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FORMIGAS GOSTAM DE NOZES, LEITOR SABIA?
Rubemar Costa Alves

Na manhã do dia 22, ELA foi entusiasmada ao supermercado, tagarelou com um bando de mulheres desconhecidas, trocou receitas, indicou produtos (metida a sabidinha ou é de fato sabichona?), observou fatos engraçados os quais depois me passaria para desenvolver como CONTOS ou CRÔNICAS (esse “ou” é o nó da vida intelectual de muito escritor)... ah, e finalmente fez compras. Muitos artigos só encontrados no mês de dezembro. Ama idolatradamente cerejas.
          Sim, cerejas do país da encarnação anterior - é o que ELA inventa e me bota divagando também. Minha mulher miúda e delicadinha, quimono estampado em flores multicoloridas... Banho de ofurô com pétalas de crisântemo, encostava tacinha de saquê nos meus lábios. EU era um xogun-general-manda-chuva ou um samurai-espadaúdo-lutador?
          Acorde, RUBEMAR!
          A DONA DE CASA levou dois e meio dias arrumando tudo nos mínimos detalhes, embalagens trocadas por vasilhames plásticos............ etiquetas digitadas em negrito: nome e data. Arrumação meticulosa - despensa, geladeira, freezer.   NATAL fora de casa! Depois, trabalhos e estorinhas a corrigir de um único aluninho particular, menino amado e chato que a perturba muito com perguntas sobre etimologia, ortografia, “piscologia” (quer ser pescador de bacalhau quando for Gigante de 1.80), esoterismo, judaísmo, xintoísmo e muito mais.
          Sobre a pia da cozinha, em constante uso, o liquidificador e o espremedor de... frutas cítricas (ela gosta de expressões sofisticadas). Nada a ver com NATAL? Sim, tudo a ver com NATAL.
           Após a data de 25, viu certa noite o que pareceu um farelo preto, não se interessou muito, jogou água, passou o rodozinho de pia. Outra noite, mesma coisa. Veio o ANO NOVO. Dia 6 não havia a quem premiar com a fatia beneficiada do *bolo de REIS, não mexeu nos aparelhos, desistiu. Mais três dias se passaram.
          Antes que chegasse a terceira noite (1-2-3 seria conto de fadas), ao espremer... hummm... frutas cítricas, reparou num saco plástico, tamanho regular, atrás dos aparelhos eletrodomésticos. Novo montinho de farelo preto, agora percebeu que o montinho se mexeu e espalhou.
          Foi um quase grito: “Minhas nozes!”
           Vinte e cinco nozes, contadinhas uma a uma no supermercado, após procurar a noz da sorte com 3 divisões (acha uma todo ano!). Formigas, formigas, formigas. Adora intelectualizar tudo. Assim, lembrou por acaso pesquisa recentíssima, plagiou e deturpou SAINT HILAIRE, naturalista francês que em mil-novecentos-e-alguma-coisa, escreveu originalmente num livro sobre o Estado de SÃO PAULO: “Ou EU acabo com as saúvas ou elas acabam com as minhas nozes. ”
          E ELA sabe o que é saúva? Gramática, uma das ideias fixas. Sim, ELA sabe: “i” ou “u”, sendo a vogal tônica do hiato, formando sílaba sozinha ou seguida de “s”, recebe acento agudo: saída, saúva, uísque, baús.
          Sem ironia, RUBEMAR! ELA é sua AMIGA.
          Ferveu água e jogou com algumas gotas de detergente sobre as nozes fechadas, no lavador de macarrão. Enxaguou. Quebrador de nozes do tempo da infância, ainda perfeitinho e útil, trabalhador poucos dias num ano inteiro. (E ao contrário, o narrador aqui trabalhador o ano inteiro com poucos dias de folga.)
        Abertas parecem pequenos cérebros encolhidos. ELA foi quebrando devagar. Em maioria ainda fechadas, lacradas pela própria natureza, mas as formigas conseguiram entrar em algumas por uma fresta entre as metades da casca. Destas, algumas nozes semi-esfareladas e em outras havia somente a película totalmente vazia (como certos cérebros esvaziados). A contar da tarde de 22, ou as formigas trabalharam muitos dias sem parar - proporcionalmente, uma formiguinha para uma noz inteira é uma desproporção incrível! - , ou teriam dinamicamente feito muitas horas-extras de um trabalho hercúleo - sim, dezembro é tempo de 13º, “o 13º trabalho de HÉRCULES”. Dos doze trabalhos clássicos, a maioria relacionada com bichos - leão, javali, corça etc.   -,   mas nenhum com formiga. Nesta narrativa, entretanto, formigas trabalhando, não sendo “trabalhadas”...
          Se ELA fosse pintora, logo retrataria uma formiga carregando uma noz nos ombros (sem tendinite) ou nas costas (sem lombalgia). Mas este era o titã ATLAS.
        Gracejo por parte dela. Não identificou a origem - no local do mini-formigueiro, um micro-retalho de tecido ou papel vermelho que ELA traduziu como fragmento de roupa do “PAPAI NOEL da Festa de NATAL das FORMIGAS”.
          Pesquisou ao final de tudo: “Saúva, formiga cortadeira de apetite voraz, exclusiva da América do Sul.”
          Bom, para “certa saúva masculina” teria um bolo gelado de abacaxi recheado com creme de leite...................... Irei! Estrada ou ponte aérea?!       
NOTA DO AUTOR:
BOLO DE REIS - Na forma de uma coroa, com recheio e enfeite de frutas secas e frutas cristalizadas. Este bolo tradicional chegou a Portugal o final do século XIX, logo popularizado pelas doceiras de Lisboa e Porto, e ao Brasil via imigrantes portugueses. Se bolo seco, com 2 surpresas em seu interior: quem receber a fatia com fava, terá riqueza o ano todo e pagará o vinho no ano seguinte; quem receber a fatia com prenda, terá sorte o ano todo e pagará o bolo. Se forem 4 prendas simbólicas na confecção do bolo misturadas à massa antes de assar, teremos: um anel simbolizando casamento breve, uma cruz, convento ou celibato, uma moeda, dinheiro, e um dedal ou prego, trabalho.

