Parte Dois
Estava tudo escuro, eu me movimentava na escuridão sem fim. Movimentos lentos e angustiantes. Pernas e braços movimentavam-se ao redor de algo completamente tomado pelo nada.
Até que reconheci uma luz. Era a superfície. E eu estava afogando-me, tentava sobreviver; agitando pernas e braços numa inútil tentativa de respirar. Chegar á margem. Dentro do meu crânio as gotas derradeiras que pingavam do chuveiro ecoavam fazendo como que o som provocasse algo similar a um terremoto. Quando perdi a vontade de subir, fiquei flutuando no escuro, o meu nada que de repente virou o meu tudo. Porém, uma mão agarrou-me pela camiseta e me retirou da água. Acordei com uma mão fria na minha.
– Espere, eu não vou te machucar! – O rapaz de olhos verdes me disse, acalmando-me com sua mão sobre a minha.
Eu olhei para as duas mãos juntas, grudadas uma a outra e senti um súbito ataque de vergonha. Então retirei a mão.
– Quem é você? Onde estou?! – perguntei ao rapaz.
Ele olhou-me durante meio segundo e depois me respondeu tranquilamente.
– Você está em um em hospital, e eu não sei teu nome. – ele me disse e continuou. – Você chegou aqui sem documentos e carregada por mim. Te encontrei desmaiada no meio da rua, quase que te atropelei!
Eu estava confusa, mas lembrei no exato momento o que havia acontecido. E lembrei também de Scarlet. Será que ela sobreviveu? Provavelmente não. Da maneira que a encontrei no quarto, pouco seriam suas chances. Mesmo assim perguntei por ela.
– Onde está minha amiga? A Scarlet, ela estava... Quer dizer... Seu corpo estava... – as palavras estavam pressas na garganta. Mas, o rapaz pareceu querer me ajudar.
– Os médicos levaram o corpo dela. Agora não me pergunte pra onde. – ele murmurou, seus olhos me analisando, ponderando-me a dizer algo.
Ainda sentado em uma espécie de banco improvisado, o rapaz apertava a beirada da mesinha que estava ao lado da cama. Seus dedos brancos, unhas cortadas em perfeito lineamento em forma de lua, fizeram com que o sangue obviamente sumisse da extremidade do dedo. Na verdade, pensei em perguntar seu nome, mas isso não importava tanto agora.
– Fala! Anda logo! O que está acontecendo? – eu disse em um tom nem um pouco educado. As lágrimas já estavam prontas, cada qual á margem dos meus olhos.
– Na verdade eu não eu não sei o que realmente esta acontecendo. Simplesmente te ajudei e só. – O rapaz murmurou, largou a beirada da mesinha e levantou-se inquieto.
Muito embora o desespero me consumisse por dentro, tentei conhece-lo melhor. Afinal, ele havia me ajudado. Ate mesmo poderia arriscar dizer que ele tenha me salvado.
– Qual é o seu nome? – perguntei, tentando ser um pouco normal. Ele me olhou por um breve espaço de tempo e depois como se estivesse embirado, respondeu:
– Meu nome é Levi. E o seu? – ele perguntou. Uma de suas sobrancelhas pretas ergueu-se, talvez um hábito.
– Me chamo Lise. – Eu murmurei entre a corrente de intimidade que nós trocávamos.
Quando se está em uma situação desesperadora, é fato que não observamos nada que não que seja relevante para a solução do problema. Mas, o modo como se vestia realmente parecia lhe acrescentar alguns anos a mais. Talvez fosse apenas autoconfiança demais.
O modo como ele é, diferente dos rapazes que conheci. Tudo em nele expira confiança. Absolutamente tudo. Ate mesmo o modo que se veste. Nada muito original, mas ninguém ficaria uma cópia tão perfeita naquelas roupas como ele.
Uma calça preta jeans e um cinto de mesma cor, uma blusa vermelha e uma camiseta que se ajustava aos músculos do seu corpo. Era exatamente como ele estava vestido. A cor de sua pele era exageradamente branca. Entretanto, nunca vi alguém tão lindo em toda minha vida.
– O que está acontecendo? – perguntei depois de nos apresentarmos formalmente.
Ele sentou-se novamente no banco improvisado, depois não satisfeito levantou e sentou ao meu lado na cama, inclinando-se para mim; olhos nos olhos.
– Você – ele disse, e esperou. – Tem duas alternativas, certo? – ele me perguntou, fiz que sim com a cabeça. – Seguinte, de onde eu venho existem vários tipos de... Digamos... Monstros.
Não estava entendendo nada, mesmo assim ele continuou.
– Eu sou apenas mais um dentre milhões. – ele continuou a explicação, no entanto eu ainda estava sem entender o porquê de monstros na conversa.
Ele rapidamente sacou de dentro de sua blusa um papel similar a um pergaminho e o desenrolou, apontando para um nome no papel.
Vi o que estava escrito em letras maiores, acrescentei as menores mais adiante e então eu cheguei a uma conclusão do que era aquilo. Uma lista de nomes. Não uma simples lista de nomes.
O meu era o último da lista. Aquela era uma lista Letal. Eu mesmo sem entender muito o por quê do rapaz simpático e desconhecido me ajudar, entendi a morte de ontem. Scarlet era a primeira da lista.
Ele estava aqui para me matar.
Nós nos entreolhamos. Ele sabia que eu havia entendido.
– Não corra e não dificulta o meu trabalho. – ele prometeu. – Prometo uma morte sem dor. Na maioria das vezes, eu não permito regalias fora de propósito.
Simplesmente deixei as coisas acontecerem.
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