Minha namorada me deu um rio,
de olhos turvos e alma clara,
fiquei encantado e tentei apanhar os peixes,
miúdos e de escamas brilhantes,
ela me disse - deixe-os aí,
é o lugar deles...
De mãos vazias tentei apanhar
as imagens do televisor ligado,
ela me disse - isso não é coisa
que se faça,
deixe essas imagens na sala,
elas ficam aí...
Saí de casa e tentei apanhar o céu,
ergui as mãos, mal chegavam nos galhos
das árvores com seus frutos pendurados,
saltei, pulei, respirei fundo e ouvi
- deixe o céu aí, ele não é seu,
por que insistir?
Nada podendo pegar, abracei a mim,
me envolvi, segurei firme, apertei,
não soltei, e de lá de dentro só ouvi
- se solte, você não é um poste,
fique aqui, você é meu,
não vá fugir...
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