Ando inexato como um pato que errou o pouso,
caiu no lodo da lagoa nos fundos da montanha,
um descuidado passarinheiro que prendeu um corvo
pensando ser uma ave canora, ainda que estranha,
recolheu pedras vindas do espaço pensando serem ovos...
Mais inexato que o relógio abandonado pelo joalheiro,
a fundir realidade com sonhos, visões com arrepios,
um descuidado de bolsos furados, perdeu dinheiro,
que nadou numa poça pensando estar nadando num rio...
Ninguém sabe como veio para aqui e o que tem que fazer
para cumprir seu destino, se é assim que se pode dizer
de quem caiu como um meteoro num quintal abandonado,
como um pé de flor nasceu, inexata equação, desajeitado...
Eis-nos aqui, cisnes e bruxas, mansos e feras, bons e maus,
a vivermos nossos dias como quem saboreia a carne do tempo,
escrevendo a história do que seremos nas páginas do jornal...
Eis-nos aqui, sábios e turvos, frívolos e belos, simples e complexos,
a escolhermos o jogo para o tabuleiro estendido na imensidão,
ossos de palavras escritas e ditas pelos lábios do nosso coração...
|