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O 13º ANDAR
EMANNUEL ISAC

Resumo:
Após batalharem muito, Renata e Cláudio finalmente conseguiram comprar o tão sonhado apartamento. Só, que eles não esperavam, que fosse ser também o fim de sua felicidade...


          Foi depois de muita economia e sacrifícios, que Renata e Cláudio conseguiram realizar o sonho da casa própria; compraram o tão almejado apartamento em um dos bairros mais requisitados do centro de Salvador, no Campo Grande.

          O Edificil Residence Vitória Center, com os seus 35 andares e duas suítes na cobertura, com vista para a Baía de Todos os Santos, de onde também podia se avistar ao fundo a Ilha de Itaparíca, ficava no corredor da Vitória. Renata e Cláudio ficaram com o o apartamento que ficava no 28º andar. Além de terem vista privilegiada, podiam ver de uma de suas janelas, o Farol da Barra.

          Bianca, a filha do casal de oito anos, era pura alegria:

          - Olha mãe! Tem piscina!
          - Pai! Olha a quadra de tênis! - Frisou ela, pois fazia aulas daquele esporte.

          Passou-se uma semana até que Renata conseguisse arrumar o apartamento. Logo, criou amizade com os novos vizinhos do andar em que morava, já que era somente quatro apartamentos por andar. No final do primeiro mês, já tinha sido convidada com Cláudio, para uma festa no play glande.

          Na noite da festa, quando todos já se divertiam, Renata percebeu que Bianca conversava com outra menina, sentada no banco do parquinho. Bianca voltou ao salão de festas e separou alguns doces e salgadinhos em um prato e levou para a menina, que permanecia sentada lá no banco, distante de todos da festa. Ela fez isso por mais duas vezes e na quarta vez, sua mãe lhe chamou:

          - Bia, porque você não vem com sua amiguinha comer na sala, como todo mundo?
          - Por que ela disse que não foi convidada para a festa! - Respondeu ela;                    
          - Mas fica feio você ir toda hora na mesa, fazer um prato, e sair com ele!

          Bianca já se preparava para voltar para perto de sua amiga, quando ela e sua mãe olhou, e viu quando um homem e uma mulher surgiram perto da entrada da garagem, próxima ao parque, e chamaram a menina que se levantou, olhou para Bianca, deu até logo e foi em bora com aquele casal:

          - Bom; acho que os pais dela também perceberam a situação e vieram buscá-la! - Disse Renata para a filha.

          No dia seguinte, Bianca após subir da piscina com seu pai, pediu para sua mãe ir brincar na casa de sua nova amiga, pois ela tinha lhe convidado na noite da festa. Sua mãe lhe disse que não poderia deixar pois não conhecia os pais da menina. Bianca insistiu e disse que, como ela lhe falara, sua nova colega morava no décimo terceiro andar, que ela mesma poderia levá-la e aproveitar para conhecer os pais da garota. Cláudio que escultava a conversa da porta do banheiro, concordou com a colocação da filha e disse que era bom para ela ir enturmando-se com os moradores. A contra gosto, Renata então cedeu; concordou que após o almoço, levaria Bianca até o apartamento de sua amiga, mas com a condição dela voltar antes das cinco horas da tarde!
                 
          Renata entrou no elevador com a filha e ao procurar o botão com o número treze, só encontrou uma tarja preta em lugar do número. Pensou que o botão tinha dado algum defeito pois apertou ele por várias vezes, e ele não acendeu a luz indicando o andar que foi solicitado. Mesmo assim, o elevador começou a descer. Renata ficou observando os números no alto do indicador de andares, piscando; 27, 26, 25,... mas chegando no décimo quarto, ele simplesmente apagou!

          
          O elevador deu um tranco tão forte que derrubou Renata e Bianca no piso do elevador. Após o susto, as duas levantaram ao mesmo tempo em que a porta do elevador se abriu. Renata saiu do elevador e olhou para o corredor mal iluminado:

          - Esse é o décimo terceiro? - Renata perguntou pra si mesma;
          - Acho melhor voltarmos Bianca!

          Renata estava com um mau pressentimento e não queria deixar a filha naquele andar. Mas quando ela se preparava para voltar para o elevador, a porta se fechou abruptamente! Renata começou a apertar o botão freneticamente, quando ouviu uma voz atrás dela:

          - Oi Bianca!

