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ÚLTIMO A SABER
Rubemar Costa Alves

Já lecionei geometria.
          Se marido for o primeiro a saber e quiser ganhar vantagens financeiras com o “sócio”(dele)-patrão”(dela), num exemplo nada incomum, a solução é do casal. Triângulo eqüilátero – três lados iguais.   Se o marido for o último a saber e se sentir humilhado, aí é problema não resolvido. Triângulo isósceles – dois iguais, um diferente.
          ELE vivia no botequim inventando ‘galhos’ nos vizinhos, traições das mulheres gostosonas que nunca viu e apenas imaginava, “O imbecil não dá conta dela...” - tudo era motivo para gargalhadas. Os outros começaram a dizer de “um” idiota que saía cedo para o trabalho, a mulher descia a ladeira, tomavam um cafezinho rápido na padaria, ELE pegava o ônibus na esquina, ELA comprava leite-pão, recolocava a menininha no berço, depois literalmente pulava a cerca para a casa do lado. O cara nem vacilava um segundo, ria de si mesmo, sem saber, e repetia a estória no barbeiro... salão cheio aos sábados, muitas vezes o “sócio-amigo” estava presente e partilhavam... a cerveja.
          Começou assim:
          Tio(motorista)-tia(costureira) passaram a organizar excursões pelos estados brasileiros do Sudeste – vizinhos e amigos pagavam antecipadamente a viagem, duas ou três prestações; geralmente ônibus na sexta-feira, incluindo quinta e/ou segunda em tempo de feriadão, circuito perto das residências dos viajantes, recolhia todo mundo até lotar. Depois, estrada......... Sobrinha, criada por eles com muito carinho, se dizia não interessada... Tia sugeria chamar outra garota da família para não ficar sozinha até a noite de domingo. A prima-cúmplice vinha na noite de sexta, fazia figuração, “Boa viagem para todos!” e logo ia embora, reaparecendo só domingo à noite, na chegada do ônibus......... Quem dormia com ELA? O namorado, evidentemente. “Sou esperta. Comigo não acontece...” (Consta que a pílula anticoncepcional foi inventada em 1939, nos Estados Unidos, a partir de um elemento da batata doce.) Cegonha adora meninas que se dizem “espertas”. Engravidou. Ambos muito jovens, porém ELE trabalhava – trocador inicial, motorista após treinamento. Casaram oficialmente no civil, não há exigência legislada para os dois sexos como testemunhas, ofendida recusa familiar geral, a tia e uma vizinha foram as ‘madrinhas’ com trajes quase caseiros (até o juiz observou, sorrindo: “Inédito! E tenho décadas de formado!”) – mais ninguém no cartório. Daí em diante, almoço nada festivo em casa, comida de todo dia, bolo de pacote – mistura de caixinha, pode?) sem cobertura. Ganharam alguns móveis usados, tia cedeu objetos domésticos e lençóis, alugaram uma casinha de fundos; num tempo recorde, a moça arrumou encrencas com a senhoria. Mudança imediata. Outra casa de fundos, outra encrenca, outra saída rápida. Nesse vai-e-vem, nascera uma menina, ‘a-cara-do-pai’ (moda do DNA é bem posterior). Terceira casa de fundos, na frente moravam duas amigas da tia, a quem ELA foi recomendada para fazer companhia pois a mãe era idosa e a filha trabalhava fora: “Comporte-se. Não estrague as minhas amizades de muitos anos.” Não estrague? Estragou...
          Terminou assim:
          Na casa ao lado, outra recém-adolescente cuja mãe trabalhava fora e permitia que a filha recebesse o namoradinho para fazerem juntos... os deveres escolares. Dessa, nasceu menino. Mas havia um tio fanfarrão, fisicamente parecido com o marido da primeira e a ciência mostra que o coração tem quatro cavidades. O tio surgia como visita, um tanto mais velho, pouco instruído e eterno desempregado, foi nova paixão. A fulana, ainda iniciante em aventuras, pulava a cerca baixinha, havia a casa desta sobrinha e uma casa abandonada no mesmo terreno, muita poeira, ambos não alérgicos, bastava no chão uma esteira... o próprio depois indo contar a muita gente. Num tempo recorde, a terceira senhoria, para livrar a culpabilidade da discrição, contou tudo à tia da moça que por sua vez jurou inocência; continuou pulando a cerca. Senhoria exigiu devolução da casa. O rapaz veio cheio de bronca e pose, que não sairiam etc. etc. etc. “Por quê? Amizade antiga...” “Você um dia saberá e me dará razão...” Alojaram-se na casa de tio-tia. Seria temporariamente. Sem detalhes muito explícitos, marido deu um flagrante qualquer, luta corporal na rua entre os dois “sócios”, com vizinhos em torcida organizada e sacolinha de apostas. Incrível! Um mais esclarecido contou que em Londres há lojinhas em que apostam tudo, mini loterias. Resultado? Nada de knock out. Empate, cada qual com um olho roxo. ELES e ELA, agora separados.
          Final finalíssimo:
          A terceira senhoria também saiu da localidade. Sem notícia de ninguém, até encontrar por acaso uma parenta dos tais ‘tio-tia’. As duas paixões da fulana – marido e o número 2 – acabaram, vigiada dia e noite. Lá vem o momento da tia ir comprar linha ou agulha ou alfinetes, quem vigia? Coração quadripartido, nova terceira paixão foi um motorista de ônibus do bairro, nasceu uma criança; em seguida, o trocador, colega de trabalho diário do anterior, nova criança...
          Recordando essa estória, agora época de Copa do Mundo, pior teria sido se ELA se apaixonasse por um time de futebol inteiro... um de cada vez, mas onze jogadores???

                 F I M






Biografia:
PARVUS IN MUNDUS EST. (O MUNDO É PEQUENO DENTRO DE UM LIVRO) Ser dedicado, paciente, ousado, crítico, desafiador e sobretudo enlighned são adjetivos de um homem cosmopolita que gostaria de viver mais duzentos, ou quem sabe trezentos anos para continuar aprendendo e ensinando. Muitos de nós acreditam que uma vida de setenta, oitenta anos é muito longa, contudo refuto esse pensamento, pois estas pessoas não sabem do que estão falando. Sempre é tempo de aprender, esquadrinhar opiniões, defender, contestar ou apoiar teses, seguir uma corrente filosófica (no meu caso, a corrente kantiana), não necessariamente crer num ser superior, mas admirar e respeitar quem acredita nele. Entender a diversidade de costumes e culturas denominados de forma polissêmica nas diferentes partes do mundo, falar um ou dois idiomas, se perguntar o porquê e tentar encontrar respostas para as guerras, a segregação racial, as diferenças étnicas, o fanatismo religioso, o avanço tecnológico, o entendimento político. Enfim, apenas estes temas já levaria uma vida para se ter uma compreensão média. A leitura é o oráculo para estas informações, é ela que torna o mundo cada vez menor capaz de se acomodar nas páginas de um livro. É por isso que se diz que não há fronteiras para quem lê. Atualmente as pessoas confundem Balzac com anti-inflamatório, Borges com azeite, Camilo Castelo Branco com rodovia estadual, Lima Barreto com laranja de determinado município paulista, Aristóteles com marca de carro e por aí vai. Embora, eu tenha dissertado sobre o conhecimento culto, os meus trabalhos publicados aqui demonstram o dia a dia das pessoas comuns narrados através de divertidas e curiosas estórias. Meu público alvo são as mulheres. É para elas que escrevo, pois são elas possuidoras de sensibilidade capaz de entender o conteúdo do meu trabalho.
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