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DOSSIÊ – COMO PROMOVER E PUBLICAR MANGÁS NO BRASIL
Caliel Alves dos Santos

Resumo:
Pra quem é roteirista e desenhista, irá produzir e divulgar seu material de maneira eficaz.



    O mangá é uma grande forma de expressão da cultura pop. O que antes era visto como um nicho acabou por dominar as bancas de todo o país. Embora no senso comum, essa chegada tenha iniciado no ano de 1999, eles aportaram aqui em 1908. De lá pra cá, o mercado editorial brasileiro e os mangás forma-ram uma relação simbiótica.
    Os japoneses ao chegar às terras brasileiras, trouxeram um legado maior do que a sua tradição milenar, também trouxeram uma transformação na cultura pop. A própria maneira de apresentá-la ao público foi uma inovação. O modelo de produção transmídia, ou seja, um produto cultural em massa que se desen-volve em várias frentes, foi uma delas.
    A orientalização da cultura de massa no ocidente é muito maior no Brasil do que em outros países da América, como por exemplo, os EUA, mesmo ele sendo um dos maiores percussores dos mangás. Ninguém mais poderá dizer que os mangás invadiram o Brasil, pois eles sempre estiveram aqui, como um processo vivo.
    O modo peculiar como as obras ficcionais japonesas tocam em seus fãs, é incrível. Todas elas têm o potencial latente de formar um público alvo. Os jo-vens são os maiores consumidores. No entanto seria errado dizer que mangá é coisa de adolescente, muitas obras de mangá inclusive, receberam premiações importantíssimas devido à complexidade das temáticas abordadas.
    Por tudo isso, é imprescindível dizer que os mangás não são apenas uma cultura de massa, mas um movimento de massa, e como tal, torna-se mais que uma mercadoria, ela é toda uma ideologia a cerca do que o mangá representa na vida de todos os otakus.
    No Brasil, esse processo levou menos de uma década para acontecer, sem levarmos em conta é claro os anos precedentes do big bang otaku no país. O mangá é um investimento de grande retorno, só trazendo risco a editora, caso ela falhe nos princípios atribuídos ao mundo dos mangás. Muito disso se deve aos frustrados lançamentos que iniciaram a publicação no país, e que não de-vem ser repetidos. Não mais, o mangá é um ótimo mercado.

MANGÁ INTERNACIONAL

    Usaremos o termo mangá internacional, já que para nós ocidentais, o mangá não é apenas um termo para designar a publicação, mas sim o estilo, ou seja, significa sua estética. Pois sim, a organização dos elementos figurativos no mangá é muito diferente do caricaturesco cartoon, o realismo do deban dessi-né, e o realismo fantástico do comics.
    Como estilo de quadrinhos, ele é produzido no mundo todo. Com variações ou hibridismo, os manhwas e os OEL, são os que mais se destacam além das produções japonesas.
    Outra questão diferencial do mangá é a sua divisão de gênero que ocorre não pela temática, mas sim pela idade e sexo dos seus leitores.

•     Kodomo: Seriam o equivalente no ocidente as obras infantis ou livres. São as histórias de maior apelo comercial no Japão. A maioria sempre vem acompanhada de uma grande intervenção transmídia, como brin-quedos, vídeo games, animes etc.

•     Shonen: Obras voltadas aos adolescentes masculinos de 12 a 18 anos. São as mais vendidas em todo o mundo. Inclusive, foi nesse gênero que se criou a filosofia Shonen Jump — Amizade, Esforço e Vitória — que tem grande apelo comercial entre os jovens. Esse mangá aborda sempre a superação seja ele em qualquer aspecto, esporte, aventura, fantasia, comédia romântica, e muitos outros. Devido a isso, é comumente usado a variante B-Shonen quando se aplica a visão da ação.

•     Shoujo: Mangás voltados para as garotas adolescentes. O segundo maior em termos de vendas. Esse estilo enfoca o olhar das garotas pe-rante a vida. Apesar de ter praticamente ter sido criado por um homem — Osamu Tezuka — a maioria das autoras são mulheres. Tendo um estilo de traço bem característico em relação às outras. Um subgênero é o Shoujo-mahou, no qual as histórias pendem mais para a fantasia.