          Renata virou-se devagar, dando de frente para uma menina de olhar vidrado, cabelos longos e despenteados, um vestido amarelo com lacinhos verdes e um sapatinho branco;

          - Eu já separei as bonecas pra gente brincar!- Disse ela languidamente, estendendo a mão para Bianca;
          - Qual é o apartamento em que você mora? - Perguntou Renata, sem largar das mãos de Bianca;
          - Aquele! - A menina apontou para a porta à sua frente;
          - Vamos até lá! Eu quero ao menos falar com seus pais! - Disse Renata, pondo-se a caminhar ao lado dela em direção à porta;

          Renata parou em frente ao apartamento, esperando que a menina batesse na porta, mas ela permaneceu imóvel ao seu lado! Renata então tocou a campainha; uma mulher de cabelos pretos e olhos fundos com um rosto esquelético, abriu a porta. Renata olhou para a mulher e fez um esforço tremendo para não deixar transparecer a expressão de horror e susto, que ela teve, ao contemplá-la:

          - Boa, tar..., tarde! – Disse ela sem jeito;
          - O que deseja? – Perguntou a mulher, sem mudar a expressão séria e fechada no rosto;
          - É que sua filha convidou a minha, para brincarem juntas! Eu só queria saber, a onde e com quem ela vai estar brincando!
          - Tudo bem! Pode deixar as duas brincarem aquí! – A mulher falava pausadamente e com o ar de cansada.
          - Ah! Me desculpe; eu me chamo Renata! – Estendeu a mão para a mulher parada na porta, que permaneceu imóvel, calada e sem retribuir o gesto.
          
          Renata meio constrangida, virou para a filha e falou:

          - Você está com o seu celular, não?
          - Sim! – Bianca respondeu e mostrou para a mãe, o celular no bolso da calça;
          - Qualquer coisa, é só ligar que a mamãe desce pra vir te buscar! – Renata deu um beijo na filha e voltou para a porta do elevador.

          Enquanto ela esperava, olhou para a filha que estava de mãos dadas com a menina. Nesse momento, lembrou que nem perguntou pelo nome da menina, queria voltar, mas o elevador deu sinal que tinha chegado. Renata entrou na cabine e acenou para a filha, dando tchau!

          A porta do elevador começou a fechar, e ela teve a impressão de ter visto as luzes do corredor se apagarem. Sentiu também um cheiro de queimado e inclinou a cabeça para olhar pela fresta que ainda restava na porta, quando contemplou dois olhos escuros lhe observando; por impulso, recuou com o coração disparado e tremendo o corpo.


          Precisou de alguns segundos até recuperar o controle. O elevador parou dois andares a cima e entrou um senhor de cabelo grisalho e terno cinza, deu-lhe boa tarde, Renata respondeu automaticamente. O senhor olhou para ela e ao notar a expressão em seu rosto, perguntou-lhe se ela tinha visto algum fantasma. Renata permaneceu calada e quando ele percebeu que o elevador estava subindo e não descendo, resmungou em alta voz!

          Ao parar no 28º andar, Renata saiu depressa e foi direto para o seu apartamento. Cláudio ao ver a esposa entrar em casa nervosa, perguntou se tinha acontecido algo:

          - ... Você deve estar nervosa pelo fato de ter deixado Bianca brincar pela primeira vez sozinha com alguém! – Disse ele após ouvir Renata contar tudo o que aconteceu;
          - Talvez seja isso! Mas o fato é que eu não gostei nenhum pouco do jeito daquela mulher; - Disse ela, já se acalmando;
          - Só por que ela estava sem pentear os cabelos? – Cláudio tentou brincar, para aliviar a tensão de sua esposa;
          - Ela nem me convidou para entrar! Eu fiquei lá, com a mão estendida, parecendo uma..., uma..., idiota qualquer!
          - Calma minha filha, relaxe..., em instantes, Bia já vai ter voltado e você não permite mais que ela vá brincar na casa dessa menina, está bem? – Cláudio falou com carinho com ela, pois sabia que ela não iria sossegar, até que a filha estivesse em casa.

          Às 17:00hs. Renata passou a olhar para o relógio de 10 em 10 segundos. Após se passarem quase vinte minutos, resolveu descer para ir buscar a filha. Entrou no elevador e apertou mais uma vez o botão sem numeração, para se dirigir até o 13º andar, onde tinha deixado sua filha. O elevador desceu e parou no 12º. Renata olhou e ao constatar o andar errado, voltou para o elevador e apertou o botão negro; desta vez, o elevador subiu e parou no 14º andar!

