O MISTÉRIO DA ÁRVORE QUE CHORAVA
PARTE - I
Há muito que Inácio colocara em seu coração, o desejo de comprar aquela casa que ficava no fim da rua das flores; observara que fazia tempo que ela permanecia fechada, desde quando os antigos moradores se mudaram repentinamente.
Descobriu que o antigo dono, a estava vendendo por um preço razoável e conversando com sua esposa, resolveram vender o carro e a própria casa para comprá-la. Ao seu ver, era um bom negócio já que ela era maior e tinha um quintal onde sua filha de cinco anos, Vanessa, poderia brincar à vontade! Em dois meses, fechou a compra e se mudou com toda a família para a nova casa.
Após a mudança e arrumarem tudo, Inácio em um sábado pela manhã, foi caminhar pelo quintal. Observou os pés de acerolas e de cajus, dois pés de manga, um pé de jambo e o pé de jaca pilão que ficava no fim do terreno. Mas o que lhe chamara mesmo a atenção, foi um pé de aldrago que estava no meio do quintal.
Árvore nativa do Brasil, utilizada normalmente em paisagismo urbano, onde tem ampla utilização, de porte médio entre oito e quatorze metros de altura, com folhas verde-musgo brilhante, naturalmente vista em floresta pluvial da encosta atlântica, estava totalmente florida em pleno mês de maio. Inácio era florista de profissão, e uma das flores que ele gostava muito de utilizar em festas de casamentos que aconteciam no mês de dezembro, eram justamente as flores do aldrago. A sua floração, de flores amarelas de um tom intenso, é muito fugaz, mas em cerca de dois dias, toda a flor já desapareceu de cena.
A surpresa de Inácio, era justamente por encontrar a árvore totalmente florida, pois sabia que ela acontece entre os meses de outubro à dezembro. Olhou a árvore de cima à baixo e encostou as mãos nela; instintivamente, deu dois passos para trás, ao sentir o tronco da árvore latejar assim que tocou nela! Seu coração acelerou o batimento, arregalou os olhos e olhou para a copa; no mesmo instante, algumas gotas de água lhe caiu por sobre o rosto escorrendo-lhe pela face até tocar em seus lábios, sentindo o gosto salgado delas.
Inácio começou a caminhar em direção à casa de costas, sem tirar os olhos da árvore. Viu ainda quando ela tremeu, da raiz até o alto; disparou até a porta de entrada, abrindo-a de um só golpe! Cíntia, sua esposa, estava na cozinha e com o susto que tomou, deixou o copo de suco cair ao chão:
- Inácio? O que houve? - Perguntou ela olhando para o rosto de espanto de Inácio;
- Nada não! Eu só..., - Inácio travou a língua;
- Você só o quê? - Tornou a perguntar ela;
- Eu só..., só me assustei lá no quintal! - Respondeu ele;
- Com o quê? Algum bicho? Rato? Não foi rato né, você sabe que eu tenho pavor a rato e..
- Não! - Esbravejou ele, interrompendo ela – Esquece! Depois com calma, a gente conversa! - Inácio foi em direção ao cômodo que fizera de escritório.
Procurou na prateleira até encontrar o livro que classificava algumas espécies de árvores. Folheou suas páginas e parou justamente na que falava sobre a aldrago. Pesquisou e não encontrou nada que falasse sobre seu tronco latejar ou cair gotas de águas de suas folhas. Aquela situação, o deixou completamente confuso...
.........................................
No dia seguinte, Inácio levantou cedo. Olhou pela janela em direção a árvore e ela permanecia florida como no dia anterior. Resolveu pesquisar quando e como aquela aldragoa foi plantada. Se descobrisse como ela permanecia florida fora de sua época, talvez pudesse trabalhar com as suas flores nos arranjos das cerimônias dos eventos que realizava.
Enquanto telefonava para o antigo dono do imóvel, sua filha Vanessa saiu empurrando um carrinho de boneca para o quintal. Cíntia procurando por ela, a encontrou sentada em frente a aldragoa, como se estivesse brincando com outra pessoa. Ela ficou parada observando por um certo tempo, até vê-la abraçar a árvore e se despedir dela:
- Com quem você estava conversando meu bem? - Perguntou Cíntia assim que Vanessa passou por ela;
- Com minha nova amiguinha!
- Nova amiguinha?
- Ana! Ela disse que o nome dela é Ana – Respondeu Vanessa, sem dar muita atenção a sua mãe;
- Ana? E como é que você sabe disso? - Cíntia seguia Vanessa pela casa; - Ela mesmo me disse! Só que ela está muito triste... - Finalmente, Vanessa parou e deu atenção a sua mãe;
- Como assim; triste?
- É que ela não pode sair pra brincar, porque a árvore não deixa!
Inácio que ia entrando na cozinha, ao ouvir sua filha pronunciar aquelas palavras, tremeu o corpo inteiro ao lembrar da sensação que sentiu ao tocar na árvore. Olhou para Vanessa e Cíntia que ainda estava surpresa com a resposta sincera de sua filha, e foram ao mesmo tempo, até o quintal. Pararam em frente a aldragoa, e tiveram a impressão de estarem ouvindo, um gemido de choro de criança...
EMANNUEL ISAC
|