Olhe para mim
veja como me pareço com você
no jeito de vestir
no jeito de viver
nós dois temos carro
bebemos no bar do bairro
votamos no mesmo candidato
só não comemos no mesmo prato
nem dormimos com a mesma mulher
mas somos parecidos como garfo e colher
músculos e academia
nascemos no mesmo dia
rondamos a casa da poesia
silenciamos quando a noite chega
gritamos mal nasce o dia
nos parecemos em nossa filosofia
detestamos areia
consequentemente praia
adoramos um rabo-de-saia
detestamos candidatos com excesso de demagogia
também os que usam palavras como anestesia
somos parecidos não porque somos do mesmo país
respiramos o mesmo ar em cada nariz
queremos que haja uma revolução
que comece pela faca e não pelo pão
um pouco de anarquia é o que queremos
caos absoluto contra essa letargia
uma raça de pessoas que saibam o que fazer
que saibam como começar uma briga por querer
estamos cansados de escravidão voluntária
tudo pela pátria armada
nos parecemos um bocado
se fôssemos do mesmo batalhão
seríamos soldados
em busca da justiça a todo custo
depois de mortos ergueriam bustos
de pedra-sabão
bem no meio da praça
para o prazer da multidão...

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