          Renata esbravejou e voltou novamente para a cabine, repetiu a mesma ação anterior e lá se foi o elevador para o 12º andar novamente. Saiu reclamando do aparelho e resolveu subir as escadas. Para sua surpresa, encontrou uma parede aberta com um lance de escadas, ao lado de um portão de ferro e um pequeno muro de tijolos por trás dele, que isolava o que antes era a continuação das escadas para o 13º andar. Subiu pelas escadas recém construídas e deu de cara com o 14º andar, Renata entrou em desespero!

          Desceu as escadas correndo e parou em frente ao obstáculo construído; ficou olhando..., balançou o portão fechado com correntes e cadeados..., contemplou o pequeno muro de tijolos por trás dele, e resolveu ir chamar Sérgio. Tocou a campainha várias vezes em sequencia até que Cláudio, ainda meio sonolento, abriu a porta:

          - Não consigo encontrar Bianca! - Disparou ela, sem dar tempo de Cláudio pensar;
          - O quê?..., Como?...
          - Eu não consigo chegar no andar onde Bia estar! - Disse ela puxando o marido pelo braço;
          - Calma! Preciso vestir uma roupa! - Só agora Renata percebeu que o marido estava somente vestido com uma cueca samba-canção!

          Cláudio vestiu uma bermuda e uma camiseta regata, calçou a sandália de dedo e desceu com Renata, ouvindo ela narrar os fatos. Dentro do elevador, ele apertou o botão que seria do 13º andar, o elevador foi parar no 12º mais uma vez; insistiu no botão e agora foi parar no 14º andar. Cláudio desceu as escadas com Renata e parou em frente ao portão que ela lhe falara:

          - Que merda é essa? - Perguntou ele surpreso com tudo que estava acontecendo;
          - Eu não sei! Só sei que precisamos dar um jeito de chegar na merda desse andar pra pegarmos Bia! - Esbravejou Renata, já bastante nervosa;
          - Vamos até a zeladoria e falar com o responsável; deve ter uma explicação para isso!

          Cláudio e Renata desceram mais um lance de escadas e pegaram o elevador no 12º andar. Ao chegarem no térreo, se dirigiram ao escritório do zelador. Bateram à porta e em poucos segundos, um senhor alto, de cabelos grisalhos e rosto magro, abriu a porta. Renata o reconheceu, como sendo o mesmo senhor que entrara com ela no elevador, após ter deixado sua filha no 13º andar:

          - Sim, o que desejam? - Perguntou ele com a voz cansada;
          - Precisamos chegar no décimo terceiro andar e não conseguimos! - Disse Cláudio, parado na entrada da porta;
          - Tenho que chegar lá agora..., preciso pegar a minha filha e.... - Calma! Interrompeu ela Cláudio, segurando em seus braços;
          - Desculpe, eu não estou entendendo do que vocês estão falando! - Disse o zelador ainda em pé, segurando na maçaneta da porta;
          - Olha só; hoje à tarde, minha esposa deixou nossa filha brincando... - Cláudio começou a narrar os acontecimentos para o homem. Renata olhou por sobre os ombros do zelador e gritou:
          - É ela!
          - Quem? - Perguntou o homem ainda assustado com a reação de Renata;
          - A menina! É ela! - Cláudio inclinou a cabeça para olhar na direção em que a esposa apontava. O homem virou-se e falou:
          - Ah! A minha pequena Isa... - Renata adentrou o aposento, empurrando o homem de lado, ficando em frente ao retrato preso na parede;
          - Tenho certeza que deixei Bianca brincando com ela! - Exclamou ela, colocando o dedo indicador no retrato;
          - Acho que a senhora está enganada! - Disse o velho se aproximando dela e retirando o retrato da parede.

          O homem sentou-se na cadeira da escrivaninha e passou a mão pela foto, suspirou fundo e Cláudio pode perceber quando uma lágrima caiu sobre o porta-retratos. Renata e Cláudio sentaram-se à sua frente:

          - Acredito que a senhora deve ter confundido a minha neta com outra criança do edifício! - Disse ele colocando o porta-retratos em cima da mesa;
          - Eu jamais esqueço um rosto e eu afirmo pro senhor que foi com esta menina que deixei a minha filha brincando hoje à tarde! - Persistiu Renata;
          - Mas por qual motivo o senhor está falando que a minha esposa está enganada? - Perguntou Cláudio;
          - Isadora morreu há dez anos atrás! - Renata que estava com as mãos em cima da mesa, ao ouvir a declaração do zelador, quase caiu da cadeira;
          - Co... com... como as... assim? - gaguejou ela;
          - Há exatamente, dez anos, aconteceu um incêndio no décimo terceiro andar, onde minha filha morava com minha neta. Infelizmente, elas morreram neste incêndio...; - Disse ele, deixando que as lágrimas que rolassem por seu rosto.

