... Cíntia, ao mesmo tempo em que ficou apavorada, também ficou curiosa; mesmo com medo, ela aproximou-se da árvore e encostou o ouvido em seu tronco; os três segundos que se passaram, pareceram ser uma eternidade por cauda da tensão em que estava!
Repentinamente, Cíntia saltou um grito e caiu sentada para trás; começou a afastar-se da aldragoa arrastando-se no chão, enquanto Inácio surpreso, a olhava:
- O que houve? – Perguntou ele, ao tempo em que a levantava do chão;
- A ..., a..., ár..., vore..., e..., ela..., fa..., falou... MAMÃE!
- O quê?! Como Assim???
- Eu ouvi!... uma voz falou “mamãe”!
- Você deve estar nervosa por causa do que Vanessa falou lá na cozinha! - Disse Inácio, tentando acalmá-la;
- Nervosa? Você também ouviu o gemido!
- Deve ter sido o vento passando entre os galhos e o tronco!
- O vento? Por acaso você sentiu algum vento hoje neste quintal? - Esbravejou ela;
Cíntia sacudiu a terra da roupa e voltando para dentro de casa, deu as costas para Inácio, deixando a pergunta no ar.
Inácio permaneceu parado no quintal, olhando para a copa da árvore. Realmente as folhas permaneciam inertes, nem mesmo uma brisa passava pelas folhas e flores da aldragoa, e por falar em flores, Inácio lembrou que marcara encontro pra quela tarde, com o antigo proprietário da casa...
Às 14:25hs, Inácio estacionou seu Dublô em frente a uma livraria; gostava daquele carro por ser espaçoso e por ajudá-lo a carregar os materiais dos eventos que realizava. Olhou para o relógio e seguiu adiante, empurrou a porta e os sinos pendurados no outro lado, anunciaram a sua chegada:
- Boa tarde!
- Boa! - Respondeu Inácio;
- Posso te ajudar em alguma coisa?
- Eu sou o novo proprietário da casa que ligou para o senhor nesta manhã! - Disse Inácio, estendendo a mão;
- Ah! Sim! O rapaz da árvore!
- Eu mesmo! Inácio!
- Roberto! Por favor, sente-se! - Roberto indicou para Inácio uma pequena mesa de madeira de jacarandá, ladeada por duas cadeiras do século XVIII;
- Bem, você me falou a respeito de uma árvore... - Perguntou ele;
- Sim, um pé de aldrago, que fica no meio do quintal – Inácio percebeu a mudança no seblante do homem sentado à sua frente, quando ele mencionou a árvore;
- Aque.. aquela árvore... está de pé? - Perguntou Roberto assustado e surpreso;
- Está! Mas por que a pergunta?
- Não pode ser..., tem certeza? - Insistiu Roberto;
- Tenho: uma aldragoa de mais ou menos dez metros de altura, bonita e super florida, apesar desta época;
- Esta árvore, acabou com o meu casamento!
- Como assim? - Perguntou Inácio;
- Você não vai acreditar se eu te falar! - Disse Roberto cabisbaixo;
- Que parece que a árvore fala?
Roberto suspendeu a cabeça surpreso com a resposta de Inácio. Ficou olhando para ele e percebeu que Inácio já tinha percebido algo de estranho também:
- Pois bem! Aquela maldita árvore, fez meu casamento entrar em ruínas!
Inácio permaneceu em silêncio, esperando que Roberto prosseguisse:
- ...Minha mulher começou a ouvir vozes vindo daquela árvore, como se fossem gemidos ou choro de criança, sabe?! Sufocado, preso...
- Mas... você chegou a ouvir também? - Perguntou Inácio, interrompendo Roberto;
- Não! No início eu nem acreditei na minha esposa. Mas depois que ela começou a acordar no meio da madrugada e ir deitar-se debaixo daquela árvore, eu achei que ela estava ficando louca...
- E o que aconteceu depois? - Quis saber Inácio;
- Uma certa noite, eu acordei no meio da noite e olhei pela janela – a mesma do quarto em que você deve estar agora – e minha esposa estava com um lençol abraçada com a árvore. Eu resmunguei por achar que a maluquice já estava passando dos limites...;
- Hum... hum... - Fez Inácio apreensivo pelo desfecho da narrativa;
- … Quando eu desci e perguntei a ela o que ela estava fazendo, ela me respondeu que a árvore pediu para que a “MAMÃE” a enrolasse, pois estava com frio!
- Que a mamãe a enrolasse? - Indagou Inácio;
- Foi nesse momento que eu acreditei ser mesmo loucura de minha mulher, pelo fato de não termos filhos.
- Ela fez da árvore um filho? - Perguntou Inácio;
- Pensei assim também; mas quando tentei tirá-la da árvore, eu ouvi cla-ra-men-te a voz de uma criança dizendo: “MAMÃE, ME ABRAÇA”!
- Tem certeza?
- Tão claramente, assim como estou te ouvindo falar comigo agora!
- E depois desses fatos, o que o senhor fez?
- Depois do susto que tomei, levei minha esposa para dentro de casa e ela só foi piorando com o passar do tempo. Sempre vivia dizendo que precisava cuidar de nossa menininha, que a mamãe precisava estar junto ao seu bebê!
- A árvore?
- Sim!
- E o que aconteceu com sua esposa, como ela está? - Perguntou Inácio;
- Eu precisei interná-la em um hospício, e ela se encontra lá, até hoje!
- Sinto muito! Mas..., foi então por esta razão que o senhor se mudou e pôs a casa à venda?
- Isso mesmo!
- Mas..., me responde só mais uma coisa: o que o senhor quis dizer com “AQUELA ÁRVORE ESTÁ DE PÉ”?
- Fazem quinze meses que eu saí daquela casa e você...- Roberto fez uma pausa esperando pela resposta de Inácio;
- Tem mais ou menos um mês e meio que eu me mudei para lá...;
- Pois é; por esta razão que eu estou surpreso!
- Por que eu me mudei para aquela casa? - Perguntou Inácio;
- Não! Pelo fato que ante de eu sair, eu cortei aquela árvore no toco e arranquei as suas raízes...
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