Finalmente chego a um enorme campo, a fraca luz vinda de uma casa distante deixa-me levemente tranquilizada. Rapidamente, antes que meus olhos pudessem definir o que havia parado em minha frente, senti uma mão tocar na minha e levanta-la delicadamente.
Reconheci imediatamente os olhos que silenciosamente me comtemplavam, os penetrantes e misteriosos olhos azuis da cor do gelo, o olhar gelado que me queimava com sua fúria cada vez que me encontrava.
No entanto, uma insistente e saborosa lembrança perpassava em minha mente roubando-me descaradamente a tranquilidade que permanecia em meu coração: os lábios de Christopher tocando os meus, o gosto do desejo de senti-lo cada vez mais, misturando-se com a desenfreada adrenalina que corria nas minhas veias. Procurei escapatória, entretanto, não a encontrei.
Como em sonho onde se está tendo um horrível pesadelo acordei apavorada e mergulhei profundamente na intensa e angustiante realidade que era agora o meu presente.
Busquei uma forma de afogar-me em suas atordoantes verdades mais fui impossibilitada de continuar com um inesperado beijo vindo da perfeita criatura em minha frente, reforçando as memórias com a mais absoluta força.
Nossos lábios tornaram-se uma só carne, expelindo por meio de ambas as peles um embriagante perfume que me deixava exposta ao perigoso cheiro do pecado.
A tentação firmemente entrelaçada ao desejo de lhe possuir deixou tudo arriscadamente atraente aos meus olhos e ao astucioso coração do caçador brutal.
Naquele instante o que lhe revestia com uma proteção absurda foi bruscamente quebrado, como um espelho quando choca-se com o chão, deixando exposto para os todos á verdade, antes escondida por essa capa invisível. Os meus pensamentos agora organizados, conseguiram chegar a uma única conclusão do que era aquilo em minha frente; era sem sombra de dúvida um anjo, um perfeito e adorável anjo.
Por um único momento, a presa foi mais astuta do que o caçador aplicando-lhe o mesmo veneno que o paralisava e que lhe dava a oportunidade de matar, sem piedade, a indefesa presa. Os firmes e profundos olhos de Christopher deixavam transparecer a vulnerabilidade que o estava atingindo como um forte raio, então em sinal de perda uma triste e solitária lágrima escorreu de sua face angelical. O instinto em expulsar as lágrimas de seu rosto foi mais forte do que as perguntas que velozmente culminaram em minha cabeça. O impiedoso olhar do experiente caçador voltou, na mesma rapidez que sumiu, deixando claro que quem deveria sentir-se amedrontado era obviamente a presa por descobrir o segredo mais precioso de um assassino revestido pelo disfarce de um vulnerável cordeiro.
Christopher abriu então suas asas de glória, suas pontas eram traiçoeiramente cortantes como uma faca bem afiada, o intenso brilho provindo de seu belo corpo produzia uma cegueira insuportável aos olhos, que com a minha aproximação tornava-se uma luz fraca que permitia vê-lo perfeitamente.
Estava ali próximo o bastante de mim, meu Christopher; meu anjo, meu adorável anjo.
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