é tudo transitório? Você mesmo não permanecerá aqui eternamente, e assim como tudo o que existe no mundo, senão existem por um momento. Por que então, se preocupa tanto com isso? Quando a morte vier, não lamentará que você tenha tido muito pouco nesta vida, nem lhe dará alegria se tivesse uma abundância; você não vai morrer mais pacificamente por causa disso. Se fosse considerar todos os dias como sendo o seu último e estivesse imaginando continuamente que está atualmente morrendo, você não ficaria preocupado se tem mais ou menos, do que está tendo atualmente. Portanto, permaneça focado na natureza transitória de sua existência e na insignificância de tudo o que é do mundo. Concentre-se simultaneamente nas promessas de Deus; Ele, como um benefício adicional lhe dará das coisas do mundo conforme necessitar delas. Você então aprenderá a estar contente.
Em sexto lugar, alguma pessoa piedosa nunca teve alguma coisa? Se você ler toda a Bíblia, não encontrará um único exemplo.
Considere o seu próprio caso. Deus cuidou de você quando era pequeno. Ele forneceu roupas para sua conveniência, seios para ser amamentado, pais para que pudesse ser amado, pão e roupas quando cresceu, e tem nutrido você desde o momento de sua existência até agora. E quando você entrou em circunstâncias desconcertantes, Ele não o livrou frequentemente? Seria então que Deus cessará neste momento?
Aquele que concede alimento aos filhotes quando clamam a Ele, fornece comida para os pássaros do céu, sustenta tudo o que vive, e concede o alimento ao próprio ímpio; Ele te esqueceria? Ele se recusaria a dar-lhe o que precisa?
Portanto, esteja contente, confie Nele e esteja satisfeito com sua despensa, pois mesmo que a medida não seja de acordo com seus desejos, será tanto quanto você precisa. Isso é suficiente e deveria ser suficiente para você.


Os Benefícios Abençoados que Emanam do Contentamento

Em sétimo lugar, o contentamento gera muitas coisas boas. “E sabemos que todas as coisas cooperam para o bem dos que amam a Deus." (Rm 8:28).
(1) Haverá um espírito calmo, que é de grande valor aos olhos de Deus (1 Pe 3: 4).
Haverá um grande deleite. Uma pessoa satisfeita atropela tudo que é do mundo, vive acima daquilo que é visível e está além do alcance de todas as flechas dos inimigos.
(2) Haverá alienação do mundo. O homem, por natureza está muito ocupado com seu corpo e provisão para isso, por meio de coisas temporais. Ainda há muito a ser encontrado disso em uma pessoa regenerada. Se, entretanto ele se torna satisfeito com a vontade de Deus, então começa a se dissociar do mundo e não busca gratificação nele, mas permanece nele como um estranho.
(3) É um estado em que há oração e comunhão com Deus. Uma vez que Deus é a parte do crente, ele se deleita e observa a mão de dEle em tudo o que encontra, acreditando que é para sua vantagem, mesmo quando uma faca de poda é usada para cortar. Se necessita de alguma coisa, ora com fé e crê, e antecipa o que ele precisa.
(4) Há uma experiência frequente da ajuda de Deus. Perceber que Deus olha para ele, ouve a sua oração e o livra, é dez vezes mais precioso para um crente, dando-lhe incomparavelmente mais alegria do que se fosse resultante de um estado de extrema pobreza, para extrema riqueza. Essa experiência o fortalece no Senhor e também irá livrá-lo uma e outra vez no futuro. Aquele que me livrou do urso e do leão também me livrará deste filisteu. Aquele que me livrou de seis tribulações, não me abandonará na sétima.
(5) Haverá gratidão. Se tivermos falta de tudo e não vemos nenhuma maneira de escape, no entanto Deus nos concede Sua ajuda; um pedaço de pão vai ter maior sabor do que todas as iguarias desfrutadas em prosperidade. Assim, um abrigo atrás do qual há refúgio contra a chuva e o vento é mais agradável do que um castelo antes habitado. A alma se eleva ao Senhor, reconhecendo-O como o Doador, regozijando-se nEle e reconhecendo que não é digna da menor de todas as Suas misericórdias. A confissão será, “Bendize, ó minha alma, ao Senhor, e não te esqueças de nenhum dos seus benefícios. É ele quem perdoa todas as tuas iniquidades, quem sara todas as tuas enfermidades, quem redime a tua vida da cova, quem te coroa de benignidade e de misericórdia," (Sl 103: 2, 4).
(6) Há um anseio pelo estado de glória. Então o crente perceberá que não se encontra aqui embaixo, mas no céu. Por isso, ele não estará ansioso para partir e a estar com Cristo. Ele se consolará com essa expectativa, e assim será fortalecido e encorajado a suportar todas as tribulações. Ele se alegrará que o descanso tenha sido estabelecido, e se apressará em entrar nesse descanso.
(7) Há a manifestação da santidade. Como os cuidados deste mundo são os espinhos que sufocam a boa semente, o contentamento também faz um ajuste para negar a si mesmo, ser humilde, confiar e deleitar-se em Deus como sendo sua porção, a possuir livremente a causa do Senhor, e demonstrar que há uma suficiência total em Deus. Aqui está a fonte de toda piedade.
Objeção: Alguns talvez digam: "Eu realmente estaria contente se soubesse que era um filho de Deus, que o Senhor estava perto de mim, e que Ele me faria sentir a Sua bondade."
Resposta: Isto é tanto como dizer, "Se eu estivesse apenas no céu, eu ficaria satisfeito." Nós devemos encontrar satisfação aqui embaixo, na vontade de Deus pela fé. A descrença em relação ao seu estado surge do descontentamento e não da sua falta. Enquanto você não estiver satisfeito, a não ser que seu desejo seja cumprido, tanto tempo também será lançado para lá e para cá, como seu estado espiritual e sua alma serão como "uma onda do mar movida pelo vento." (Tiago 1: 6).
Para que a fé seja exercida, você deve se contentar com o presente, e ao ficar satisfeito deve exercer a fé; estes dois se pertencem mutuamente. Que o Senhor lhe conceda a ambos!
Objeção: Outros dirão: "O Senhor não me ouve, eu não sou livrado, e minha perplexidade se torna maior a cada hora. Como posso então me contentar?"
Resposta: Você vê agora que seu contentamento é contingente em possessão? Não possuir e ainda estar satisfeito com a vontade de Deus, confiando que haverá libertação, que é a verdadeira satisfação. A razão pela qual o Senhor não dá a você é porque ainda não precisa dEle. O Senhor quer ensinar você a se contentar somente com Ele. Ele deseja guiá-lo no uso adequado do que é bom. Ele deseja confortá-lo e ajudá-lo de maneira diferente daquilo que você prescreveria a Deus em sua loucura.


