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VITÓRIA
FRANCISCO MEDEIROS QUARTA

Aqui a nossa missão
É transformar a ficção,
Fingindo a realidade.
Sonha-se um mundo melhor,
No qual triunfem o Amor,
O Bem, a Fraternidade!...

Senão podem fazer mais,
Refugiam-se os mortais,
No socorro da ilusão!
Inventam muitas história,
Nas quais celebram vitórias,
Que jamais conseguirão!

Trucidando os inocentes,
Proliferam delinquentes,
Impunes, dia após dia!
Ninguém desafia o forte,
Pois pode encontrar a morte.
E a justiça? A hipocrisia...

Se és pobre, não vales nada.
E a riqueza, acumulada,
Tudo a seus pés subjugou.
Mas, se tens algum talento,
É bem maior teu tormento,
Porque o mundo te ignorou.

Convém termos por parceiro
Um ricaço, com dinheiro,
A quem beijamos a mão.
Cobardes subserviências,
Causadas pelas carências
Dos que vegetam, sem pão!...

É sina do ser humano,
Entre a fé e o desengano,
Lutar, para subsistir.
Em combate desigual,
Defrontam-se o Bem e o Mal,
E um terá que sucumbir...

As forças da Natureza
Deixarão sempre indefesa
Esta pobre Humanidade!
Á vista dos cataclismos,
Adiaram-se egoísmos,
Surge a solidariedade...

Quem ama, sabe aguardar;
Não te poderei deixar
Com esse olhar de tristeza.
Quem te aflige, ao pé de mim?
Conheci-te sempre assim...
Dói-me tanto esta incerteza!

Se não ouves o que eu digo,
Duvido sejas amigo,
Porque me fazes sofrer!
Findemos esta entrevista;
Não sou mais uma conquista
Que venhas empreender!

Quanto mal pensas de mim!
Bem pudesse este jardim
Abrir-te o meu coração!
Verias que tanto amor
Não brota de um sedutor:
Anseia a nossa união...

Esta agressiva defesa
Deve-se mais á tristeza
Em que vivo, na orfandade!
Há também algo terrível
Que tornará impossível
A minha felicidade!...

Conta-me essa dor, querida!
Que mistérios tens, na vida?
Faz de mim um confidente!
Nunca te arrependerás;
Sonho que ainda serás
Venturosa, eternamente!

Tua solidariedade
Conforta-me na verdade;
Mas ninguém vive de sonhos!
Não posso ouvir teus apelos:
Neste mar de pesadelos
Há sofrimentos medonhos!...

Que se passa á tua volta?
Começo a sentir revolta,
Mas nada posso fazer.
Quais as razões do perigo?
Saberei morrer contigo,
Se necessário, hás de ver...

É tal o teu sofrimento?
Juro-te nem um momento:
Te deixarei mais, sozinha!
Ele não supera a Lei;
Sempre te defenderei,
Mesmo que não sejas minha!...

É nobre a tua insistência!
E somente a prepotência
Me traz sempre amordaçada.
Quer eu goste ou não de ti,
É bom que fujas daqui;
Não posso ser tua amada!...

Que de longas! Que amargura!
Não serei eu, criatura,
Digno da tua amizade?!
Conta-me lá essa história.
Sabe melhor a vitória,
Se é grande a dificuldade!...

Desde que os meus pais perdi,
Só angústia conheci;
É bem penosa esta cruz!
Estava a aventura escondida;
Era só tristeza a vida,
Quando eu conheci a luz...

Muito sofrem os mortais!
Como perdeste os teus pais?
Foi doença, ou acidente?
Terá sido num passeio...
Ouço falar, com receio,
Desse facto, a muita gente...

Sim: foi um caso bem sério!
Mas continuam mistério,
Três mortes em alto mar!
Meu tio, que eu julgo assassino,
Lamentou-se: - Cru destino...
Porém nunca o vi chorar!

Como é essa? Dois casais?
Que ia com os teus pais,
Além desse criminoso?
Com partilhas, dia-a-dia
Tão abjecta companhia?!
Que monstro mais perigoso!...

Tudo estudara o vilão:
Francisco tomba, no chão;
Não se ouvem quaisquer gemidos!
E Margarida, indefesa,
Colhida tão de surpresa,
Não grita; perde os sentidos...

Tal facto facilitou
O canalha, que a arrastou
Para casa brutalmente!
E agora? Pobre Guidinha!
Com o verdugo, sozinha,
Vais padecer cruelmente...

O homem, que o tiro ouviu,
Logo a Francisco acudiu;
Contudo não viu ninguém!
Levaram-no ao hospital;
E tudo indica que o Mal
Possa triunfar do Bem...

Gerou-se um grande chinfrim
Á volta de jardim,
Com toda a gente a gritar:
- Já se mata impunemente?!
Sumiu-se tão de repente!
Esse cão tem de as pagar!

Comandam este alarido
Os parentes do ferido:
Querem justiça ou vingança!
Faltam as provas; é pena!
Incerta a lei não condena
Ninguém, por desconfiança...

