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MINHAS AVENTURAS AMOROSAS
Jota Santiago

Aos quinze anos, ainda inocente e puro, iniciei minhas aventuras amorosas. Logo de cara conheci uma garota bonitona, que era só três anos mais velha que eu. E aí joguei um pouco do meu charme pra cima dela. A mocinha quando me viu todo assanhado, querendo namoro com ela, cortou o meu barato baixinho:
      - Mas você é só um frangote!
      Sem perder a calma e a pose de galã, argumentei:
     - O verdadeiro amor não conhece limites nem barreiras.
     Ela olhou pra mim admirada e deu o seu veredicto.
       - Puxa, que maturidade a sua!
     De maduro nada eu tinha, mas de inocente tinha tudo. Porquanto, fosse por imaturidade ou por inocência, dei corda solta à minha falta de juízo e terminei nos braços de outra mulher. Essa - é vergonhoso lembrar -, além de muito feia, tinha idade de ser minha mãe.
      Josefina era uma moça de família rica, tinha carro bonito e morava numa mansão. De início, quis conquistar a minha simpatia com presentes e outras coisas desse tipo. Depois, fez amizade com minha irmã e começou a frequentar nossa casa, quase que diariamente. Com o tempo, tornou-se também minha amiga. Daí por diante era só a criatura me ver e já vinha de lá, se derretendo em agrados e elogios. Durão do jeito que eu era, evitei de todas as formas ter qualquer envolvimento com ela.
     Até que, numa noite de sábado, aconteceu o pior. Meio bêbado, resolvi passar na casa dela e ficamos conversando por algum tempo. No calor da prosa, fiz-lhe uma pergunta inocente, boba mesmo:
    - De que tipo de homem você gosta, Josefina? Daquele que respeita as leis de trânsito ou daquele que avança o sinal?
    Não deu outra: ela avançou o sinal e me puxou pra cima do sofá. E ali mesmo, no meio da sala, consumamos uma noite de prazer e de loucura.
   Paguei muito caro por minha insanidade. No dia seguinte ela espalhou para a rua inteira que estava namorando comigo. Logo todo mundo começou a zombar de mim. Para os amigos, virei motivo de chacota.
    Fiquei meio despeitado. Mas, como ela ainda se achava uma garotinha, enviei-lhe uma carta malcriada. Depois, fui ter uma conversa séria com ela.
      - Se enxerga, mulher!
     Se aconteceu dela se enxergar, não fiquei sabendo. O certo é que deixou de falar comigo por um bom tempo. Quando finalmente fez as pazes comigo, foi para se queixar da minha ingratidão e frieza.
    - A maior covardia de um homem é despertar o amor no coração de uma mulher e depois desprezá-la.
    Já tinha lido aquela frase em algum romance barato. Porém, acho que covardia mesmo foi a dela, apaixonar-se por mim de forma tão estabanada, a ponto de me expor ao ridículo. É, mas quem procura acha. E eu tinha procurado mesmo.
     Dois anos mais tarde conheci Rosana, uma morena cheia de charme e de sorrisos. E dentro de pouco tempo o nosso namoro evoluiu para uma coisa bem mais séria. Só que tanta seriedade quase me custou a vida.
    Rosana era um bocado religiosa e meio puritana. Mas quando a levei para assistir um filme de sacanagem, ela não sinalizou com o menor protesto. Pelo contrário, ficou muito interessada no assunto - mais interessada do que devia. E daí por diante não me deu sossego. Até que um dia, para mostrar como as coisas funcionavam na prática, rolei os cafofos com ela.
     - Que grande besteira, a minha!
     Depois disso, ela queria porque queria casar comigo. De minha parte, confesso que não tinha nada contra aquele casamento. Mas aquilo não ia dar certo. De um lado ela, que ganhava apenas um salário mínimo, trabalhando num escritório de advocacia; do outro lado eu, um pobre estudante, que não tinha sequer onde cair vivo, nem mesmo se, por esperteza, tentasse me fingir de morto.
      Rosana, que não compreendia a gravidade da situação, dizia simplesmente:
        - Pra tudo tem um jeito. Meu pai vai ajudar a gente.
    Eu só achava que o velho, mal tomasse conhecimento dos fatos, ia mesmo era dar um jeito de me mandar bater um papo com Jesus. O homem era militar e tinha fama de ser durão.
      Como eu não quisesse casar, Rosana começou a me fazer ameaças:
       - Vou contar para o meu pai que você maculou minha inocência.
     Pronto. Agora eu, que de inocente já não tinha nada, comecei a me considerar um homem morto. Se aquela história chegasse aos ouvidos do coronel, coitado de mim.
     Ainda bem que Rosana se apaixonou por um outro rapaz, que era mecânico. E dele também engravidou, e com ele mesmo se casou, deixando-me em paz. Depois disso resolvi tomar juízo e nunca mais me aventurei de forma perigosa com as mulheres.


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