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Um Carro de Milho
Pedro Ornellas

Resumo:
Considerações sobre a vida na roça descrevendo a experiência do autor na colheita de milho, com ênfase nas unidades de medida utilizadas e sua origem.

Nos meus tempos de roça, uma coisa que eu admirava era a maneira de se medir e quantificar as coisas adotada pelos roceiros.
Ainda criança, entendi o significado de metro quadrado e metro cúbico, ao aprender com meu avô a cubicar madeira e medir a extensão de terras.
Assim eu e meu irmão Antônio éramos muitas vezes requisitados pelos colonos para ajudá-los a determinar a área, inclusive de terrenos irregulares.
Recebíamos muitos elogios por conhecermos essa ciência, tão complicada para eles.
Outras unidades de medida, menos complexas e bem conhecidas, eram usadas para se armazenar ou vender os produtos. Para mim eram igualmente geniais: Uma saca de café em coco, 40 quilos; de arroz, 60 quilos, de feijão, 80 quilos. Um fardo de algodão, 4 arrobas (60 quilos).
A medida de terras era feita tendo por base o alqueire. Um alqueire paulista equivale a 24.200m2, já o mineiro, chamado de alqueirão, tem o dobro dessa medida. No Paraná, onde nasci e fui criado, usa-se o alqueire paulista. Terrenos menores são definidos por meio alqueire, uma quarta (1/4 de alqueire) ou, se menores ainda, por metros quadrados.
Voltando às medidas de capacidade, lembro-me de que achava muito interessante a maneira ‘complexa’ de se calcular o milho colhido. Fiquei empolgado ao aprender na prática com meu pai.
A colheita do milho seco era chamada “quebra de milho”.
A gente ia ‘quebrando’ ou desprendendo as espigas, e tombando os pés de milho, então secos e quebradiços.
As espigas iam sendo jogadas para formar montes, distantes uns quinze ou vinte metros uns dos outros.
Esses montes eram chamados de bandeiras.
Para determinar o local de cada bandeira e ajudar na pontaria, deixávamos ali um pé de milho sem tombar.
Jogar as espigas e ver o monte crescer – como eu gostava dessa parte! Era como se a gente trabalhasse se divertindo!
Visto que as bandeiras eram irregulares, como determinar a quantidade?
Isso era feito na hora de recolher o milho e armazená-lo no paiol. Íamos enchendo balaios (ou jacás) e despejando na carroceria do caminhão, veículo utilizado para o transporte, no nosso caso.
Essa operação era amiúde feita por vários trabalhadores, por ser bastante exaustiva, embora divertida.
Em cima do caminhão ficava um sujeito esperto, que tinha de ser rápido para pegar o balaio dos ombros de vários carregadores, despejar na carroceria, devolver o balaio vazio e ir nivelando com os pés a carga.
Tentar colocá-lo em apuros era a intenção de carregadores traquinas que para tanto aceleravam o ritmo, não se importando em trabalhar duro, só para se divertirem um pouco, quando conseguiam ‘vencer’ o arrumador da carga, que por sua vez, os ficava atiçando e chamando de molóides, quando se mostrava mais rápido do que eles. Nas bandeiras, os balaios eram cheios, nivelando-se o conteúdo pela boca (balaios rasos).
A cada balaio cheio, uma espiga era jogada num monte à parte, para se ter no final a contagem exata de balaios. Quarenta balaios equivaliam a um carro de milho. (Em outras regiões um carro equivale a 45 ou 50 balaios)
O carro era a unidade padrão para se negociar o milho.
A título de informação: Em um carro há c. de 4.800 espigas, que, debulhadas, produzem em média c. de 16 sacos de 60 quilos. O peso bruto, espigas in natura, com casca e sabugos, é c. de 1.400 quilos.
Mas de onde vem esse conceito de medida? Qual a sua origem?
Nos tempos de antanho, o transporte de milho era feito em carros-de-bois. Tornou-se costume negociar o milho por carrada (carro), ou seja, a quantidade que cabia num carro.
Observou-se que um carro de tamanho regular, raso, comportava 40 balaios, medida que se tornou convencional, mesmo depois que se aposentou o velho e saudoso carro-de-bois.
Velha e saudosa também é a lembrança que guardo da convivência com meu pai, que praticamente sem ter ido à escola, foi diplomado com distinção na escola da vida e pôde assim, da sua experiência acumulada, nos transmitir conhecimento prático muito além do que se pode encontrar em qualquer currículo escolar.
Prova disso é o silêncio que recebo como resposta de pessoas instruídas, quando faço a simples pergunta:
- Você sabe quanto milho tem em UM CARRO DE MILHO?


Biografia:
Nascido em Marialva PR, aos 26 de maio de 1951, mora em São Paulo desde 1974. Casado com Izaltina Maia de Ornellas, têm dois filhos: Reginaldo e Regiane. Quase 3.000 trovas compostas, além de sonetos, crônicas, pensamentos, hai-cais... Centenas de premiações em concursos no Brasil e alguns em Portugal. “Magnífico Trovador” por Nova Friburgo RJ e “Trovador Notável” por Pouso Alegre MG. Publicou em 2018 o livro "Resgatando Auroras" com 450 trovas, 39 sonetos, diversas crônicas, haicais, pensamentos e provérbios. Participação em dezenas de antologias, trabalhos publicados em diversos jornais e revistas. Compositor sertanejo com dezenas de músicas gravadas por diversos intérpretes. Compõe com Campos Sales “Os Trovadores do Campo”, dupla sertaneja, com três CDs gravados pela Gravadora Chororó, São Paulo.
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