•     Seinen: São os mangás voltados para o público masculino adulto, acima dos 18 anos. Além do maior grau de nudez, violência e sexo, as temáticas costumam abordar temas mais pesados e sombrios, onde as histórias são bem complexas. O traço é comumente mais realista.

•     Josei: Estes são voltados para a mulher adulta. O traço costuma ser simples, a história se volta mais para o cotidiano das mulheres, e pas-sam a abordar a problemática, privações e anseios da mulher adulta.

•     Gekiga: De todos os apresentados, esse é o que mais lembra o estilo ocidental de quadrinhos. Temáticas adultas, traços realistas. São os mais cultuados entre os fãs, e os menos publicados no Brasil.

    Claro que os seis gêneros de mangás aqui listados, são apenas ilustrativos. Tem uma enormidade de subgêneros que acabam por rotular os leitores em alguns casos. Independente da ótica lançada sobre eles, além do transmídia, é importante ressaltar que os mangás têm ordem de leitura inversa a ocidental. O que antes era visto como um grave problema técnico, hoje é uma das exigên-cias a cerca da experiência que os otakus desejam usufruir dos seus títulos.
    Outro quesito importante para analisar mais a fundo seu sucesso é o seu traço anatômico peculiar. A boca pequena e os olhos grandes garantem maior expressividade, além do humor constante que acompanha todas as obras —excetuando o gekiga —, torna a leitura divertida e interessante.
    A narrativa no mangá sempre parte do dinamismo, a imagem, não o texto tem maior relevância. Diferente da abordagem dicotômica do comics, maior expoente dos quadrinhos ocidentais, as personagens em mangá são sempre mais redondas, suas motivações, psicologia, visão de mundo são sempre mais complexas.
    O mangá, não é apenas um produto comercial, mas um registro artístico da sociedade humana, não foi bem trabalhado pelo mercado editorial brasileiro. As falhas apresentadas logo no início tronaram-se modelo padrão de publicação.
    Na década de 80, quatro editoras brasileiras se arriscaram a trazer títulos japoneses para publicar no Brasil. Foram elas a Nova Sampa, a Editora Cedi-bra, Editora Globo e por último Editora Abril. Apesar da ótima escolha de títulos, entre eles Lobo Solitário, Akira, Mai – A Garota Sensitiva, A lenda de Kamui, e outros.
    Alguns devido a problemas técnicos e financeiros, não chegaram a ter mais de dois de seus volumes lançados. E como muitos ainda continuam sem serem relançados no Brasil, tornaram-se edições de colecionador, das quais não poderíamos definir um preço.
    A situação só mudou nos anos 2000. Embora essa mudança tenha sido gra-dativa. A Editora Conrad — Ex-Editora Acme — adquiriu os direitos de publi-cação de dois dos maiores sucessos em termos de anime e mangá no Brasil, são eles Cavaleiros do Zodíaco e Dragon Ball. Os títulos foram lançados no sentido de leitura oriental, onomatopéias legendadas, capa nos dois lados, e cada volume era dividido em dois.
    Apesar da notoriedade da iniciativa, ocorreram graves erros, tendo o conhe-cimento do presente momento do mercado, muito disso se deve ao bom mar-keting — incluindo comerciais na televisão! — e do mercado unilateral naquela época. Mas não podemos desmerecer a investida da Conrad, sem ela, mangás ainda seriam relegados ao plano de nicho e não de mercado acessível.
   A segunda editora a investir no mercado de mangá, foi a JbBC. Trazendo quatro títulos, com o mesmo apelo comercial, ou seja, obras já conhecida pelo público. Os leitores estavam definidos desde antes do lançamento. No entanto, a qualidade gráfica era bastante baixa, a tinta saia com o simples esfregar dos dedos!
    A terceira a lançar mangás foi a Mythos Editora, os direitos de publicação foram conseguidos de maneira ilícita, causando um desgaste muito grande com os otakus, pois o título foi sumariamente cancelado. O formato também não ajudava — uma antologia com três séries diferentes, O Superalmanaque Mangá —, o que causaria um gasto dispendioso para o leitor.
    A quarta foi a Editora Escala, apesar de suas boas ideias e eterno incentivo a cultura pop, seu mangá, Ozanari Dungeon foi lançado de forma obscura, a qualidade era tão duvidosa que dos 17 exemplares que deveriam ser publica-dos, apenas 4 chegaram a ser publicados. Além de cometer o mesmo erro da Mythos, comprou o direito de publicação de Gunm - Battle Angel Alita — não posso dizer com que intuito eles usaram o título original e o americanizado ao mesmo tempo? — através de um falso representante, cancelando o mangá.
    Após dois anos, alguns avanços já haviam sido conquistados. Mais editoras tomaram a iniciativa. Lançamentos em eventos de cultura pop foram feitos. Ou-tra vitória que só seria comemorada anos depois foi o lançamento do mangá Inu-Yasha, que duraria 122 edições — no original eram 56 volumes.
    A quinta e mais importante editora, que hoje podemos considerar a líder no mercado de publicações, foi a Panini. A editora italiana que já tinha a supre-macia de publicações dos comics — e ainda a possui — garantiu seu sucesso comercial e bom relacionamento com os otakus ao longo dos anos, pois seus primeiros títulos contavam com os mesmos erros que as antecessoras.
    Depois da Panini, muitas outras editoras trouxeram mangás para o Brasil, nem sempre da forma que deveria. Pergunta-se o leitor deste dossiê, quais seriam, pois bem, verificaremos:

