É noite ...
Évora faz silêncio...
Caminho-a na penumbra, meio triste, meio esquecido ...
Sozinho, em direcção não sei de quê, vou!
E vou em vão! Ou não! Talvez vá, bem sei ...
Mas indo irei eu a parte alguma?!
Não sei! A parte incerta irei por certo! Mas irei! Irei!
Que os meus cansaços não me turvam nem me toldam, nem dominam! Irei!
Caminhando pela umbra... Vou além ... Onde não cheguei ou alguém foi!
A avenida, o hospital, carros a passar, um caminho, sinuoso, um passeio, árvores sem copa, folhas, tantas folhas, secas, ao vento, pelo chão ...
Triste quadro. A minha vida. Pobre vida.
Eu "tão grande", "doente", a pé, só, por caminhos tristes, sem tecto, caminhando sobre folhas, secas, ao vento, pelo chão! Sou eu! Sou eu! Só podia ser eu ...
Um ser obsoleto! Alguém que sobra! E é noite cerrada, madrugada infeliz.
Só eu e nada, Évora e a solidão. Eu, meu coração, Évora e este chão!
E piso a vida, vou num ir que parece ser em vão!
Mas vou ... Porque nunca, nunca aprendi a existir!
Esta dor de fora faz-me exacto por dentro! Só ela!
Mas isso que vos importa?! Nada! Digam-no com franqueza!
Se das mãos de Deus o aceito, de vós o aceitarei, sem reservas ou lamentos, que tudo tem seu jeito! Terá? Quem sabe?! Tenho que ir ...
Se o quero saber terei que ir, deixando plo caminho os "corpos" de toda a gente.
E dói-me o meu destino ... Não posso esperar por ninguém! Pois não posso estar morto quando a morte vier! Quero que ela mate em mim um vivo!
Por isso, vou, e deixo os "mortos" no seu caminho. Os meus mortos! Que estando vivos, são como mortos! Mortos!
Meu caminho é por mim, é em mim, por mim fora, de mim a mim ...
E quem quererá ouvir ou entender este espírito de coragem?! Quem?! Onde?! Se eu próprio o não entendo! Se eu mesmo o não desvendo e desprezo?!
E vou ... Indo ... Em frente ...Sequer olho para trás, que a saudade rói meu pensamento, transformando coragem de ir só, em medo, ausência e lamento.
Não serei a estátua de sal das escrituras! E não olho ... Não olho ... E vou ... irei ... Sempre ... Em frente ... Só... Pra sempre!
Adeus!...
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