Fora o socorro eficaz:
Temos o pobre rapaz
Nos cuidados intensivos.
É dever da medicina
Vencer a bala assassina,
Para mantê-lo entre os vivos....

Aquele cirurgião
Fizera uma operação
Com êxito, felizmente.
Embora às portas da morte,
O jovem tivera sorte,
Pensa, alegre, toda a gente!...

Não me toques, vagabundo!
Hei-de partir deste mundo,
Cândida como nasci!
Mata-me já, porque esperas?
Antes viver com as feras,
Do que empeçonhar-me em ti!

Eu repugno-te, donzela?
Como te sentias bela
Junto daquele rapaz!
A bala foi bem mandada,
Porém encontrou fechada
A corte de Satanás!...

Que é das justiça dos Céus?
Que pecados são os meus,
Para ser tão castigada?
Resistir, não me é possível,
Neste presidio terrível,
Dum algoz acompanhada!...

Podes berrar à vontade;
Ninguém tem capacidade
De arrombar meus aposentos.
Estão lá fora os cães de guarda;
E aqui... a minha espingarda,
Que aniquila os movimentos...

Já sei não tenho ilusões;
Da caverna dos leões,
Já mais alguém sai com vida!
Portanto, vil carniceiro:
Vibra o golpe derradeiro!
Tenho pressa na partida!

Não serei tão insensato:
Brincar ao gato e ao rato,
É diversão para rir!
Por nada te quero morta;
Bem vivinha é que me importa:
Teu corpo hei-de eu possuir!

Jamais! Enquanto eu viver,
Tal não há-de acontecer;
Só se eu perder os sentidos!
Morrerei, mas a lutar;
Talvez alguém, ao passar,
Bem possa ouvir meus gemidos!

Avança, génio do mal;
Desfecha o golpe final,
A ver se eu descanso em paz!
Entre grandes e pequenos,
Um crime, a mais ou a menos,
Num verdugo... tanto faz....

O selvagem, iracundo,
Não hesitou um segundo,
E a moça no chão lançou.
Mas, naquela ocasião,
Forçando a porta, à pressão,
Um homem fogoso entrou...

Com um soco, à queima-roupa,
O forte guarda não poupa
Aquele grande canalha!
Hei-lo a seus pés subjugado;
O seu rosto, avermelhado,
Mais parece uma fornalha...

Na melhor ocasião,
Chegou a libertação
Desta moça, finalmente.
Foste apanhado, Adelino;
E na prisão, teu destino,
Julgo será mais decente...

Tu és parvo, ou brincalhão?
Grande bandido, ladrão,
Que a minha casa assaltaste.
És gatuno, e não policia,
Vê-se bem pela perícia
Com que tu me dominaste!

Oh, que homem de alta ciência!
Bem falas com a experiência
Própria da tua conduta!
Sabes que tive uma ideia?...
Encerrar-te na cadeia,
Ali ninguém mais te escuta!...

Isso não conseguirás.
Daqui não me arrancarás;
Eu bem me sei defender.
Porque razão aqui vens?
Qual o direito que tens
Na vida desta mulher?!...

Essa prova é convincente?
Acha-la suficiente
De me levar à prisão?
Só por ela não irei.
Queres deturpar a lei?
Apresenta outra razão.

Tanta genica me espanta.
Terás tu, pulha, garganta,
Para a justiça abafar?!
És uma cabeça fina.
Quem sabe se esta menina
Tudo me possa contar?...

Não o sabe, infelizmente,
Porque se encontrava ausente
Quando o desastre se deu.
O rapaz ia sozinho...
Porquê tanto burburinho,
Se ele, afinal não morreu?!...

Vejam só: que maravilha!
Caíste numa armadilha
Por ti próprio construída:
Quem te disse, meu burrinho,
Que o moço andava sozinho,
Quando ia perdendo a vida?!...

Eu sei lá! Ouvi dizer...
Vai-te, não te posso ver!
Ele não era meu filho.
Venha o diabo e me valha;
Por causa desse canalha,
Arranjam-me um bom sarilho!

A vitória é da razão:
Afinal este aldrabão
Não se consegue explicar.
Ironias do destino...
Numa masmorra, Adelino,
Teus pecados vais pagar...

A jovem, desfalecida,
Completamente esquecida
De tudo o que o tio fizera,
Tristemente soluçou:
Perdão em vão implorou
Ao homem que ali viera:

Oh, minha pobre criança!
Porque não tens confiança
Naquele que nos criou?
Pode ser que Ele algum dia
Te restitua a alegria
Que por ora te roubou...

Nada mais tenho a pedir;
Já que não me pode ouvir,
Sou vitima da má sorte.
Ai, que martírio sem fim!
Porque hei-de sofrer assim?!
Oh, como desejo a morte!

Custa-me ver-te penar;
Mas tenho de encarcerar
O bárbaro na prisão.
São ordens que irei cumprir;
Meu velho: toca a seguir,
Sem qualquer hesitação...

Serias tu o primeiro,
Meu valente carcereiro,
A fazer-me obedecer.
Desprezo a tua ironia:
Quem as feras desafia,
Terá que se defender...

