Olhei furioso para o chão, disposto a me levantar e sair dali a qualquer momento. O que meu pai estava pensando agora? Estava disposto a fazer com que eu fosse ‘’homem’’ á força? Era esse mesmo seu plano absurdo?
Se fosse, eu realmente não estava gostando do rumo que as coisas estavam tomando. Havia na sala, quatro prostitutas prontas para o abate, prontas para fazer-me ser homem.
– Escolha! – Ordenou meu pai. – Qualquer dessas raparigas aí serve. Simplesmente escolha!
– Já disse que não é necessário. Sou homem meu pai. Macho. – Eu disse olhando severamente para ele.
– Eu digo o que é e o que não é necessário Richard! Leve alguma para o quarto e deite-se com ela. Prove.
Meu pai estava perdendo o juízo. Parecia que não conhecia mais seu filho.
– Não! – Eu disse por fim.
O silencio no cômodo era tão grande que uma das mulheres olhou rapidamente para mim e desviou o olhar assim que percebeu que eu também a olhava.
– Suas malas já estavam prontas, caso essa fosse á resposta. Pegue-as e suma daqui, imediatamente! Não vou alimentar em minha casa um filho marica.
Senti meu rosto esquentar.
– Pois bem meu pai. Irei agora mesmo embora. Desta casa não levarei si quer uma muda de roupa.
A verdade, a dura verdade, era que eu não tinha para onde ir. Eu estava sem teto. Mas mesmo assim peguei alguns dos meus reais pertences – aqueles que eram de fato meus e os coloquei em uma mala, dada por mim avó e partir para a vida de mendigo.
Para piorar, estava chovendo. E para dificultar as coisas ainda mais minha mãe estava aos prantos.
Antes que eu pudesse cruzar o portão minha mãe
alcançou-me e segurou firmemente em minhas mãos.
– Seu pai vai mudar de ideia. O que ele está fazendo é um absurdo sem tamanho, meu filho! - Minha mãe, embora já soubesse que minha resposta naquele momento fosse o não ela já chorara muito, estava com os olhos profundos.
Quando já estava longe, perguntei-me o que iria fazer agora.
Minhas respostas não eram nem um pouco positivas. Eram catastróficas.
No centro da cidade que, diga-se de passagem, era pequena, observei minhas opções. Padaria, sapataria... Farmácia... As opções eram poucas.
Olhei para os dois lados, e me perdi completamente. Eu perdera minha identidade. Quem eu era. Quem um dia fui.
– Hein, mocinho? – perguntou uma voz de mulher.
Virei meu rosto para onde a voz estava.
– Eu? – Perguntei intrigado.
– Ora, mas é claro que é você que estou chamando! Está vendo outro moço ao meu redor?
Corrigi minha postura, firmei meus olhos na moça e disse:
– Sim, com o quê posso ajudar? – Eu disse
sorrindo.
– Tenho um emprego para você, se isso lhe interessar. – Ela disse sorrindo também, como se eu estivesse á pouco lhe contando uma piada.
– Como sabe que preciso de trabalho? – Perguntei fitando seus olhos que estavam semicerrados por causa da chuva fraca.
– Primeiro saía da chuva, depois eu conto. – Ela disse.
Sentamos em um banco debaixo de dois guarda-chuvas.
– Qual é o emprego? – Eu disse olhando-a com hesitação.
Ela não disse nada simplesmente preferiu ser prática. Apontou para uma construção envelhecida com o tempo, mas que sustentava ares de luxo.
Na grande placa iluminada estava escrito: ‘’ Casa De Bonecas’’.
A placa se referia a um bordel. Lá na sua maioria, eram mulheres que vendiam seu corpo. Mas havia homens também.
Recuei um pouco, tanto da moça desconhecida, quanto da proposta. No entanto os olhos da moça eram claros o suficiente para mim.
Qual opção eu tinha? Passar fome, morrer por estar passando fome. Frio, sem dinheiro algum e sem teto. Ótima posição eu estava me colocando. Um mendigo com orgulho. Talvez nem orgulho me restasse nesse pequeno espaço de tempo.
– Tudo bem. Eu aceito. – Eu disse determinado.
– Ótima escolha! Mas a propósito, qual é seu nome? – Ela perguntou iluminada de felicidade.
– Me chamo Richard. E a senhorita?
– Obrigada pela gentileza de chamar-me de
Senhorita, ao invés de puta. Ou de quenga.
– Hein? – Perguntei sem entender.
– Não sou valorizada mais. Nesta cidade os homens só nos enxergam como putas ou quengas.
Mas quando estão nos lençóis conosco, chamam a gente de linda, maravilhosa e ate mesmo de senhorita.
– Não sou assim, o respeito deve ser cultivado e
essencialmente praticado para qualquer um.
– Mas mesmo assim obrigada!
Agradecemos um ao outro com um breve aperto de mãos.
– Agora eu preciso te arrumar. Do jeito que está nenhuma senhora ou senhorita olhará para você. – Ela disse nitidamente impaciente.
– Me arrumar? – Perguntei em pânico.
Ela segurou firme meu pulso enquanto me arrastava literalmente para a grande casa. O meu destino era dar prazer para outras mulheres? Que ironia.
Quando meu pai me obrigou a transar com aquelas prostitutas não pensei que um dia estaria no lugar delas. Na verdade, se eu estivesse a fim de ficar no conforto das ordens do meu pai, teria transado sem problemas com qualquer das moças. O problema é que não fui criado por minha mãe dessa forma. Mulheres foram criadas para serem feitas felizes e não usadas como algo descartável.
Eu não havia perguntado ainda o nome de minha recruta, mas ela sabia o meu nome. Tanto que ficou um tempo cantarolando meu nome em voz alta sem nenhum proposito aparente.
No fim ela disse.
– Richard é um nome muito longo. Você precisa de um nome mais sexy. Chamativo, provocante.
Chamativo, provocante? Eu sou sexy afinal?
Meus olhos estavam arregalados quando ela finalmente pareceu ter uma inspiração.
– Já sei – ela disse, estalando os dedos. – Seu novo nome, ou quase novo, será Rich.
– Rich? – Pronunciei a abreviação do meu nome com estranheza.
– Não! Você precisa pronuncia-lo de uma maneira diferente. Diga comigo com convicção. RICH e de
novo, RICH.
O nome pareceu se ajustar no novo eu. Mas ainda era estranho, estranhamente novo.
– Agora próxima etapa. Tire as roupas.
– O quê? – Fitei-a incrédulo.
– Tirei as roupas. – Repetiu ela, calmamente.
Eu obedeci e tirei as roupas.Ela arregalou os olhos por um momento e depois disse:
- Enfim... vamos ao trabalho!
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