               F   I   M


Biografia:
PARVUS IN MUNDUS EST. (O MUNDO É PEQUENO DENTRO DE UM LIVRO) Ser dedicado, paciente, ousado, crítico, desafiador e sobretudo enlighned são adjetivos de um homem cosmopolita que gostaria de viver mais duzentos, ou quem sabe trezentos anos para continuar aprendendo e ensinando. Muitos de nós acreditam que uma vida de setenta, oitenta anos é muito longa, contudo refuto esse pensamento, pois estas pessoas não sabem do que estão falando. Sempre é tempo de aprender, esquadrinhar opiniões, defender, contestar ou apoiar teses, seguir uma corrente filosófica (no meu caso, a corrente kantiana), não necessariamente crer num ser superior, mas admirar e respeitar quem acredita nele. Entender a diversidade de costumes e culturas denominados de forma polissêmica nas diferentes partes do mundo, falar um ou dois idiomas, se perguntar o porquê e tentar encontrar respostas para as guerras, a segregação racial, as diferenças étnicas, o fanatismo religioso, o avanço tecnológico, o entendimento político. Enfim, apenas estes temas já levaria uma vida para se ter uma compreensão média. A leitura é o oráculo para estas informações, é ela que torna o mundo cada vez menor capaz de se acomodar nas páginas de um livro. É por isso que se diz que não há fronteiras para quem lê. Atualmente as pessoas confundem Balzac com anti-inflamatório, Borges com azeite, Camilo Castelo Branco com rodovia estadual, Lima Barreto com laranja de determinado município paulista, Aristóteles com marca de carro e por aí vai. Embora, eu tenha dissertado sobre o conhecimento culto, os meus trabalhos publicados aqui demonstram o dia a dia das pessoas comuns narrados através de divertidas e curiosas estórias. Meu público alvo são as mulheres. É para elas que escrevo, pois são elas possuidoras de sensibilidade capaz de entender o conteúdo do meu trabalho.
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