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Os asseclas do medo
Giulio Romeo

Um par de olhos estava mirando o Horizonte, num dia cinzento, úmido, silencioso, cheio de magia, medos e encantos mórbidos, quando percebeu que o Planeta estava mudando e as coisas e as pessoas tinham tomado um novo rumo, bem diferente do que conhecia e do que imaginava.

Os valores antigos tinham se transformado em exemplos apenas, com poucos comentários e ilustrações, com citações de semiologia e de modelo épico de comportamento e costumes.

Olhou com olhos de outrora o enigma da descoberta dos desejos, do calafrio dum beijo quente, da exatidão das horas incertas e das caladas noites com gritos ao longe, bem ao longe.

Frustrou o seu presente com glorias deixadas no passado e lembrou o que não fará no futuro.

Entrou, literalmente, num pensamento profundo, tão real, que suas pupilas pulavam de contentamento e de alegria em pensar nas coisas tão lindas e preciosas que fizera tantas vezes, mas pena que só em sonho. O seu imaginário era dum escritor de romance, daqueles conturbados, mas com final feliz.

Estava sectário dos seus dogmas e princípios que jaziam numa seita de incredibilidades, mas com Anjos dominando profundamente o seu coração e a sua credibilidade irrestrita.

Tinha na Alma, cicatrizes do incompreendido, tinha rugas do cansaço e falhas da exatidão.

Quando mirava o Horizonte, descrevia sentimentos reais, mas que habitavam somente na sua imaginação. Sua lógica conflitava com o remorso de não pedir perdão e sua alegria se confundia com severas crises de incompreensão e também de incerteza.

Parou por uns minutos, respirou fundo, olhou as mãos, conferiu os dedos e com muito empenho em ser e ter sensações:

Sentiu o arrepio da solidão como se fosse uma maldição;

Sentiu a força do medo, da incerteza, da insegurança, travestidos em ilusão;

Sentiu a fome de amar, como há muito não fazia;

Sentiu o cheiro da pele perfumada com fragrâncias, com fixador 5;

Sentiu o gosto do suor se espalhando em suas narinas;

Sentiu o sabor da emoção e a sensação de já ter sentido sensação;

Sentiu a doce voz do amor, da ternura e do desejo;

Sentiu a dor da razão, trazendo-o de volta à realidade.

Enfim sentiu-se no presente novamente.

E calculou que, se não fossem os olhos da verdade e do conhecimento, jamais existiria os olhos da Sabedoria.

Percebeu que sua conduta não tinha mais repreensão, que pouco importava para as pessoas a sua opinião, a sua experiência, a sua técnica e o seu conhecimento.

Percebeu também que simplesmente caminhava só, não mais com medo, não mais com tristeza, apenas com uma indiferença enorme às coisas da vida, pois sabia que a verdade não se baseia na simples descoberta das coisas e sim, para que servem essas coisas e como usá-las.

Irônico, pensou, como demora muito para a Sabedoria se instalar no nosso espírito.

Só quando estamos envelhecendo é que ficamos Sábios, mas que adianta, se agora o vigor deixou de habitar a matéria, se o desejo passou a ser uma nova experiência e que a vontade se transformou em necessidade, que adianta então?

Sem muito mais a comentar com os seus próprios botões, refletiu que se fosse ficar como todos os asseclas do medo, temendo a morte e suas consequências, e que morrerá sem obter respostas, não havia necessidade em se preocupar com o fim, pois o começo de uma nova era se aproximava. Se morresse para sempre, o que fazer, se for a lei da Criação, assim seja.

- Se for para uma nova vida, com certeza, me lembrarei do que aprendi por aqui e também o que deixei de fazer, por falta de oportunidade ou por falta de coragem, o que quero de bom e também o que vou fazer sorrindo e amando!

Num momento de reflexão, sozinho em seu quarto pouco iluminado e com o silêncio como companhia e a noite como alento, meditará em profunda concentração e concluirá que: a morte é a única razão da vida, a única certeza que se tem, o colírio para olhos cansados e quase sem foco para a inserção de novos conceitos e tempo para a compreensão de novos valores e também o fim das dores e dos desejos de sentir e de mostrar o que não somos e o que não temos.

Pensará que muitas coisas morrem para outras nascerem. Plantas, Vegetais, restos de Animais, viram adubo ou ração para alimentar novas Vidas, novas oportunidades. E lembrou também que na conta de seus muitos anos de Vida, não era nem sombra comparado à idade do Planeta.

Sorrindo, enxugou as lágrimas, eternizou à Alegria, se apresentou à Felicidade e disse;

“Velho? - é o mundo!”


Biografia:
Professor de Ciências da Religião, Teólogo, Filósofo e Pesquisador de Ciências ocultas. Procuro a verdade e quero compartilhar meus estudos sobre o comportamento filosófico e religioso de povos e comunidades, que tem a fé, como sustentáculo de sua existência tridimensional.
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