Tentar explicar a onda de violência que, a cada dia, assola o Brasil não é tarefa fácil. São inúmeras as causas que levam a ela. De outro lado, não há um consenso entre os especialistas no assunto.
Mesmo assim, é sabido que nas cidades pequenas, médias e grandes ela tem aumentado assustadoramente. Isso é muito preocupante. Dados colhidos até 2011, mostram que estados de Alagoas, Espírito Santo, Maranhão, Pará, Bahia e Paraíba apresentam as maiores taxas de homicídios de todo o país. Tá na mídia. A violência é um dos nossos maiores problemas, de norte a sul, ela recrudesce...
Um pouco da violência: crianças assassinadas, cabeças cortadas, gente pichada com tinta, ônibus queimados, linchamento coletivo, pessoas queimadas vivas, gente amarrada no poste, namoro que termina em morte.... Mais, em muitos casos de violência, os autores são conhecidos como justiceiros.
O cientista social André Singer, sobre a violência, fez uma observação muito interessante e que vale como reflexão para todos nós: ''É certo que o país sempre foi muito violento por baixo da capa cordial, terna e alegre –verdadeira, mas parcial–, usada para construir uma ideologia adequada aos trópicos. Só que agora a brutalidade parece exacerbada''.
De um lado, é ingenuidade pensar que a violência é um problema dos últimos anos. Não é bem assim. Para entendê-la é preciso ver o nosso processo histórico: somos um povo cuja formação cultural tem como base a violência. É preciso lembrar que ao chegarem no Brasil, os portugueses puseram em prática um genocídio, que resultou na morte de mais 3 milhões de índios. Mais tarde, milhões de negros, vindos da África, chegaram ao nosso país para serem escravos. Quantos deles morreram em alto mar e no pelourinho? E mais, essa escravidão durou 300 anos e ao fim dela os libertos foram jogados na rua sem absolutamente nada.
A dura verdade é que a nossa formação histórica tem um traço cultural que se caracteriza pela violência extrema, principalmente, contra os mais fracos. Permanece viva em nossa memória o Massacre do Carandiru (1992), a chacina de Vigário Geral (1993) e o Massacre de Eldorado dos Carajás (1996). Também é verdade que, em muitos momentos, a sociedade civil assistiu calada a esses desmandos e absurdos. Tem mais, nossa polícia é perigosa e extremamente eficiente para matar. Outra característica é que não consegue dialogar com a população na mesma medida que mata. De acordo com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, cinco pessoas são assassinadas, em média, pela polícia. Anualmente o número pode chegar a 1800 pessoas.
Para quem dúvida da violência policial e o medo que causa no cidadão comum, vale lembrar que 70% dos brasileiros, pesquisa feita em 7 estados da federação, em 2013, pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), disseram que não confiam na polícia.
Enfim, lamentavelmente a insegurança pública tomou conta de todo o país. Não resta dúvida que é uma herança cultural dos nossos colonizadores e de duas décadas de ditadura militar (1964-85), que acabou sem que os torturadores e assassinos, militares e civis, fossem julgados. Ou seja, institucionalizou a cultura da impunidade e da roubalheira entre nós.
E não é só. É fato que a violência se banalizou. Matar o outro, no Brasil, é algo corriqueiro. Acontece no trânsito, na favela, na rua, no ônibus, na escola... Isso ocorre porque as autoridades sempre fecharam os olhos para essa realidade. Tem mais, assustadoramente o cidadão comum é penalizado com leis injustas que favorecem quem tem dinheiro. Enquanto isso, a educação pública é ruim, a saúde é péssima, o transporte público está deteriorado, os políticos são corruptos, com poucas exceções, e o poder Judiciário é vergonhosamente ineficiente. Quase sempre legisla em favor dos poderosos.
Mais, o cidadão comum que vive na periferia, de qualquer cidade brasileira, é obrigado a viver com a violência dos criminosos e do narcotráfico. Os abusos da polícia contra os jovens são frequentes, principalmente, os negros. Outra coisa, as autoridades preferem não ver o que se passa nas periferias das cidades. Nesses lugares falta tudo. Falta justiça social. Falta dignidade. Na periferia, o cidadão comum se defende como pode. Afinal, confiar em quem, nas autoridades?
Pois bem, algo tem de ser feito urgentemente. A violência que explode de norte a sul, a cada minuto, ganha contornos inaceitáveis. Não dá mais para engolir a violência que tirou a vida do Amarildo, da Fabiana Maria e tantos outros casos vergonhosos. É preciso acordar. É hora dos políticos demagogos, de todos os partidos políticos, fingirem que estão defendendo os interesses da população em relação à violência, que há muito reina em terras brasileiras. Se alguma coisa não for feita, em muito breve, certamente, a tendência é aumentar o número de homicídios em todo o país!
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