          Renata começou a tremer o corpo por inteiro, segurando nas mãos de Cláudio, ainda não acreditando no homem;

          - Meu senhor, eu não sou maluca! Eu sei que deixei minha filha no décimo terceiro andar, brincando com essa menina! Eu ainda falei com a mãe dela! - Renata explodiu, alterando a voz. Claúdio pediu para ela se acalmar, que com certeza, haveria uma explicação para aquilo;
          - Mais um motivo para eu afirmar que a senhora está enganada;
          - Pode nos explicar então? - Pediu Cláudio;
          - O décimo terceiro andar, está isolado por causa do incêndio que houve há dez anos atrás, para ser preciso, exatamente hoje!
          - Eu estive lá, deixei minha filha lá, eu quero pegar minha filha de volta! - Renata começou a chorar compulsivamente.

          Cláudio abraçou a esposa e olhou para o homem parado à sua frente. O zelador prosseguiu com a história; disse que há exatamente dez anos, quando o edifício foi inaugurado, houve um incêndio no 13º andar e a única família que morava naquele andar, era a de sua filha. Ele já trabalhava como zelador e tentou ajudar a filha e a neta. As duas ficaram presas no corredor, entre as chamas e ele nada pode fazer. Suspendeu as mangas da camisa, e mostro aos dois, as marcas das cicatrizes que ficaram da queimadura de terceiro grau que tivera naquela noite.

          Por motivo de segurança, as paredes foram reforçadas e o andar por inteiro foi isolado, inclusive, o elevador foi programado para não parar no 13º andar. Como Renata conseguiu chegar no andar, ele não sabia explicar. Só sabia que a sua filha e sua neta, foram as primeiras e únicas moradoras em um apartamento daquele andar.

          Renata persistiu em dizer que não acreditava naquela história e que sua filha devia estar em algum lugar daquele edifício. O homem se levantou e pegou uma penca de chaves na gaveta da escrivaninha, pedindo para que Cláudio e Renata os seguisse. Subiram até o 14º andar e desceram o lance de escadas, parando em frente ao portão fechado com correntes e cadeados. Ele começou então a abrir os três cadeados grandes, tirou as primeiras fileiras dos tijolos, abrindo passagem para uma escada. Passou por ela e fez sinal para que o casal o seguisse.

          Chegaram no andar; tudo estava ainda com marcas de queimado. Renata olhou ao redor e não podia acreditar que estivera naquele local horas antes. O zelador iluminava o corredor com a lanterna e Renata disparou assim que contemplou a porta do apartamento, a onde tinha a certeza que havia deixado Bianca:

          - Aqui! Foi neste apartamento que eu deixei Bia..., ela ficou parada aqui na porta com a menina..., eu olhei do elevador e vi quando as duas entraram e ai, as luzes piscaram., eu olhei e...
          - Calma! - Interrompeu Cláudio – Vamos por partes;
          - Você disse que deixou a Bia, parada aqui, na porta? - Perguntou ele para a esposa;
          - Sim! Ai eu fui...
          - Daqui, você voltou para o elevador? - Cláudio não deixava mais a esposa falar;
          - Certo! Mas ai foi quando as luzes...
          - Renata! Deixe eu tentar entender o que aconteceu! - Cláudio alterou a voz;
          - O elevador está isolado; olhe! - Disse o velho, iluminando a porta do elevador, que estava fechada com uma tábua grande;
          - Não! Eu..., eu entrei por aquela porta e olhei para Bia, parada aqui, dando adeus para mim! - Renata desabou no chão.

          Cláudio segurou a esposa pelos braços e a levantou. Pediu para que o homem abrisse o apartamento e ele se recusou! Sérgio disse que era melhor ele abrir do que chamar a polícia. Ele só queria olhar o apartamento; precisava esclarecer a situação e saber se a esposa não tivera um lapso de memória. A contra gosto, o velho abriu a porta e dentro do apartamento, saiu um cheiro insuportável de podridão! Sérgio pôs a mão no nariz e entrou no apartamento, seguido de Renata e do velho. Olharam todos os cômodos e não acharam nada! Já estavam saindo, quando Renata parou em frente a uma porta e perguntou:

          - O que era esse cômodo?
          - Era o quarto da minha neta! - Respondeu o velho;
          - Abra! - Disse Renata decidida;
          - Não vou fazer isso; esse quarto desde o incêndio, nunca mais foi aberto! Não quero lembrar de das coisas de minha neta, isso machuca muito!