Diretrizes para Aprender Como Ser Contente

Se você deseja aprender a ser contente, então pratique o seguinte:
(1) Considere sempre o que você merece, e então será feliz porque você ainda não está no inferno.
(2) Olhe para os outros, e não vai querer trocar sua condição com a deles. Alguém terá muito menos, e será mais miserável do que você é, materialmente falando, mas será um exemplo para você quanto ao contentamento. A outra pessoa ficará sem graça, e você certamente não gostaria de trocar de lugar com ela.
(3) Viva somente cada dia e não tome sobre você as dificuldades de dois, dez ou cem dias. Este seria um fardo muito grande para você. O suficiente para cada dia é o seu mal.
(4) A sua dificuldade talvez não seja tão grande quanto a imagina - isto em consequência de seu desejo ser excessivo. Portanto, você deve fazer mais esforço para ajustar seu desejo às suas circunstâncias considerando qual seja a vontade de Deus, em vez de procurar melhorar suas circunstâncias de acordo com seu desejo.
(5) Utilize os meios com toda diligência e fidelidade para que sua consciência não o acuse, e deixe o resultado para o Senhor. Confie na Sua promessa e Ele a cumprirá bem.
(6) Permaneça com seu foco continuamente sobre o céu, e considere a insignificância de tudo o que há na terra. Quanto mais próximo você estiver de Deus, mais estará à distância da criatura. Tudo passará, mas aquele que faz a vontade de Deus habitará seguro para sempre.
Nota do tradutor: Apesar de que muitas outras considerações pudessem ter sido apresentadas pelo autor quanto a esta questão relativa ao contentamento, cremos que ele bem resumiu o fundamento para o verdadeiro contentamento, e a principal causa para o descontentamento.
Tendo escrito no século XVII, não havia no tempo do autor a multiplicidade de bens, até mesmo virtuais que atiçam a cobiça da quase totalidade da humanidade em nossos dias. Assim, multiplicando-se os bens multiplicam-se também os desejos, e vimos que à medida que estes não podem ser ajustados às circunstâncias, a consequência imediata é o descontentamento.
Não admira que tantos estejam descontentes em nossos dias, quando se pode dizer deles, que são muito mais ricos do que os que foram considerados ricos no passado, quando não havia sequer energia elétrica, e todos os confortos que podem ser por ela fornecidos; como também quando não havia o avanço tecnológico e científico do qual temos sido testemunhas em nossa própria época. Enfim, há muito para se desejar, como não havia no passado, mas o mais carente de bens não está em condições tão precárias, assim como muitos que no passado remoto não dispunham de todas as facilidades que temos presentemente.
Mas, a grande razão para o descontentamento reside em se não estar plenamente conformado à vontade de Deus, quer no que tange à provisão material, quanto à espiritual.
É para lamentar o estado da igreja atual em busca de prosperidade material, como se esta fosse a grande conquista da fé em Jesus Cristo.
Quão afastados caminham daquela condição de ser luz do mundo e sal da terra, pelo bom testemunho de se estar contente em todas as circunstâncias, com gratidão no coração, todos os que não aprenderam ainda a fazer do Senhor a razão suficiente de todo o seu contentamento.
Isto se aplica até mesmo ao modo de se agir na obra do evangelho, pois é possível que o contentamento de muitos se encontre, não em promover o reino de Deus e a Sua justiça, mas em achar prazer nas atividades que desenvolvem em si mesmas, de modo que quando são contrariados ou sentem que os resultados não são os esperados quanto ao sucesso que deveriam ter, conforme sua imaginação, tornam-se desanimados, insatisfeitos, e não dispostos a levar a obra adiante. O foco estava incorreto e daí a razão da sua frustração. Se estivesse corretamente no Senhor, ficariam satisfeitos por terem agido com obediência e fidelidade a Ele, deixando os resultados em Suas mãos divinas, pois se colhessem pouco ou muito em seus esforços, estariam contentes por saberem e sentirem em espírito, que Deus estava agradado da fidelidade deles.
Afinal, tudo o que podemos fazer é semear e regar, pois o resultado do crescimento depende exclusivamente da aplicação do poder de Deus, e da forma como as pessoas recebem nosso testemunho de Cristo e da Sua Palavra.