•     Formato: Os mangás primevos eram lançados no formato meio-tankohon — adiante falarei de todos os formatos —, quando os tanko-hon foram publicados, os otakus viram como os meio-tankohon eram aflitivos e onerosos, por demorarem mais.

•     Qualidade gráfica: Na tentativa de economizar, as editoras utilizam papel jornal, no início alegava-se maior aparência com os originais, o que se mostrou um factóide ao longo do tempo, hoje os otakus dão maior preferência a títulos com maior qualidade gráfica, mesmo que tenham que pagar mais. Outro fator bastante incômodo para os otakus é a capa nos dois lados, tal técnica usada para reconhecimento do mangá é atual-mente desútil, estamos há mais de quinze anos com sua presença, os otakus desejam as ilustrações inéditas e resenhas na contracapa.

•     Tradução e adaptação: Uma das maiores queixas do otakus, editoras chegaram ao cúmulo de colocar palavras da língua portuguesa errada — Uma demonstração de total incompetência e indiferença, o mais básico de uma editoração eles não se propuseram a fazer que é a revisão dos textos — como vroce, tanem, amanniam. Títulos de mangá contêm a mesma displicência que os de anime, como o horrível Samurai Warrior — além de não fazer jus ao original Yoroiden Samurai Troopers significa “Lendária Tropa Samurai” — que significa “Guerreiro Guerreiro”? Outro mau exemplo é o mangá Karekano – As Razões Dele, Os Motivos Dela, a partir do momento que traduzimos o título, são necessárias siglas do original? Onomatopéias é um caso a parte, algumas editoras optam por traduzi-las, e outras legendam, algo que deveria ser deixado de lado, pois softwares e programas atuais conseguem traduzir e manter a estética da página. Quanto à tipografia, chega a ser absurdo o mau uso desse recurso, que pode tanto ajudar na leitura, como prejudicá-la, no último caso, muitas editoras pecam.

•     Respeito ao original: Essa consideração diz respeito ao mangá brasileiro conter tudo que está no titulo estrangeiro. Muitos dos extras e bônus como comentários do autor, páginas coloridas, biografia, rascunhos, contracapa etc. O mangá é uma leitura muito dinâmica e sintética, tais recursos dão a impressão de maior tempo de leitura, tudo isso torna o título rico e com maior chance de vendagens.

    O formato é um dos motivos pelos quais o mangá no Brasil pode ser um su-cesso fenomenal ou um fracasso retumbante. Os formatos estrangeiros ou ja-poneses nem sempre correspondem aos publicados no país. No Japão e na Coréia do Sul, por exemplo, os títulos são publicados em grandes antologias do tamanho de listas telefônicas. Após fazerem sucesso, são lançados em volu-mes separados para colecionadores, esses são chamados tankohon.
    Aqui usaremos o termo formato numa maior amplidão. No Brasil, esse for-mato de publicação de mangá é bastante diversificado. Cada uma inclusive adotou o seu formato, o que acaba dando até maior identificação. Não impe-dindo é claro que outras a usem.
    Essa convenção do que é o formato é importante, pois esse aspecto já colo-cou muitos mangás no limbo, e também já causou muito problema para as edi-toras, principalmente na quantidade de páginas. Ninguém quer pagar 100% e levar 99%. A editora deve tomar cuidado na escolha do formato. São eles:

•     Meio-tankohon: Equivale a metade do original japonês, ou seja, cada volume original é dividido em dois, esse formato já se mostrou obsoleto devido ao tempo e os gastos.

