Há 117 anos, terminava um dos mais sangrentos conflitos em terras brasileiras. A guerra de Canudos (BA). Esse conflito aconteceu entre o fim da monarquia e o início da República. Na verdade, a tragédia de Canudos está candente em nossa memória...
Com o fim da escravidão (1888) e a proclamação da República (1889), a situação social no campo não mudou. No Nordeste predominava o latifúndio e a figura do coronel opressor. Some-se a isso, as secas terríveis e a total falta de perspectiva de vida. Nas demais regiões brasileiras, a situação não era tão diferente como se imagina.
Um pouco de história: é nesse contexto que surgiu os movimentos religiosos de caráter milenarista, entre eles, - Canudos (1893-97) e Contestado (1912-16) - que prometiam a transformação das condições vigentes estabelecendo um reino de abundância, igualdade e justiça social. Um dado importante: movimentos milenaristas surgiram, também, em outras partes do mundo.
Esse movimento foi liderado pelo líder messiânico Antônio Mendes Maciel, o Antônio Conselheiro, que atraiu 20 mil seguidores. Conselheiro percorreu o sertão pregando a renovação espiritual e a reconstrução de igrejas.
O MASSACRE DO ARRAIAL
Com a República vieram novos impostos municipais, o casamento civil e a secularização dos cemitérios. O beato Conselheiro se revoltou contra essa situação. Ele e seus seguidores se instalaram em Canudos. Nesse local, a qualidade de vida era muito melhor. Por exemplo, havia escolas e um forte comércio. Com o tempo, a elite dominante - Igreja, coronéis e políticos - via a liderança do beato como ameaça à ordem local. Outra coisa, para o beato a República era o cão. Demônio. Ele considerava a República um grande mal. Mais ainda, não se admitia a corrupção e a bandidagem entre os canudenses.
Dessa forma, a camada dominante, a Igreja, os coronéis e os políticos, exigiu uma ação dura do presidente Prudente de Morais (1841-1902) contra os canudenses. Tem início a repressão que contou com o envio de três expedições - formadas por policiais e contingentes do Exército - para vencer os sertanejos, que foram rotulados de fanáticos e atrasados. As três forças governamentais foram derrotadas. Mais: foram acusados pelo governo republicano de serem monarquistas.
Por fim, uma quarta expedição militar foi enviada e derrotou os canudenses. Para isso usou de aviões de guerra, canhões e metralhadoras. Pois bem, não se pode esquecer que os sertanejos não tinham essas armas para lutar. Cerca de 25 mil pessoas morreram. Conselheiro morreu aos 67 anos, em 22 de setembro de 1897.
E tem mais, o massacre que aconteceu em Canudos nada tem de banal. O fato é que o derramamento de sangue poderia ter sido evitado... Ao contrário do que se pensa, ainda hoje, o Arraial de Canudos não era um refúgio de criminosos e bandidos. Essa triste tragédia da Primeira República foi relatada por Euclides da Cunha, na obra ''Os Sertões'', que foi correspondente do jornal ''O Estado de S. Paulo''. (13/4)
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