Um dia, quando tiver o direito de escolha,
serei a água da bacia, morna, a lavar teus pés,
o perfume do vinho que escapa depois da rolha,
serei o que quiseres, o que quererias, o que quer...
Disperso pela precisão da lâmina que fatia o tempo
serei a hora derradeira quando o sol se deita e se cobre,
o sopro quase divino que sai dos lábios úmidos do vento,
o abraço fortuito que consola tanto aos ricos e aos pobres...
Já então em comunhão celeste, no alto com os astros,
no chão com a memória da terra orvalhada pelo noturno céu,
serei, definitivamente, à beira do abismo, o último passo:
então voarei com os sonhos a esvoaçar o mediúnico véu...
|