Muito bem te classificas;
Como tal, agora ficas
Enjaulado na prisão.
Modera a tua revolta;
Já viste feras à solta?
Só nas selvas; aqui, não...

Adelino, fulo, irado,
Lançou-se, desenfreado,
Ao guarda, que o algemou.
Com ele se foi embora;
E, sem nenhuma demora
Na cadeia o encerrou.

Já vencido, o criminoso,
É bem menos perigoso;
Preso, espera o julgamento.
O guarda ao juiz narrou
A conversa que escutou,
Antes do arrombamento:

Na masmorra, o criminoso,
Lembra um tigre furioso;
Vamo-lo todos ouvir.
Que demo-nos impaciveis:
Os seus projectos horríveis
Quase nos fazem fugir...

É grande a minha fadiga.
Ah, maldita rapariga!
Teu sangue me há-de pagar!
Que mel puseste na voz?
Enganaste o meu algoz,
Com esse teu lamentar!

Mas deixa lá, cara linda,
Que a minha vingança, ainda,
Pesada, se há-de sentir.
Ias fugir, por amor!?
Costuma rir-se melhor
Quem for o ultimo a rir...

Se não o matei agora,
Não perde pela demora;
Outra altura há-de chegar
Não fico aqui toda a vida:
Morre o Chico e a Margarida,
Que não chegam a casar!

Na cela, bem disfarçado,
Um microfone instalado,
É cilada bem mordida.
E o que Adelino berrava,
Um guarda, atento, gravava,
E ao chefe era transmitida...

Não precisamos de mais:
Temos as provas cabais,
E que ele próprio emitiu;
Bem nítida, a gravação:
Seus planos são confissão
Que, imprudente, lhe saiu...

Passemos ao hospital:
Lá recupera, afinal,
Um jovem cheio de ilusões.
No seu cérebro cansado,
Não menos amedrontado,
Lutam enormes paixões:

Ora viva! Até que enfim!
O que desejas de mim?
Fala, menina, à vontade.
Como soubeste o caminho?
Parece que adivinho,
Pelo teu ar de ansiedade...

Se adivinha, realmente,
Irá ser benevolente,
Porque tem bom coração:
Não me poderá deixar
Um momento visitar
Esse infeliz... na prisão?!...

Não podes; tem paciência.
Cometes uma imprudência,
Vindo, assim, desprevenida.
Esse homem está muito irado:
Sentia-se bem vingado,
Pondo fim à tua vida!

Crê, senhor, que isso é possível?!
Seria uma acção terrível!
Até o sangue me gela!
Mas... faça-me meu amigo:
Não haveria perigo,
Se eu lhe falasse, à janela...

Nobres são teus sentimentos.
Aguarda, então, uns momentos,
Que eu já te dou a resposta.
Mas tens de me prometer
Que em tudo hàs-de obedecer
À lei que te for imposta.

Suas ordens cumprirei;
Quer defender-me, bem sei;
Grata me devo mostrar.
Concedo a autorização,
Pois às grades da prisão
Podíamos conversar...

Sai o guarda, comovido,
Meditando no pedido,
Fica a moça em suspensão.
Abre a prisão, arrogante,
E, com ar de comandante,
Começa um breve sermão:

Pago o que talvez não fiz.
Porém deixa essa infeliz,
Que à janela me apareça.
Conversemos calmamente;
Se gente não come gente,
Talvez tudo se esclareça...

Os olhos te vou vendar;
Com ela podes falar,
Se é da tua geração.
Não a verás, todavia:
Um descuido, poderia
Ser a sua perdição...

Pois nem a posso já ver?!
Só me resta obedecer,
E as tuas ordens cumprir.
Vais fazer-me uma vontade:
Quero as mãos em liberdade;
Eis o que eu te ia pedir...

Olá! Essa ideia é linda!
Amarrar-te as mãos, ainda,
Não era minha intenção.
Vê-se que nasci policia:
Só reconheço malícia
Nessa tua precaução...

Desditoso condenado:
Não és mais acreditado,
Mesmo que mostres franqueza!
Um presente lhe daria;
Julgo que ela aceitaria.
Tu em mim só vês vileza!

Que presente é esse, agora?
Onde o compraste? Lá fora?
Queres comer-me por tolo?!
Tudo o que lhe queiras dar,
A ela eu farei chegar...
Meu velhote, sem miolo!

Bonita a tua lembrança:
Se em mim não tens confiança,
Como posso tê-la em ti?!
És dono da força abusas;
Como tudo me recusas,
Retira-te já daqui!

Sem a pistola fiquei;
Ainda não me vinguei,
Porém chegou o momento.
Serei muito generoso:
Tenho um presente jeitoso
Para aquele casamento...

Vem, pois, querida menina;
Como és delicada e fina,
Bem podemos conversar.
Esse malvado polícia
Mais do que eu, teve malícia,
E acabou por me apanhar!

Nesta masmorra encerrado,
O rancor tem-me arrasado,
E vai agora explodir.
Se um dia me apanho à solta,
Irei pôr tudo em revolta,
E depois, morrer a rir!

Prevendo mais confissões,
Um guarda faz gravações,
Que muito hão-de esclarecer.
Levadas ao tribunal,
No julgamento final,
Ninguém o vai absolver...