•     Tankohon: É um volume completo, assim como os lançados no Japão. O mais usado atualmente e que acaba por melhor satisfazer os fãs.

•     Kazenbam: Ou também chamadas de edições definitivas, elas reúnem numa única edição vários volumes, sendo assim mais caras e mais tra-balhadas.

•     One-shot: São mangás de volume único ou histórias curtas, de 15 a 50 páginas ou mais.

•     Yon-Koma: Muito parecidas com charges e tirinhas ocidentais, a diferença é que são publicados em 4 quadros na vertical, alguns mangás nesse formato já foram lançados no Brasil.

•     Box: Geralmente usados para mangá curtos ou de edições únicas, man-gás em novas reedições também podem ser lançados, ou em comemo-rações, etc.

    Outra maneira de garantir o sucesso de um título é investir na deficiência de outra editora, as motivações para isso são simples: Primeiro a editora acaba inovando no mercado, atraindo um novo público, além de mostrar aos otakus que o empenho da empresa é trazer renovação; Por último, a editora não irá competir público com a concorrente — principalmente sendo nova no mercado de mangás —, assim ela garantiria um público fiel, e depois poderia diversificar ao longo do tempo.
    Muitas das deficiências da concorrência são muito fáceis de serem percebi-das, são necessários apenas um pouco de análise prévia, os pedidos dos fãs também contam desde que sejam em número relevante. Ainda hoje muitas de-las não foram cobertas, nem por as editoras tradicionais, nem as novas edito-ras. O que garante espaço e retorno lucrativo para quem quiser atuar no mer-cado de mangás. São eles:

•     Gag mangá: Mangás de humor. Pouquíssimas editoras resolveram pu-blicar esse tipo de material. A procura após os anos aumentaram e hoje o Japão conta com títulos famosos. A Panini publicou recentemente Be-elzebub.

•     Mangá Cult: Ou mangás clássicos, são os títulos considerados indispen-sáveis para os otakus, infelizmente, tais obras não são publicadas com frequência no país, algumas como Hokuto no Ken, Apleseed, Domu, A Lenda do Demônio etc. Não podemos considerar que tais obras sejam pouco vendáveis, ou que eles estejam ultrapassados, talvez a exigência dos próprios otakus não tenha permitido a publicação desses mangás pelas editoras nacionais, ou o pelo preço exigido por representantes legais sejam muito altos, como também problemas documentais etc.

•     Mangás Underground: Mangás de temática exótica ou bizarra existem aos montes no Japão como Manhole. Obras de terror, de gore, e muitas outras que trazem histórias incomuns ao público não são sequer cogita-das pelas editoras.

•     Mangás de Esporte: Atualmente o investimento é ainda muito pequeno, a infinidade de títulos que abordam diversos esportes ainda não chegou ao nosso país, como Yowamushi Pedal que trata sobre ciclismo, espor-te bastante praticado no Brasil.

•     Mangás Transmídia: São as obras inspirada totais ou parciais em outras fontes como vídeo games, MMORPG, RPG, TCG, light novel, livros, animes, etc. Alguns já foram lançados no Brasil, outros não, são os de maior apelo comercial e público garantido.

•     Mangás Cancelados: Refiro-me aos que foram cancelados devido a pro-blemas jurídicos, falência de editoras, ou outro fator que motive o cance-lamento, desde que não seja a vendagem, alguns como Vagabond vol-taram a ser publicados após a Conrad ser comprada pela IBEP.

    Desconsideremos mangás infantis, o público infantil brasileiro é muito dis-perso e não conta com o apelo comercial transmídia. Uma questão importante a ser observado pela editora é se o mangá está concluído ou descontinuado. Levando em consideração que todo mangá em publicação pode ser cancelado, investigar a posição da obra no mercado é prudencial, já que mesmo que o título faça sucesso ele pode entrar em hiato, como HunterxHunter. O autor também pode desistir de publicá-lo e se dedicar a um novo projeto como o autor de Bastard.


