Talvez um dia a gente se encontre, ou talvez não. Um radinho de pilha no meu bolso, e seu all star vermelho traçando a mesma trilha que a minha. Seu olhar sedutor, e meu sorriso malicioso. Aquela magrela dos anos oitenta, e você aprendendo a ouvir música de verdade, rap, rock, reggae. Menina doce e inocente? Quase nunca! Brava e esperta. É assim que eu gosto. Eu, no corre do dia a dia, fugindo das brigas de gangue, enquanto você em casa se preocupa. Eu chego, você me bate, me xinga, pega as malas e vai embora. Eu deixo. Eu deixo não passar de dois minutos, e vou te buscar. Talvez um dia, ou talvez não. Aquela palpitação no peito, me falta algo. Eu largado, desleixado, com dois conto no bolso pro pingado da manhã. Você, morena esperando no ponto do busão. Esperando o quê? A vida passar? Ou, o encrenqueiro chegar? “Com licença linda, você já tem alguém? Talvez, seja hoje o dia?” Mas, ela só estava esperando o “Capelinha” pra ir pra qualquer lugar longe de mim. Ela com a minha camisa azul, deitada na minha cama com os pés pra cima, apoiando o queixo na mão e rindo da minha cara. “Se surpreendeu que eu fui embora de madrugada?” Ela era sedutora rindo. Aquilo não era coisa que se fazia, nem fugir na madrugada, nem me ganhar daquele jeito. Garota estúpida, sempre levava vantagem. Eu, muleque burro por não querer deixar ela entrar na minha vida. Ela não ia ficar muito tempo, eu sabia. Ela não era de se prender, de se a pegar a alguém. Coisa séria? Não existia essa palavra no seu dicionário. Ela não gostava de rotular nada. Mas, dizia: se você tá comigo, tá ótimo. Aquele dia poderia ser hoje, ou talvez não. Aquelas unhas vermelhas, o lábio rosa, a cara emburrada, o charme, o doce que ela fazia, e como o perfume dela empreguinava na minha roupa… são coisas que eu nunca vou ter, nunca vou saber como é, porque quando eu esbarrei nela hoje de manhã e tentei me explicar, ela já tava esperando outro largado como eu. Como eu, mas o foda era que o largado não era eu.
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