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Um poema longo
é como o vestido de uma dama,
precisa ser comprido até os pés,
que cubra os sapatos,
deve ter sua porção de alegria
sem esquecer sua parte drama...
Coberto de pedrarias,
deve abusar de bordados
que ofereçam uma visão de clarões fugazes
que mantenham os olhos vidrados...
Místico, a cruz no colo
representa a sobriedade religiosa;
ainda que guardados,
os seios devem sugerir questões
que sejam de intrigantes descobertas
e menos filosóficas...
Ao andar o poema deve arrastar
uma multidão de olhares,
atravessar os salões nobres
ou corredores infernais
como fazem naus à deriva
sobre raivosos mares...
Sem se importar
com olhares maliciosos e invejosos,
erguido e ereto seu queixo
deve avançar por entre sussurros,
é como se avançasse suas colunas
por sobre interpostos muros...
Posto que nem tudo é casca
ou cobertura de chantilly,
atrevidamente deve dar mostras
de seu conteúdo,
sinapses fonéticas
em metáforas brilhantes devem surgir...
Caudaloso e extenso
seu vocabulário deverá mostrar
que um dicionário é pouco
para sua variada extensão,
como serão muitos os deleites
de sua profusa coloração...
Entre homens que derivam
de universidades e escolas
o longo poema se porá
à disposição da ilimitada curiosidade
que certamente surgirá sobre
sua inventiva inventividade...
Reis e Rainhas, Condes e Condessas,
Barões e Baronesas,
arautos e bufões, palhaços,
cordelistas, membros de academias,
todos deverão se sentar e escutar
a nobre e extensa poesia...
No discorrer de seu fabrio fazer
e sua instrumentação poética
deverá abrir seu estojo de pérolas
e outras cavidades escusas,
como fosse cortesã do século XVII
soltar os botões das blusa
e permitir que entrevejam a beleza
e solidão de seus leitosos rios,
que seu falar doce e consciente
não os inibam e os estimulem
a esquentarem seus líquidos
prontos a aquecerem no frio
que surgirá em cada frase poética
exposta com delicadeza,
adaga impiedosa ou lâmina fria
com precisas incisões
que fará a platéia urrar
após a exposição de tanta beleza...
O poema longo encerrá seu discurso
com elipses e singularidades
que dará ao público a certeza
de que anunciou novos elos
entre a velhice dos espíritos
e os espíritos da nova idade...
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