          Renata avançou sobre o homem e arrebatou a penca de chaves de suas mãos. Ele tentou recuperá-la mas, Cláudio o segurou e pediu para que ele a deixasse prosseguir. Renata abriu a porta do quarto e estava muito escuro, pediu a lanterna ao velho e iluminou o ambiente; entrou com passos lentos e observou os brinquedos estragados pela ação do tempo e do próprio incêndio:

          - Por que deixou essas coisas aqui? - Perguntou ela, para o homem;
          - São as únicas coisas que me traz lembranças de minha neta! - Respondeu ele;
          
          Renata, já estava prestes a sair do quarto, quando observou um laço de fita na cor azul; voltou e abaixou-se perto da penteadeira, esticando o braço e trazendo na mão, a fita:

          - Cláudio! Olha! – Disse ela com espanto, segurando a fita no alto para que seu esposo pudesse ver;
          - O quê é isso? – Perguntou ele, forçando as vistas por causa da pouca luminosidade;
          - É a fita da Bia! – Disse ela convicta;
          - Amor; estamos dentro de um quarto de menina! Essa fita pode ter sido da menina que morava aqui!
          - Desde quando a menina que morava aqui, tinha o nome bordado na fita? – Perguntou ela, entregando a fita para Cláudio e mostrando o nome de Bianca bordado na ponta da fita.

          Cláudio olhou a fita e estremeceu! Segurou firme e forte no braço do velho e pediu explicações. O homem balbuciou e disse que seria melhor, que eles descessem para que as coisas fossem resolvidas. Os três voltaram pelas escadas e o velho trancou o portão.

          Ao chegarem no térreo, Renata esbravejou com Cláudio e pegou o celular para ligar para a polícia. O velho disse que iria aguardar dentro da sala da zeladoria. Quando a viatura chegou, chamou a atenção dos moradores do edifício, o síndico finalmente apareceu, perguntando o que havia acontecido:

          - Minha filha está sumida desde de hoje à tarde! – Disse Cláudio, para o policial;
          - Como ela sumiu e a onde ela sumiu? – Perguntou o policial, com uma prancheta nas mãos;
          - Eu a levei para brincar com uma coleguinha que ela conheceu ontem à noite na festa, aí falei que iria buscá-la no final da tarde, aí então ela...
          - Calma minha senhora; preciso saber dos fatos por partes! – Disse o policial, interrompendo Renata, que estava bastante nervosa.

          Os moradores começaram a se aglomerarem ao redor do casal. Renata chorava compulsivamente sendo amparada pelo marido. O síndico trouxe-lhe um copo com água e assim que ela se acalmou, ele perguntou mais uma vez:

          - A senhora estava dizendo para o policial, que sua filha sumiu? Mas, como ela sumiu?
          - Eu a levei para brincar no décimo terceiro andar, no apartamento de uma coleguinha e não a encontrei mais!

          Renata ao pronunciar o 13º andar, ouve-se entre os moradores um burburinho, que deixou Renata e Cláudio confusos:

          - Um minuto por favor! – Pediu Cláudio - - Do que vocês estão falando? – Completou ele;
          - Acho que sua esposa está enganada, senhor! - Disse o síndico, ficando de pé entre eles;
          - Como está enganada? Nós estivemos no décimo terceiro andar e encontramos o laço de fita de minha filha no quarto da menina que... – Os moradores começaram a rumorejar, interrompendo as palavras de Claúdio;
          - Acho que o senhor não está entendendo; NÓS NÃO TEMOS O DÉCIMO TERCEIRO ANDAR! Nunca houve moradores e isso seria impossível - O síndico falou pausadamente, para que Cláudio e Renata entendesse a frase;
          - Você está me chamando de mentiroso? Está dizendo que eu e minha esposa estamos inventando essa história? – Perguntou ele, ficando de pé e cara a cara com o síndico;
          - Eu não estou dizendo nada disso; só acho que vocês estão enganados! – Respondeu ele, se afastando de Cláudio.

