UM DERRIÇO EM VÁRIOS TONS
Naquela tarde de Agosto,
Um cavalo, mal disposto,
Enrabou uma gazela.
Esta grita, alvoraçada:
Mas que rica marmelada!
Puxa, que grande morcela!
Aparece uma avestruz,
Com o cu fedendo a puz,
Dos grandes peidos que deu.
Vendo ambos naquela cena,
Resmunga cheia de pena:
Palerma! Não viste o meu!?...
Olhem que pouca vergonha,
Diz a raposa à cegonha.
E arranja logo uma intriga.
Precisamos de uma orquestra;
Chega aqui, abelha mestra:
Coça-lhes bem a barriga…
Logo o insecto ordens cumpriu;
E nos dois introduziu
Várias vezes o ferrão.
Vargalhos! Não sentem nada!
Com febre tão elevada,
É mais forte a comichão!
Um macaco, no seu galho,
Diz ao urso: -Que trabalho!
Nunca vi tanta indecência!
Ri este. -Que pesadelo!
Mete respeito um marmelo
Tão grande. Não há carência…
Um camelo paneleiro
Sacode o lindo cagueiro:
Vem à caça de pixotas.
Isto até me dá saúde:
Cavalo, não sejas rude:
Consola-me, enquanto arrotas…
Em fúria, o nobre animal,
Arma ali um vendaval:
Vai-te, se não levas um murro!
Por quem me julgarás tu?
Desinfecta-me esse cu…
Cavalo nunca foi burro!
Grunhe um porco, fanfarrão:
Acabem a discussão,
Senão vão a tribunal!
Tenham respeito por mim.
Sabem porque falo assim?
Dos animais sou fiscal…
Não digas mais disparates.
Se não usas os tomates,
Caparam-te, certamente!
Grita a vaca, enfurecida:
Deixa-nos gozar a vida,
Dia a dia, alegremente.
Um mocho tocou guitarra.
A briga acabou em farra,
E a assembleia dispersou.
Viremos todos à esquerda,
Porque vou mandar à merda
Quem da história não gostou…
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