Mangá nacional

    Os mangás nacionais foram os primeiros a serem publicados no país. Dife-rente do que pensam muitos brasileiros, os mangás que vieram com os japo-neses ficaram restritos aos colonos. Não havia livrarias especializadas, tão pouco bancas, apenas locadoras de mangás, em que a presença de não nipô-nicos era vista como desagradável.
   O pioneirismo da Editora Edrel e nossos saudosos artistas acabou por abrir o mercado nacional para esse estilo. Fundada por um trio, Salvador Benti-vegna, Jinki Yamamoto e Minami Keizi. Keizi que além de mangaka, ficou responsável pelo editorial da primeira publicação no ano de 1966, chamada de Álbum Encantado. No entanto, na década de 70, o mangá nacional devido o desentendimento de seus editores, bem como a censura da época de Ditadura Militar, acabou por fechar as portas da Edrel.
    Depois disso se seguiram várias tentativas de publicação de artistas nacio-nais. Algumas de tão toscas, chegam a ser duvidosas. Muitos editais para pu-blicações foram feitas em revistas e editoras tentaram empreender cegamente em títulos nacionais sem o cuidado de analisar o sucesso de mangás japone-ses que consistem no transmídia, cada mangá vira um anime que vira um jogo etc.
    No mercado de mangá, valores têm que ser agregados continuamente, mui-to disso provém da concorrência. Mas nem só de fracassos viveu o mangá na-cional, afinal de contas, os mangás foram reconhecidos primeiramente pelas obras brasileiras. Holy Avenger é o maior exemplo que um ótimo traço unido a um bom roteiro, lançado de modo a alcançar um público maior (transmídia) acaba fazendo sucesso. O mangá se passa no cenário de RPG Tormenta D20.
    Essa visão distorcida de que mangás nacionais não podem fazer sucesso é um grandíssimo factóide. Se assim fosse, como Tools Challenge que é publi-cado através do Cartase — site de financiamento coletivo em que os fãs doam dinheiro ao projeto e após isso, ganham recompensas os que mais doaram — já conseguiu atingir 7 volumes?
    Esse medo primitivo que as editoras possuem impede a realização de um melhor trabalho em termos nacionais. Sem um mercado nacional ficamos res-tritos a poucas obras comerciais viáveis, e os artistas não podem amadurecer.
Não significando que nossos mangakas sejam ociosos. Iniciativas como a Zine Expo — espaço reservado a fanzineiros que desejam apresentar seus trabalhos, contanto com um site e um público maior a cada ano — é uma demonstração do trabalho de muitos mangakas que almejam ter suas obras publicadas de modo profissional, pois realizados artisticamente eles já estão.
    Outra proposta é as webmangás. No Brasil já temos todo um mercado para isso. E diversas antologias on-line já publicam apenas obras nacionais, como a Herois no Papel, Conexão Nankin, Upmangá, Fanjin, Lamen e Dracomics Shonen. Outras iniciativas são os concursos como CMN — lançou à revista One-Shot Mangá BR — e o BMA — que publicou a Antologia Henshin. A Editora Draco e a JBC também investiu em mangakas nacionais e já colheram seus louros. Entre eles o mangá Quack!
    De boas ideias e ótimos artistas estamos servidos, mas precisamos de maior esforço e inteligência, tornar os títulos ainda mais comerciais e competitivos. Uma das maneiras é esta:
    O primeiro passo é analisar a qualidade do desenho e do enredo. Publicar mangás nacionais com temática completamente estrangeira não faz sentido, o empenho inicial é trazer uma nova experiência. Deve-se captar o leitor e fazê-lo entender que a história poderia estar ocorrendo no bairro em que ele mora, ou evocar um sentimento de cultura brasileira tão forte que ele se sinta impelido a comprar, como foi feito com Holy Avenger e Zucker.
    O mangá nacional deve apresentar uma maneira de produzir consumo transmídia, seja ela desde brinquedos, jogos, ou figurinhas, afinal de contas, não contamos com emissoras de TV e estúdio de animação para produzir ani-me. Um bom exemplo nacional é Di Gude no qual poderiam ser vendidos gu-des colecionáveis e estilizadas, artifício bastante usado no Japão.
    Criar antologias e trazer um pouco da experiência japonesa aos leitores bra-sileiros, com poucos títulos e publicação mensal ou bimestral — Isso daria tempo dos artistas elaborarem melhor suas histórias, teriam menos competição com outras obras e a editora analisaria a recepção sem sofrer uma perda muito grande — e anualmente, no caso de antologia concursada.
   Realizar concursos, ou relançar obras de volume único que por ventura ga-nhem ou façam sucesso com o público, como foi feito com Quack! Voltando a ser republicada em volume único por outra editora.
    Republicar webmangás de modo impresso em volume tankohon, pois já tem um público garantido, terá poucos volumes e não trará grandes despesas a editora. Contanto com extras, e sendo lançadas com boa qualidade gráfica em eventos próprios de mangá como o Anime Friends e o Anime Family, cobriri-am a divulgação dos títulos.