Deu ele uma gargalhada,
De um rugido acompanhada
Capaz de assustar um morto.
Que horrores mais concebera?
Não era homem, mas, fera,
Numa jaula, sem conforto...

Brevemente se verá
O que ele conseguirá
Com aquele riso atroz.
Que pérfida criatura!
De dentro da sala escura,
Num ronco lhe sai a voz...

Alguém para ali caminha,
Pois seu ouvido adivinha
Que algo vai acontecer;
Logo à grade se encostou,
Deste modo começou
A falar, sem ninguém ver...

Ao receber tal pancada,
A jovem, descontrolada,
Deu um grito e desmaiou.
Só agora conhecia
O monstro com quem vivia,
Que o seu doce lar roubou!...

Contudo o prisioneiro,
Com um riso galhofeiro,
Ao sermão deu seguimento.
Não soube o que se passava;
Como ninguém replicava,
Fez um grande juramento:

Tens um tio de maravilha;
Agora, vai, minha filha,
Podes casar à vontade.
Na minha casa, porém,
Não entrarás com ninguém;
São ordens da majestade.

Acaba com essa fita,
Senão a língua maldita,
Pode-te ser arrancada!
Amparem essa pequena...
Ver-te vivo faz-me pena!
Vou matar-te, com porrada!

Tudo me podes fazer;
Não sou homem de tremer,
Deves conhecer-me bem.
Anda salva essa andorinha;
Se está no ninho sozinha,
Consola-a, como convém!

Seu canalha; isto é demais!
Teu corpo mostra sinais
De uma abjecta corrupção!
Não temes nenhum castigo?
Nem mereces este abrigo
Duma cela, na prisão!

O guarda, que assim falou,
Adelino fustigou,
Coberto pelo furor.
Bateu-lhe até se fartar;
Muito a custo o fez calar,
Vergado ao peso da dor.

Na luta dos bem formados,
Que vivem injustiçados,
As duvidas aparecem!
Se a força vence a razão,
As vitimas que farão
Gemem: “todos nos esquecem”!...

Os olhos de Margarida
Choram, ao ver-se perdida,
Sozinha, entre a multidão!
Que pode fazer agora?
Vai-se já dali embora...
Foge daquela prisão!

Oh, Céus! Como pode haver
Gente capaz de fazer
Tanto mal aos semelhantes?!
Quem semeia a desventura,
Decerto ignora a ternura,
Ou nunca a teve, uns instantes...

Mais algum tempo passou;
Eis que alguém se aproximou
Dum enorme casarão,
A cuja porta bateu;
Margarida apareceu...
Como bates, coração!...

És tu?!... que felicidade!
Oh, quanta necessidade
Eu já tinha de te ver!
Vou depressa abrir-te a porta;
Ai, como eu já estava morta!
Vens fazer-me reviver?!....

Aberta de par em par,
A porta deixou entrar
Um jovem apaixonado.
Vitória do amor sublime,
Que não sucumbira ao crime;
Chega ao seu sonho dourado!

Ambos, louquinhos de amor,
Abraçam-se com fervor,
Trocam beijos de paixão!
Silêncio é o seu falar,
Sem frases, o palpitar:
Como exultas, coração!

Tenho de me retirar;
Amanhã hei-de voltar;
A demora será pouca.
Adeus, meu lindo amorzinho!
Não vou, sem mais um beijinho
Nessa fascinante boca!...

Adelino foi julgado:
Facilmente condenado
Pela sua própria voz.
Desmascarou-se, o vilão;
Trinta anos de prisão
Foi a pena desse algoz.

Perdera todo o vigor,
Ouvindo, num gravador,
Sua voz inconfundível.
Vomitando tanta injuria,
Traíra-o a sua fúria:
Defender-se... era impossível.

Se fosse para o degredo,
Sossegávamos, sem medo
Comenta a população.
Fez-se justiça, afinal:
Quem causara tanto mal,
Não merecia perdão.

Agora os dias voavam;
Os noivos não mais paravam,
Apressando o casamento.
Com a maior alegria
O mancebo cumpriria,
Feliz, o seu juramento.

Com o lar reconquistado,
Ela vê, no seu amado,
Toda a ventura perdida.
Ser órfã não lhe esqueceu:
Das tristezas que viveu,
É esta a maior ferida!

Casaram-se, finalmente;
Podiam seguir em frente,
Realizar-se, afinal!
Gratos, oravam aos Céus,
Pedindo as bênçãos de Deus,
Naquele amor conjugal!

Com mil diabos! Perdi!
Mas remorsos não senti:
Jamais pedirei clemência!
Eu todo sou altivez.
Castiguem-me duma vez.
Nunca temi a violência!

Continua a rebeldia,
Ainda que a teimosia
Fracassasse totalmente.
Sentimo-nos bem vingados;
Como vês, estamos casados!
Nosso amor foi mais valente...

Olha lá! Grande avaria!
Só demonstras valentia,
Comigo aqui na prisão!
Vai-te, com essa mulher,
Porque não a posso ver.
Deixa-me em paz grande cão!     Somente a religião,
Em que uns crêem, outros, não,
Afirma sempre haver Deus!
E quem nela acreditar,
Deve confraternizar
Quer com cristãos ou ateus...