          O policial guardou a prancheta e cruzou os braços, olhando fixamente para Renata e Cláudio, com a expressão de desconfiança na face. Renata ao perceber que todos estavam olhando para ela e o marido, com a mesma expressão do policial, levantou-se da cadeira e falou:

          - Vocês estão desconfiando de nós? Então pergunte para o zelador que esteve conosco lá no décimo terceiro andar! – Gritou ela para as pessoas ao seu redor.

          O síndico olhou para as pessoas presentes ali, balançou a cabeça negativamente e perguntou:

          - Minha senhora, que zelador?
          - Aquele que está trancado na zeladoria e até agora não quis voltar! – Renata apontou para a porta fechada. Todos os olhares se voltaram para a porta;
          - A senhora tem certeza do que está falando? – Insistiu o síndico;
          - Eu e minha esposa temos certeza do que estamos falando! – Cláudio foi em socorro da mulher;
          - Eu só perguntei, pelo fato de não termos zelador neste edifício! – Respondeu o síndico, sendo concordado com diversas pessoas;
          - Como não? E quem foi o homem que nos levou ao décimo terceiro andar? – Perguntou Cláudio.

          Renata disparou em direção a porta e tentou abri-la, mas estava trancada! Bateu com força na porta, chamando pelo homem e, nada! O síndico passou a mão pelo rosto e seguiu em direção a porta, pediu licença para Renata e tirando uma penca de chaves de dentro do bolso, após encontrar uma chave entre elas, abriu a porta e a empurrou, para que Renata e Sérgio pudessem entrar.

          Os dois passaram por ele e quando entraram na sala, só encontraram um punhado de armários velhos e materiais de limpeza:

          - A limpeza é feita por uma empresa particular, duas vezes na semana. Nós optamos por essa forma, para diminuir o gasto do com o condomínio dos moradores. – Disse o síndico, ao entrar após eles, na sala;
          - Não, não é possível! Ainda há poucos instantes estivemos aqui e falamos com um senhor de cabelos grisalhos..., magro..., meio alto..., ele..., ele tinha até os braços queimados pelo incêndio que ocorreu no décimo terceiro andar.... – Renata já estava sem noção de nada, e falava quase sem nexo;
          - Deixa eu te explicar: nunca houve um incêndio neste edifício e nós não temos o décimo terceiro andar, pelo fato do homem que construiu este edifício, ser supersticioso! – O síndico começou a explicar;
          - Como não existe, se eu e minha esposa estivemos lá? E como você pode ter tanta certeza? – Cláudio agora gritou com raiva;
          - O homem que construiu este edifício, era meu PAI! Ele não gostava do número treze pelo fato de minha mãe e minha irmã morrerem em um incêndio neste dia, e por isso, ele deixou suspenso o lugar do décimo terceiro andar; é uma área vaga onde só se tem as pilastras do edifício!
          - Você está mentindo! Não é verdade! Minha filha sumiu lá, neste andar! – Renata explodiu;
          
          Ela com raiva, empurrou dois armários próximos, fazendo com que eles caíssem sobre a mesa. A mesa veio ao chão, fazendo com que as gavetas jogassem para fora, alguns papeis e algumas fotos. Ao olhar com mais calma na direção dos papeis que caíram sobre seus pés, Renata fixou o olhar em uma foto, coberta por um pedaço de papel velho.


          Ela abaixou-se e ao trazer a foto para perto de sua visão, começou a tremer as mãos e falou:

          - É este! Este é o zelador que nos levou ao décimo terceiro andar! - entregou a foto para Cláudio, que confirmou o que a esposa dizia;
          
          Claúdio entregou a foto para o policial, que ficou olhando e depois perguntou para o síndico;

          - Você conhece este homem?
          - Claro que conheço! – Disse ele, segurando a foto nas mãos;
               - Você conhece ele? Então ele poderá confirmar o que nós estamos dizendo! – Disse Renata esperançosa;     
          - Você pode nos dizer onde podemos encontrá-lo e falarmos com ele? – Perguntou mais uma vez o policial;
          - Onde encontrá-lo, sim; falar com ele; impossível! – Respondeu ele, a pergunta do policial;
          - Encontrá-lo podemos, mas falar com ele, impossível? – Indagou Cláudio, sem entender;
          - Este homem da foto, é meu PAI! Ele morreu há dez anos atrás, no dia da inauguração deste edifício...

          Renata ao ouvi-lo pronunciar aquelas palavras, desmaiou nos braços de Cláudio, pois sabia que jamais iria encontrar sua filha novamente...



    EMANNUEL ISAC

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