    Webmangás prontas para serem publicadas em tankohon:

•     Laser Boy – Studio Season, http://studio.seasons.nom.br

•     Dez Desejos – Douglas MCT e Rafael François, http:outrosquadrinhos.com.br

•     Em Busca do Poder – Jorge Luiz Silveira, www.embuscadopoder.index

•     Mercenários Psykhé – Fran Briggs e Cláudia Medeiros, www.mercs.com.br

•     Nova Aventura - http://nventuraproject.blogspot.com.br

•     Pirates – Yuri Landim, http://pirates-tales.blogspot.com

•     Lunch Time – Nilton Santos, www.magyluzia.com

•     RHE-eX – Aline C, http://www.facebook.com/pages/RHE-eX-Fanzine/338209406203162?sk=wall

•     Introspecção – William de Lima Busanello, williambusa@hotmail.com

•     Entropia – Blanxe, http://entropiacomic.com.br.home.php

•     Chess Time – EUDETENIS, http://www.inkblazers.com/authors-and-artist/EUDETENIS/detail-page/69301?tab=manga


DIRETRIZES GERAIS

•     Pronomes japoneses: Kun, Chan, San, Dono, Sama e suas variantes já não se fazem mais necessárias no mercado atual de mangás, além de ser um desperdício de tempo ter que fazer notas e glossários só para esses termos, visto que senhor, senhora, senhorita e outros pronomes têm o mesmo efeito na nossa língua. Sensei pode ser mudada para mestre, e caso se passe numa história mais atual, professor. Editoras como Nova Sampa e JBC mostraram que essa adaptação não provoca mudança de contexto.

•     Cuidado com a tradução e adaptação: Muitos representantes — princi-palmente os americanos — tendem a traduzir e adaptar a obra de acor-do com o que eles acham melhor para eles. Causa muito desgastes com os otakus e muitas obras acabam sendo canceladas, pois são boicota-das pela comunidade otaku. No Brasil, o anime Bayblade seguiu a adaptação americana, a mudança dos nomes dos personagens não provocou tanto problema por se tratar de uma obra infantil e desconhecida na época — no mangá só um dos protagonistas tem nome homônimo ao original — mas se fosse outro caso, poderia ser boicotado. Caso pior foi com Battle Royale no EUA, o contexto da história foi mudado, seu maior atrativo — O ato BR é um programa do governo japonês para coibir a delinquência juvenil nas escolas, na versão americana tornou-se um reality show —, isso foi desnecessário e incômodo. Mangás relançados é sempre bom fazer uma retradução para cobrir antigas imperfeições.

•     Impressão de exemplares: Isto fica a cargo da editora de certo, mas não adianta apenas imprimir desenfreadamente sem público que o compre. Certa editora relançou um mangá e acabou imprimindo 40.000 exempla-res, vendendo apenas 300, voltando a cancelá-lo. Nem um Best-seller se faz uma tiragem dessas, quem dera um mangá.

•     Divulgação: Jogar exemplares nas bancas e nas livrarias é fácil para qualquer editora. É uma atitude ineficiente, os otakus não querem ape-nas conhecer, mas serem convencidos. “Em meio a tantos títulos, por-que devo levar esse para casa?”. A resposta deveria ser dada pela pró-pria editora. Quando a editora faz pouco caso, já que não divulga sua obra devidamente, mesmo existindo meios de comunicação hoje em dia os aos montes — não a desculpas — Títulos acabam sendo até cance-lados. No Japão a divulgação é assídua, por que tal recurso não deve ser usado no país? Isso não é feito com livros? Mangás também preci-sam e merecem o mesmo tratamento na divulgação.