Sem pretensões de vanglória,
Concebemos esta história,
Por gostarmos de escrever.
Que todos, e cada um,
Abraçando o bem comum,
Dignos, pudessem viver!...

Utópica, esta ambição!
Mas que nunca a frustração
Nos impeça de sonhar!
Único bem da pobreza,
Cuja fome, na incerteza,
Não consegue aniquilar...

Pedindo-vos atenção
Para uma narração
Que me proponho fazer,
Provarei que, na verdade,
Por uma felicidade
Lutamos, até vencer...

E, se há no mundo honradez,
Á mistura malvadez,
Prevejo um jogo sem fim.
Quem poderá triunfar?
Vamos ver com cuidado, entrar
Num romântico jardim...

Doce e adorada Guidinha:
Serás do meu lar rainha;
Porque foges deste amor?!
Eu morro de expectativa,
Ao ver-te na defensiva.
Não me julgues sedutor!

Que poderei eu fazer?
Não me vou comprometer;
Correria um grande risco!
Nasci com sorte ruim!
Deixa-me, neste jardim,
Em paz, e vai-te, Francisco!

Amargos dezoito anos
Já não chego a fazer planos,
Tais são estes dissabores!
Meu tio só sabe dizer:
“Se comigo hás de viver,
Nem penses em ter “amores”!”

Ele não dispõe de ti;
Quer guardar para si?!
Canalha! Será capaz?!
Oh, não! Luz da minha vida!
Senão estás comprometida,
Só comigo casarás!

Santo Deus que tenho medo!
Prometes guardar segredo
Do que te vou revelar?
Não estou comprometida;
Mas arrisco a minha vida,
Se ele aqui nos apanhar!...

Eu desfaço-o em pedaços!
Sou jovem, tenho dois braços,
E jamais vacilarei,
Acredita, Margarida:
Se ele te oprime, querida,
Por ti esmagá-lo-hei!...

Oh, como sou desgraçada!
O falar não custa nada,
Quando a vida nos sorri!
Talvez seja uma imprudência:
Quem sabe se a convivência
Me fará gostar de ti?!...

É essa a minha ilusão:
Conquistar teu coração,
Fazer-te feliz, um dia,
É tudo quanto desejo;
Acredita que em ti vejo
A mais doce companhia!...

Impulsos, frases banais;
Romantismo, ou pouco mais,
São frutos da juventude!
Porém quem vive, indefesa,
Vergada pela vileza,
Já não sonha, nem se ilude...

Que remédio! Bem me custa!
Sua presença me assusta,
Mas não tenho alternativa!
Maltratou sempre a mulher;
E agora, é fácil saber:
Levou-a, e já não está viva...

É isso que nos revolta!
Deixam tais feras à solta?
Mais crimes vão cometer!
Por triste fatalidade,
Faltam provas, na verdade,
E... não podem prender...

Vês porque sou infeliz?!
Do relato que te fiz,
Tira as tuas conclusões.
Eu... só desejo o meu fim!
Afasta-te já de mim:
Não posso ter ilusões!...

Nunca! Jamais , alma minha!
Vamos, querida Guidinha,
Fugir desta escravidão!
Mesmo sem casar contigo,
Enfrentarei o perigo;
Dispõe deste coração...

Desculpa a minha franqueza:
Em ninguém vi tal nobreza,
E fiquei na defensiva.
Se assim me vens apoiar,
Só contigo hei de casar,
De amor sinto-me cativa!

Casarás, se Deus quiser!
Lutemos até vencer;
Os crimes serão punidos!
Oh, doce felicidade!
Quando estarão, na verdade,
Nossos corações unidos?!...

Imprudente juventude!
Como a boa fé te ilude,
Se lutas a descoberto!
Não desconfias de nada!
Espreita a mais vil cilada...
O cobarde está bem perto...

E agora? Onde se escondera
Quem tais crimes cometera?!
Há-de paga-las, um dia!
Tal homicídio abortara,
Porque o bandido falhara,
Por um triz, a pontaria...

Quando pela rádio ouviu
Que o ferido resistiu,
A jovem fica excitada:
Algo secreto lhe diz
Que ainda será feliz;
Ao tio não oculta nada.

Totalmente decidida,
Poderá expor a vida,
Mas aprendeu a lutar.
Enfrenta aquele assassino:
Só ela viu Adelino
No seu amado atirar...

Dono e senhor do terreno,
Contempla-a com ar sereno:
Tem-na, enfim, ao seu dispor.
Não pretende usar mais balas:
À força ou com boas falas,
Há-de sair vencedor...

Não sou assim tão canalha!
Apaga-me esta fornalha,
Mata-me a sede, com beijos!
Cedo ou tarde serás minha;
Isto é tão simples, mocinha!
Todos nós temos desejos!...

Enojas, porco, ladrão!
Antes a morte, vilão!
Alguém me há-de justiçar.
Deixa-me, verme ruim;
Só rancor verás em mim.
Não me farás vacilar!...

