O sentimento sufocado dentro do peito, dilacera o interior. Parece o tumor que vai matando aos pouquinhos. Não é exatamente um sentimento, é a dor, a agonia, a tristeza, a morte do que um dia já foi chamado de amor.
A agonia de não conseguir aceitar algo tão monstruoso. A pergunta clichê, mas que não vem de um adolescente rebelde, “ como uma mãe não ama seu filho?”.
Vinte e sete anos da vida, foi acreditado que ela amava a filha sim. Mas não.
A filha relatou, aos treze anos, numa conversa inocente, pois não entendia que o mundo é cruel e que as pessoas são monstruosas, que estava sofrendo de abuso sexual. Qual atitude a própria mãe tomou?
Nenhuma.
Numa frustrada tentativa de separação entre essa “mãe” e o padrasto, as duas ficaram na casa da tia, onde o agressor também morava. O desespero tomava conta do interior da pequena filha, “ mãe eu não quero ficar lá”...Qual a atitude de mãe?
“ Nós iremos ficar lá e você que se vire”.
Memórias e agonias que insistem em passar pelos pensamentos, que corroem e revoltam. Vinte e sete anos de vida se enganando, achando que todos os erros e que as atitudes erradas eram erros próprios.
Hoje a dor é matadora, é revoltante, é o que move para mudar o caráter de uma pessoa boa.
Tudo influenciou da pior maneira possível na vida dessa pessoa, que mesmo assim, ainda acha míseros motivos para tentar sorrir.
Uma história com tantos fracassos, tantas lágrimas, tantas brigas e que foi resultado de uma infância podre. Sempre julgada, falada, mentiras inventadas, inveja.
Coisas materiais não solucionam e nem preenchem essa infância medíocre e infeliz. Ainda têm coragem de pergunta-la “ Você tem tudo, o que mais falta?”.
FALTA AMOR! FALTA ATENÇÃO! FALTA MÃE! FALTA TUDO QUE UMA CRIANÇA PRECISOU!
Tantos traumas.
Ainda essa “mãe” diz na cara dessa filha “para compensar essa ausência de amor e de afeto, eu pago”.
Me recordo de tantas e tantas mães que falam “ ser mãe é uma benção, quando você se torna mãe, você ama incondicionalmente! ”.
A minha não.
Me culpa pelas burradas que fiz na vida. “ Olho para você e sinto raiva” Isso não é coisa a dizer para uma filha.
Depois de tanta coisa, a revoltada é a filha?
Por dentro ela quer gritar, ela quer se libertar.
Aquela tempestade de sensações e sentimentos. Não querer mais olhar o celular.
A cobrança da sociedade, da suposta família, dos outros...O lado sombrio do ser humano querendo ganhar vida, mas a consciência aprisiona.
A vida é mais que isso. A vida é mais que mesquinharias e inveja. Porém o ser humano é falho. O ser humano liberta o lado sombrio e não contém.
Não consigo me libertar. A vida que almejo é leve, é bonita. A vida que quero se resume em uma palavra, talvez a palavra que até agora não consegui alcançar...feliz.
Encontro na música essa felicidade. A batida da música eletrônica, a guitarra e a bateria do rock, o violão de uma música calma, o piano de uma música clássica, a flauta de uma música erudita, a voz que sempre me arranca lágrimas, mas que as deixo cair em paz.
Os livros que me fazem entrar em um mundo que permite ser eu mesma.
A realidade não condiz com o meu ser. A bebida ajuda a me encaixar a sociedade podre.
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