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Procuram-se amoladores VII
Pandora Agabo

Aula de Artes Plásticas. Tédio! Eu não tinha a menor obrigação de ficar naquela sala e se eu tinha, eu preferia fingir que não. Levantei no meio da explicação do professor e fiz a minha cara de deprimida-pós-trauma e perguntei:

— Professor, posso ir ao banheiro?

Com as sobrancelhas quase se unindo, com aquela cara de dó exagerada, o professor disse em um tom de voz paternal:

— Pode sim, Bárbara.

Saí da sala contente, sem a menor intensão de voltar pr'aquela aula e fui ao banheiro. Não sei, acho que induzi a minha vontade de fazer xixi e entrei no boxe. Quando eu havia terminado, notei que alguém entrara no banheiro e então abaixei a tampa do vaso, me sentei e levantei as pernas, para que parecesse que o boxe estava vazio. Fiquei em silêncio, esperando algum indício de que aquela pessoa havia saído. Nada. Até que alguém bateu na porta do boxe que eu estava e perguntou:

— Tem alguém aí?... A porta ta trancada.

Continuei em silêncio.

A pessoa que bateu na porta - que a essa altura eu até já sabia quem era - tentou empurrá-la, mas não teve sucesso, porque ela ainda estava trancada.

— Bárbara? - ela perguntou com um pouco de dúvida, mas sei que ela sabia que era eu que estava ali.

Não que eu quisesse falar com ela, mas o que me custava sair e dar um "oi"?... Me custava muito na verdade, mas fazer o que. Levantei do vaso, dei descarga e abri a porta, dando de cara com a Lúcia.

— Foi mal, eu fico meio constrangida quando to cagando. - respondi sem a menor educação, até porque eu sei o quanto grosseria deixa a Lúcia chocada.

— Não tem problema. - mas ela segurou a onda.

Fui à pia e comecei a lavar as mãos, secando-as em seguida na calça do meu uniforme. Olhando através do espelho, fiquei observando Lúcia me observar. Nenhuma de nós disfarçou isso, mas nenhuma falou nada também, até que eu cansei e virei pra ela:

— Você quer falar alguma coisa?

— Quero. - ela franziu as sobrancelhas e, docilmente, perguntou - O que ta acontecendo com você?

— O que você quer dizer com isso?

— Você não era assim.

— Dizem que a puberdade fazem milagres. - coloquei as mãos nos meus peitos e os apertei; lembro de quando Lúcia me zoava porque eu usava sutiã sem ao menos precisar e ela pensava que era uma brincadeira engraçada, mas eu nunca gostei, por mais que risse com ela.

— Bárbara, eu to falando sério. - ela se aproximou - Você não era assim mesmo. Você mudou.

— Sério que eu mudei? - perguntei debochada - Então estamos combinando, num é amiga? Porque eu não fui a única a mudar aqui.

— Por que você ta me tratando assim? - ela parecia estar a ponto de chorar.

— Na real eu queria fingir que você não existe, mas você vem me seguir até o banheiro, daí fica difícil.

— Por que você não deixa tudo isso no passado?

— Bom, eu to tentando apagar tudo o que aconteceu. E você? Será que você apagou? Na verdade parece que foi tudo uma maravilha no fim das contas, né? Agora você é popular, uma querida... Não me lembrava de você assim.

— Bárbara...

— Ah não! Me lembrei! - estralei a língua, continuando o meu cinismo - Você sempre foi querida, o problema era comigo. É mesmo. Nossa, olha só como anda a minha cabeça. - e meneei minha cabeça, arregalando os olhos e me retirando do banheiro, disposta a encontrar outro lugar para eu passar o tempo, já que aquele tinha acabado de ficar inviável.


Este texto é administrado por: Sabrina Queiroz
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