Quanto a isto, se Paulo e todos os apóstolos fossem dirigir seus esforços em razão da plena aceitação por todos, da Palavra que pregaram, é bem certo que teriam abandonado o ministério logo no início, porque não foram poucos os que não somente resistiram à pregação, como os perseguiram.
Que cada um se dedique com zelo e fidelidade ao ministério que recebeu do Senhor para cumprir, e que permaneça na sua realização com contentamento e gratidão em seus corações, mesmo que sejam rejeitados, perseguidos; tanto eles, quanto a Palavra que pregam e ensinam.
Afinal, está determinado por Deus que a obra do evangelho deve prosseguir em meio a resistências e fortes oposições. Então, todos os seus ministros devem estar armados em pensamento que deverão suportar oposições com alegria e contentamento, pelo privilégio de servirem a Deus.
Sendo humanos, estamos sujeitos a nos entristecer ao recebermos oposição por causa do nosso amor ao Senhor e ao evangelho, mas não devemos ficar desanimados a ponto de desistir de amar os pecadores e batalhar pela salvação de suas almas, intercedendo em favor deles junto ao Senhor em oração incessante.
A graça do Senhor nos fortalecerá em todas as circunstâncias, caso seja achada em nós esta disposição de permanecermos fiéis em tudo o que possamos ter que sofrer e suportar.
O Espírito Santo fortalecerá e alegrará o coração abatido pelo sofrimento, e renovará a nossa esperança e fé, de modo que levemos a obra de evangelização adiante, sem nos importar com o que nos façam de bem ou mal, com a aprovação ou rejeição que recebamos, pois não estamos trabalhando para a nossa própria glória, mas para a do Senhor.
Temos um firme fundamento para esta confiança, na justificação pela fé, da qual poderíamos dizer também, que é a nossa fé na justificação que nos possibilita nos aproximarmos do trono da graça para recebermos o renovo espiritual sempre que dele necessitarmos.
Não somos aceitos por Deus em nenhuma outra base, senão na única, da nossa justificação por causa da morte e ressurreição de Jesus. É sempre pelo sangue que Ele derramou por nós que podemos nos aproximar de Deus e sermos aceitos por Ele.
Apesar de a justificação nos ter sido atribuída de uma vez para sempre no dia da nossa conversão, é pela continuidade dos seus benefícios que podemos ter comunhão com Deus ao longo de toda a nossa vida.
É por confiarmos em Cristo, no perdão que Ele obteve para nós na Cruz do Calvário, na satisfação plena da justiça de Deus que Ele fez pela oferta de Si mesmo, como sacrifício expiatório, que podemos continuar sendo abençoados por Deus, desde que nos arrependamos e confessemos os nossos pecados.
Este é, portanto o grande fundamento para o nosso contentamento, pois uma vez tendo sido renovados pela graça que está em Jesus podemos continuar na prática do bem, desenvolvendo a nossa salvação em santificação.
Não podemos estar contentes se não estivermos santificados, mas convém lembrar que podemos sempre nos santificar por termos sido justificados.
Mas, como temos ainda em nós uma velha natureza, corrompida pelo pecado, necessitamos de esforço contínuo, de oração e vigilância incessantes para guardarmos a santificação que tivermos alcançado, pois como temos visto é impossível estar contente (pleno, satisfeito em Deus) sem santificação.
Todavia, em todo o caso, o grande motivo para o nosso contentamento está resumido nas palavras que nosso Senhor dirigiu aos apóstolos quando estes vieram ter com ele exultando pelo fato de os demônios se lhes sujeitarem:
“Mas, não vos alegreis porque se vos sujeitem os espíritos; alegrai-vos antes por estarem os vossos nomes escritos nos céus.” (Lucas 10.20)
Em sentido geral, não é nem mesmo o nosso sucesso espiritual na obra de Deus, ou o grau de nossa santificação, o principal motivo de estarmos contentes, mas o fato de termos sido tornados filhos de Deus, tendo nossos nomes escritos nos céus.
Esta é a grande razão para o crente estar contente em toda e qualquer circunstância, e não outra. Ele foi reconciliado com Deus por meio do sangue de Jesus, e ninguém poderá anular esta condição abençoada.










Este texto é administrado por: Silvio Dutra
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