Matar-te, linda pequena?
Acredita, faz me pena?
Não ligo à tua altivez.
Vamos cá trocar carícias,
Pois recusar tais delicias
É prova de insensatez.

És tola? Porque não queres?
Não saberás que as mulheres
Vibram nos jogos de amor?
Eu não sou tão feio assim!
Bastará que digas sim,
E findará a tua dor!...

Se não consigo piedade,
Porquê tanta crueldade
Com a filha de um irmão?!
É demais, tanta peçonha!
Eu sinto nojo, vergonha,
Ser da sua geração!

Toma lá, grande atrevida!
Este remédio dá vida,
É eficaz seu efeito:
Vibrar uma bofetada
Em altura apropriada,
Sempre teve o seu proveito...

Afinal, que quer eu faça?!
Dentro da minha desgraça,
Não me posso defender?
Mãezinha, se fosses viva...
Mas, sendo escrava cativa,
Só me resta... obedecer!...

Falas com grande altivez;
O remédio não te fez
O efeito desejado.
Terá de ser repetido;
Fica melhor digerido,
E apanhas do outro lado.

Pensa que ao dar-me na cara,
Me verga, como uma vara,
Que o vento faz o que quer?
Só demonstra cobardia
Quem os fracos desafia,
Espancando uma mulher...

Vejam-na, tão agressiva!
Não ficas mais tempo viva,
Pronto esgotei a paciência!
Uma vez que sou cobarde,
Não guardarei para tarde:
Sucumbirás á violência!

Honro a minha profissão:
Defendo a população,
Que prometi proteger.
Nas boas ocasiões,
Caço assassinos, ladrões,
Como agora podes ver...

Vens de cacete empunhado,
Dos pés à cabeça armado,
Não escondes tua intenção.
Demonstras astucia e ronha;
Mas não tiveste vergonha:
Apanhaste-me à traição!

É boa! Não usei balas!
Com que então és tu quem falas
Desse modo para mim!
Responde tigre vencido:
Quem deixou alguém ferido,
Há dias no teu jardim?...

Põe-te, patife, na rua!
Se essa justiça insinua,
Não tens cara de juiz
Ser eu aqui insultado,
Ter de ouvir este malvado
Culpar-me do que não fiz!...

Falas tão ingenuamente...
Tens mesmo um ar inocente...
Sabes bem representar!
Mas a mim ninguém me vira!
Prova que digo mentira,
Meu cidadão exemplar...

Vens aqui sem fundamentos;
Quais são os teus argumentos,
Se é que existem, na verdade?
Porque me acusas assim,
Se vou tão pouco ao jardim?!
Que tremenda falsidade!...

As provas que te vou dar
São capazes de esmagar
Essa tenaz resistência.
Ouvi tudo o que dizias:
Esta jovem seduzias...
Segue-me, tem paciência!...

Senhor guarda: caridade!
Não use de crueldade
Com aquela criatura!
Só Deus é que nunca errou;
O meu tio não ponderou,
Se é que fez essa loucura!

Lamento não pode ser:
Que vim eu aqui fazer?
Este homem não tem perdão.
O seu momento chegou:
Não sabes que ele atentou
Na vida de um cidadão?!...

Estou mais só e abandonada!
E, se esta casa á violada?
Que horror! Posso ser, também!
Cálice amargo de fel!
Senhor, não seja cruel!
Renasce, querida mãe!

Menina: é preciso calma!
Teu sofrer me corta a alma,
Mas causa também surpresa.
Este bruto irracional
Só não te arrastou ao mal,
Por eu ser tua defesa...

Apesar de mal tratada,
Sempre estava acompanhada,
Neste grande casarão!
Quando o povo ai souber
Que aqui vive uma mulher...
Oh, meu Deus! O que farão!

Como eu lamento essa dor!
Quanto, quanto dissabor
Tu já não terás passado!
Algo secreto me diz
Que serás muito feliz,
Nos braços do teu amado!

Pois leve-o para a prisão;
Se o crime não tem perdão,
Adeus, pobre criatura!
Vão-se os meus queridos entes:
E, de todos os parentes,
Só me resta... a desventura!

Tive de agir de rompante,
Senão aquele tratante
Mataria a Margarida!
Tenho um oficio arriscado;
Mas dominei o malvado:
Foi um sopapo à medida...

O clima era de euforia:
Toda a gente, em cada dia,
Rejubila, ao comentar:
Maldito, foste apanhado!
Devias ser fuzilado.
Teus crimes tens que pagar!

Volta, “santa inquisição”:
Teus juizes queimarão
O monstro numa fogueira.
Mas que seja a fogo lento,
Para que o seu sofrimento
Dure uma semana inteira!...

Se ele roubou e matou,
O seu momento chegou;
Quis violar a sobrinha!
Se o guarda não aparece,
A pequena desfalece...
Deus acudiu-te Guidinha!

Ela tinha pouca sorte;
Mas soube enfrentar a morte,
Com a maior valentia.
Pode agora descansar...
Certamente há-de casar
Com o seu Chico!...