•     Parcerias: Milhares de blogs e páginas do Facebook no Brasil estão vol-tados para a cultura pop japonesa como Chuva de Nankin, Analise It, Anime prô, Otaku PT, Gekko Gear etc. são os mais visitados. Eles são bastante acessíveis e buscam parcerias. O Anime Prô realiza muitas pesquisas, que podem servir as futuras necessidades da editora. A re-vista Neo Tokyo é voltada para os otakus.

•     Títulos: Em caso de pronuncia difícil como Hagane no Renkinjutsuchi o preferível é traduzir para o português, o inglês também pode ser usado, o título em questão foi traduzido como Fullmetal Alchemist — publica-do pela JBC —, traduzindo o título não é necessário colocar siglas, ou qualquer outra referência, pois o mangá se reconhece pela capa.

•     Apelo comercial: Todo mangá nacional ou internacional deve ser explo-rado em todos os seus sentidos, desde objetos colecionáveis — como card, adesivos, miniaturas etc. —, livros, jogos e quando houver oportu-nidade animes em canais fechados.

•     Mangás nacionais: Dar preferência a títulos em webmangá, relança-mento de obras mais antigas, e que possam ter apelo comercial. Lançar em tankohon e em eventos de anime como o Anime Friends. Os títulos serão curtos, geralmente capítulos publicados formem um volume único ou dois, quantidade suficiente para uma boa publicação e manter a edi-tora em reservas.

•     Resguardar Imagem e confiança: Divulgar não é criar falsas esperanças, dúvida, hipótese e muito menos expectativas. Um bom título vende por si só.
                    
TÍTULO     VOL     AUTOR     REVISTA     EDITORA
Hokuto no Ken     18     Tetsuo Hara
e
Charles
Bronson     Shonen Jump     Shueisha
Detroit metal City     10     Kiminori
Wakasugi     Young
Animal     Hakusensha
Dogs: Stray dogs howling in the dark     Único     Miwa
Shirow     Ultra Jump     Shueisha
Mushishi     10     Yuki
Urushibara     Afternoon     Kodansha
Mythical Sleuth Loki     7     Sakura
Kinoshita     Mag
Garden     Enix
Akira     6     Katsuhiro
Otomo     Young
Magazine     Kodansha
Westwood Vibrato     4     Youn In Wan
e
Kim Sun Hee     Sunday GX     Shogakukan
Manhole     3     Tetsuya
Tsutsui          
666 Satan     19     Seishi
Kishimoto     Shonen
Rival     Enix
Lovely Complex     17     Aya
Nakahara     Bessatsu
Margaret     Shaueisha


Antique Bakery     4     Fumi
Yoshinaga     Wings     
Virgin Crisis     4
     
Shinjou
Mayu          Shogakukan
                    
A Drifting Life     2     Yoshihiro
Tatsumi     Mandarake Zenbu     Drawn and
Quartely
Shurato     6     Hiroshi
Kawamoto     Shonen
Gentosha     Houbunsha
Togari     11     Yoshinori Natsume     Shonen
Sunday     Shogakukan
Samurais Girls – Hyakka Hyouran     8     Yura
Shinano     Dengeki
Daioh     
Okami-san to Shichinin no Nakama-tachi     4          Dengeki
Daioh     
Ichiban Ushiro no Daimaou     10          Champion Red     Akita
Shoten
Change 1 2 3     12     Iku
Sakaguchi
e
Shirui
Iwasawa     Champion Red     Akita
Shoten

Obs.: Esses são títulos para proposta de publicação.

Mangás Curtos = One-shot até 10 vol.
Mangás Médios = 11 a 20 Vol.
Mangás Longos = 21 ou mais Vol.


Biografia:
Caliel Alves nasceu em Araçás/BA. Desde jovem se aventurou no mundo dos quadrinhos e mangás. Adora animes e coleciona quadrinhos nacionais de autores independentes. Começou escrevendo poemas e crônicas no Ensino Médio. Já escreveu contos, noveletas, resenhas e artigos publicados em plataformas na internet e em algumas revistas literárias. Desde 2019 vem participando de várias antologias como Leyendas mexicanas (Dark Books) e Insólito (Cavalo Café). Publicou o livro de poemas Poesias crocantes em e-book na Amazon.
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