Login
E-mail
Senha
|Esqueceu a senha?|

  Editora


www.komedi.com.br
tel.:(19)3234.4864
 
  Texto selecionado
Minas e o queijo: ciência e fé
Cláudio Thomás Bornstein


     Minha mulher é mineira, quer dizer, ela nasceu mesmo foi no Rio de Janeiro, mas a mãe dela é mineira, legítima de muitas gerações. Até mesmo eu, que nem muito brasileiro sou, me considero mineiro, por casamento. Une-nos a nós e a Minas Gerais o mesmo amor, muito mais importante que o local do nascimento: o amor ao queijo.

     Lá em casa o queijo ocupa um lugar central. Não só, como seria óbvio, na geladeira, mas em todo lugar existe queijo empilhado. Empilhado? Sim, pois eu me esqueci de dizer o principal: queijo, principalmente o queijo Minas, precisa, para adquirir o sabor e a textura característica, ser curado. E a cura do queijo é uma ciência que flui por meandros tão intrincados que, nos seus limites, atinge até mesmo a fé. Como explicar de outra maneira os véus, paninhos, campânulas e redomas a cobrir e manter afastado dos olhares indiscretos a recata e alva nudez da maciez úmida da matéria? Como explicar aquele incidente, ocorrido na véspera de um casamento da família, em que eu, ao retirar o meu terno para arejar, encontrei um queijo Minas no bolso interno do meu paletó? Questionada, minha mulher respondeu com ar de santa: “Poxa, você nunca usa o terno. Além disso, lá no escurinho do armário, a temperatura e umidade são ideais!” Real ou ideal, isto daria uma discussão para muito além da física ou metafísica. Bem físico, no entanto, foi o encontro na cama, no escurinho do meu quarto, na hora de dormir. Debaixo do meu travesseiro jazia um queijo na placidez inocente da bem-aventurança! Desta vez nem mesmo a santidade pode ser evocada. Minha mulher fez ar de surpresa e, com uma ponta de culpa e arrependimento disse: “Ih, esqueci de tirar. Aproveitei o calorzinho da manhã para iniciar a cura, mas depois eu devia ter tirado.”

     A nossa geladeira daria um capítulo à parte. Pilhas de queijo enchem o compartimento superior, separadas por pequenas tábuas de madeira, cobertas por todo tipo de recipiente para, de um lado, não ressecar demais e, por outro lado, não mofar ou amargar. São obras a desafiar a inventividade de arquitetos e engenheiros e o fato de até hoje, jamais ter havido desabamento ou catástrofe, são provas mais que suficientes de que na ciência existe também a fé.

Claudio Thomás Bornstein


Biografia:
Para mais informações visite o blog CAUSOS em www.ctbornst.blogspot.com.br. Querendo fazer comentários, mande e-mail para ctbornst@cos.ufrj.br
Número de vezes que este texto foi lido: 61758


Outros títulos do mesmo autor

Crônicas Vendedora de feira Cláudio Thomás Bornstein
Poesias Natureza x Civilização Cláudio Thomás Bornstein
Frases O hábito faz ou não faz o monge? Cláudio Thomás Bornstein
Frases Lastro Cláudio Thomás Bornstein
Frases Solidão Cláudio Thomás Bornstein
Frases Hábitos Cláudio Thomás Bornstein
Frases Ódio Cláudio Thomás Bornstein
Ensaios A epistemologia genética de Jean Piaget Cláudio Thomás Bornstein
Ensaios Dialética Cláudio Thomás Bornstein
Frases Lobos e lama Cláudio Thomás Bornstein

Páginas: Primeira Anterior Próxima Última

Publicações de número 21 até 30 de um total de 89.


escrita@komedi.com.br © 2025
 
  Textos mais lidos
"Fluxus" em português - CRISTIANE GRANDO 62555 Visitas
Você acredita em Milagres? - Keiti Matsubara 62551 Visitas
MEDUSA - Lívia Santana 62534 Visitas
Faça alguém feliz - 62530 Visitas
A Voz dos Poetas - R. Roldan-Roldan 62530 Visitas
Entrega - Maria Julia pontes 62517 Visitas
RODOVIA RÉGIS BITTENCOURT - BR 116 - Arnaldo Agria Huss 62504 Visitas
Conta Que Estou Ouvindo - J. Miguel 62503 Visitas
O Velho - Luiz Paulo Santana 62493 Visitas
Arnaldo - J. Miguel 62483 Visitas

Páginas: Primeira Anterior Próxima Última