E o tiro que ele apanhou?
Por sorte não o matou;
Mais uma desse Adelino!
E as mortes, em alto mar?
Ninguém as sabe explicar.
Pois foi ele o assassino!

Cada um tem sua sorte:
Quando uns desejam a morte,
Outros confiam na vida...
Um, no hospital entrara
Outro, na prisão ficara;
E ela? Julga-se perdida...

Minha formosa donzela!
O que será feito dela,
Agora, neste momento?!
Como temo o seu destino!
Aquele tio assassino
Não me sai do pensamento!

Sendo um monstro irracional,
Já nasceu a fazer mal;
Quer-me roubar a alegria!
Porém não conseguirá,
Porque a Guidinha será
A luz do meu dia-a-dia!

Cunhada e mulher matou;
Nem o se irmão escapou,
Mas tem os dias contados.
Por ser de construção forte,
Eu não tive a mesma sorte,
Para mau dos seus pecados!

Como não fiquei defunto,
Há-de paga tudo junto,
Quando eu me recuperar.
Não erraste a pontaria;
Mas descansa, que algum dia,
Contas vamos ajustar...

Meu amor, não desanimes!
Deus não permite mais crimes:
O pulha será punido!
Ao recordar tua imagem,
Grande fé tenho, e coragem:
Os Céus ouvem meu pedido!

A jovem, por sua vez,
Bem pouco mais nada fez,
Que chorar a triste sorte.
Mais paciência, Guidinha
Nesse pranto de andorinha,
Há-de vir quem te conforte!

Decidida caminhou;
Junto de um prédio chegou,
A cuja porta bateu
Aparentando nobreza,
E muita delicadeza,
Um homem a recebeu:

D. rebelde, atina bem:
Encontra-se ali alguém
Que te deseja falar;
Como andas tão furioso,
É melhor ser cauteloso...
E não a deixar entrar...

Desprezo a tua ironia.
Pretenderás que eu me ria,
Ou vieste aqui brincar?
Tua intenção é perversa;
Vai já, com essa conversa,
Para o inferno, gozar!

Oh, poço de iniquidade!
Caberá tanta maldade
Nesse negro coração?
Ouve, criatura ingrata:
Não sabes de quem se trata?
Da filha do teu irmão...

Não, não posso acreditar!
De certo estás a troçar!
Brincadeiras de mau gosto!
Mas se isso é verdade, enfim...
Deixa-la vir até mim;
Ficarei mais bem disposto...

Que brusca mudança, amigo!
Se ela quer falar contigo,
Só às grades da janela.
Tu não me dás garantias;
Eu sei lá o que farias,
Sozinho, com a donzela...

Prenderam-me por suspeitas,
E só me fazem desfeitas,
Nesta cadeia infernal.
Eu posso mudar de vida.
Deixa vir a Margarida:
Vai perdoar tanto mal...

De certo me julgas tolo.
Senão perdeste o miolo,
Chega atrasado esse pranto.
Deixar a tua sobrinha
Aqui, contigo, sozinha,
Ninguém se atrevia a tanto...

O guarda as mãos lhe algemou;
E no seu bolso encontrou
Uma pistola escondida.
Não ficou nada alarmado,
Pois havia adivinhado
Mais uma acção de homicida.

És filho da crueldade,
Neto da crua impiedade,
Vil é tua geração!
Procedes como ninguém:
Matar a quem te quer bem,
Eis a tua gratidão!...

Quando se viu desarmado,
O patife, aniquilado,
Já nem pôde responder.
Que policia espertalhão!
Falara muito, o vilão
Deitando tudo a perder...

E foi fechada a cadeia;
Fazendo uma cara feia,
Volta o policia, orgulhoso;
Viu a donzela, coitada,
Que espera a sua chegada,
E fala-lhe, pesaroso:

Olha aqui esta pistola:
Era o presente ou a esmola,
Que te iria receber!
Salvou-te a minha prudência:
Protegeu tua inocência,
Senão irias morrer...

Dou-te perdão, criatura!
Na prisão, sob a tortura,
Fica mesmo revoltado!
Deus te traga ao bem caminho!
Tens sido um pouco mauzinho;
Mas, sei lá: serás culpado?!

Ambos da sala saíram:
À prisão se dirigiram;
Que lhes irá suceder?!
Deixemo-los no caminho;
Vamos ouvir um risinho
Que nos faz estremecer:

Sobrinha do condenado,
Que já não é perdoado;
Culpam-no de criminoso.
Pois, minha linda mulher:
Vais agora conhecer
O teu tio, que é tão bondoso!...

Pois saibas já que vieste;
Se contigo alguém trouxeste,
O que procuram, terão,
Que doce vingança, enfim!
Vens recordar os jardim,
Quando “ele caiu no chão”!?...

As minhas mãos amarraram;
Os pobres vendaram,
Resta a língua, em liberdade!
Ela será triunfante,
Pois tem pólvora
De arrasar uma cidade!

Aqui me vens visitar;
Mas que bondade sem par!
Descansa não sou mendigo.
És mesmo um amor, Guidinha!
Temeram ver-te sozinha
Uns momentinhos, comigo...

Sempre esquiva e recatada,
Fugias à marmelada,
Pela qual tanto lutei.
Para nos braços te ter,
Irmão, cunhada e mulher,
Lá no mar alto afundei...

Volto só é tudo meu
Um desastre aconteceu,
Foi uma história inventada.
Como pertenço à família,
Fiquei com casa e mobília;
E tu?!... Comigo casada...

Mais um crime, pouco importa;
Não quiseste; ias ser morta,
Quando o polícia chegou.
Começa tudo a falhar;
Antes bem tentei matar
O Francisco, que escapou.

Pois este medicamento
Chegou mesmo no momento
Em que mais falta fazia.
Veremos se tal receita
No teu lombo se aproveita,
Causando-te anestesia...

Já está mais manso, o malvado;
Fica o guarda atrapalhado,
Pois não se pode bater.
Porém o que se passou
Tão revoltado o deixou...
Não se conseguiu conter!

A moça, tão revoltada,
Já bem mais recuperada,
Embora cambaleante,
Esta cena vislumbrou;
Com desespero falou,
Colérica e arrogante:

Morre, bruto, na prisão!
Já não te darei perdão:
Causaste-me a desgraça!
Ai deve ser teu fim.
Nada esperes mais de mim.
Não tenho bem que te faça!

Com que então meus pais mataste;
O que era nosso roubaste,
Quiseste gozar a vida!
De ninguém tiveste dó.
Forçaste-me a comer pó!
Apodrece, fratricida

Na minha própria morada,
Por ti era mal tratada,
Esmolando o meu viver!
Quantas vezes me batias!
De mim escrava fazias,
Sem eu me poder valer...

Mau Deus do Céu, perdoai-me!
Por vossa Mãe ajudai-me!
Cedi ao peso da cruz.
Reconheço que pequei...
Sendo humana vacilei:
Trevas venceram a luz!

Naquela felicidade,
Fogem da realidade,
Sonham coisas impossíveis!
Apertam-se, com loucura:
Ela suspira ele jura.
Julgam-se agora invencíveis!

Pois deixemo-los sonhar.
Têm direito de amar,
Satisfazer seus desejos.
Pelo muito que sofreram,
Que lutaram e venceram,
Vem a desforra dos beijos!...

Foi grande a satisfação;
Embora com lentidão,
A calma, afinal, chegou.
O rapaz, cheio de doçura,
Envolve a noiva em ternura,
Desta sorte lhe falou:

Oh, querida Margarida:
Comecemos nossa vida,
Após tanto sofrimento.
Ninguém nos vai separar;
Temos que nos apressar
Para o feliz casamento!

Seja já, sem demora!
Vamo-nos daqui embora,
A caminho de uma igreja!
Eu rebento de alegria!
Será este o feliz dia
Que o meu coração deseja?!...

Suceda o que Deus quiser:
Tu serás minha mulher;
Oh, sonho, és realidade!
Custou-nos sangue e suor;
Porém hoje o nosso amor
É terna felicidade!...

Sinto-me bem compensada,
Porque ser a tua amada,
É viver sempre feliz.
Meu coração enlouquece!
Santo Deus, que ouviu a prece,
Que humildemente Lhe fiz!

Sem ódio, com emoção,
Lá vão ambos à prisão;
Já não se podem conter.
Pelo guarda recebidos,
São ao preso conduzidos,
Que berra, e não os quer ver.

É, todavia, obrigado,
Pois continua algemado,
Por causa da rebeldia.
Fala-lhe o seu carcereiro,
Com ar gingão, zombeteiro,
E carradas de ironia:

Deixa-te de fazer fitas;
Eu trago-te umas visitas....
Dois jovens, recém casados.
Não se esqueceram de ti;
Vê lá andam por ai,
Felizes... apaixonados...

Bem se podem retirar;
Eu não os quero enxergar;
Temos nova pregação?!
Enquanto me resta alento,
Por prenda de casamento
Levam minha maldição!

Alto lá seu vagabundo:
Se falas mais um segundo,
Eu arranco-te as goelas!
Felizardo! Homem de sorte!
Aqui tens quem te conforte:
Uma jovem, das mais belas!...

Deixa, pois, a maldição;
Não feches o coração
A quem te vem procurar!
Se já não te arrependeste
Dos crimes que cometeste,
É tempo de ponderar...

Como foste derrotado,
Sentes-te desesperado,
Não te sabes reprimir.
Aumentando o teu furor,
Tu é que ficas pior,
Porque só nos fazes rir...

Queremos deixar-te em paz;
E de certo ficarás;
Não tem rancor nossa gloria.
A maior felicidade
Deu-nos a capacidade
De ser nobres na vitória!

Tentamos, contudo em vão,
Tirar-te desta prisão,
Mas a lei é inflexível.
O juiz foi peremptório:
Disse tal purgatório
Vai tornar-te mais sensível...

Acalma o teu vendaval!
Porquê ódio, se afinal,
Deus disse que és meu irmão?!
Nesta hora de ventura,
Lançamos-te, criatura,
O nosso eterno perdão!...






Este texto é administrado por: ANTÓNIO MANUEL FONTES CAMBETA
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