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O MENINO QUE ASSOBIAVA
EMANNUEL ISAC

Resumo:
Ricardo após se aposentar, decide mudar-se com a família para o interior e criar animais. Compra um sítio mas uma bela surpres o aguardava no pé de manga...

São José do Canavial, era uma dessas cidadezinhas típicas de interior onde as pessoas não tinham muito o que fazer, e na maioria das vezes, não queriam mesmo! Com uma população de pouco mais de mil e duzentos habitantes, era o lugar perfeito para quem procura por paz e sossego. Ao menos, isso foi o que pensou Ricardo ao pesquisar no google a respeito da cidade.
          Agora que se aposentara do serviço público, finalmente poderia por em prática um antigo sonho: criar animais! De preferência, carneiros e galinhas por serem de fácil comercialização.
Reuniu a esposa e os dois filhos, e participou a sua vontade. Estela, sua esposa, a princípio alegou como viveria longe da família, os vizinhos e a escola das crianças, como ficaria? Ricardo explicou que esse era mais um motivo pra querer mudar. A família poderia ir visitá-los sempre que possível, a escola, descobrira uma particular na cidade vizinha e que tinha condução para levar e trazer os alunos e os vizinhos, ele não se importava! Fariam novos.
          Renata de dez anos e Miguel de oito, perguntaram se na nova cidade tinha shopping e cinema, o pai lhe respondeu que isso era relevante, já que eles tinham praticamente, um cinema em casa; a TV fechada! Pronto! Estava decidido; partiriam no próximo mês assim que Ricardo finalizasse a compra de um sítio que estava à venda.
          Mês seguinte, lá estava ele, todo feliz (não podendo se dizer o mesmo de Estela), cheio de planos e projetos. Procurou logo se aproximar dos novos vizinhos mas, percebeu que isso não seria tão fácil como imaginou. As pessoas olhavam para aqueles novos estranhos com uma desconfiança, que chegava a assustar, mal mente uma senhora de olhar triste, lhe deu um bom-dia! - Deve ser assim mesmo (falou com sua esposa), somos novos mas depois, eles se acostumarão com a gente!
          Após abrir caminho em meio à bagunça da mudança na sala, chegou até o quintal para observar o seu tamanho; achou perfeito para iniciar seu novo projeto de vida. Passou o olho por todo o terreno quando, ao longe, avistou um pé de manga e um balanço preso nela. Se aproximou examinando aquele tipo de brinquedo feito com tiras de cordas (já velhas e degastadas pelo tempo), amarradas à um pneu: - preciso tirar isto daqui antes que as crianças descubram! Falou consigo mesmo.
          Chegando próximo da porta dos fundos, ouviu um assobio agudo, parecendo que vinha de um lugar distante. Olhou para trás, e percebeu que o balanço estava se movimentando como se alguém o tivesse empurrado. Voltou ao brinquedo e o segurou. Olhou mais uma vez para os limites da cerca de seu quintal a procura de alguma criança peralta mas, a única coisa que viu, foi aquela senhora de olhar triste que tinha lhe dado bom dia;
          - Deve ter sido o vento nas árvores! – gritou ele para a senhora.
          - Hã.. hãã! - fez a senhora em resposta.
          Largou o balanço e começou novamente a caminhar em direção à casa; mais uma vez o assobio, mas dessa vez, mais alto e mais agudo..., sentiu vontade de olhar em direção ao balanço, mas seu olhar parou na direção daquela senhora; percebeu quando ela sorriu olhando na direção do brinquedo.      Rapidamente olhou na mesma direção, quando notou o brinquedo no movimento de vai e vem mais rápido e..., sozinho!? “Que merda é essa”? Pensou em voz alta! Dirigiu-se novamente ao balanço, quando ele por sí só, foi diminuindo o movimento até parar. Ricardo petrificou no meio do caminho, ficou alí parado por alguns segundos, até que ouviu Estela lhe gritar:
          - Você vem me ajudar ou não a desfazer essa bagunça? Precisou ela gritar mais uma vez, para Ricardo voltar à sí:
          - Já... já vou!
          Entrou em casa sem falar nada com Estela. Não queria lhe trazer desconfiança, ainda mais agora que acabara de chegar. Decidiu que iria verificar mais tarde, aquela situação.
          Após desfazerem as malas, caixas e por os móveis no lugar, Ricardo levou as crianças para a cama e desceu para a sala de visitas. Sentou-se no sofá e começou a lembrar o episódio da tarde.
Estela passou por ele e lhe fez um afago nos cabelos, dizendo que iria deitar. Ele respondeu que ficaria mais um pouco, admirando a casa nova. Não demorou muito, já estava por cochilar afundado naquele sofá, quando ao longe ouviu aquele assobio agudo que ouvira antes. De um único salto, Ricardo ficou de pé, o coração parecia que iria lhe saltar à boca. Correu para a janela e viu quando uma luz de lampião passou pelos fundos de seu quintal. “Merda, quem será que está invadindo o meu quintal?”, falou baixinho. Resolveu verificar de ponta de pé quem seria aquele intruso. Abriu a porta bem devagar para não chamar a atenção de Estela, calçou um chinelo e foi sorrateiramente pelos cantos das árvores. Parou bem atrás de um abacateiro e para a sua surpresa, o intruso era justamente a senhora de olhar triste que lhe dera bom dia e que estava hoje à tarde olhando o balanço em seu quintal. Agora ela estava justamente em frente ao brinquedo. Se agachou para não ser notado e diminuiu a respiração para fazer mais silêncio ainda, ouviu quando aquela senhora começou a falar:
          - Tem gente nova na casa! Ricardo esperou para ouvir se alguém respondia;
          - Sei..., ééé..., nããão..., você não pode! E nada de alguém responder;
          - Eles tem duas crianças e você não pode brincar com eles ago..., parou subitamente! Ricardo ao ouvir falar das duas crianças, pisou em um galho seco que estava perto de seu pé. Sem graça ia se levantando quando olhou para cima e viu a senhora, com os olhos arregalados à fitá-lo bem de perto; olho no olho; Ricardo sentiu um calafrio a correr por toda a sua espinha dorsal:
          - A... a senhora me des... desculpe. É que eu não sabia quem era no meu quintal e eu só queria saber quem era.
          - Você precisa ter mais cuidado “com o que procura ver”, meu filho! Falou ela friamente para Ricardo, indo embora.
          Depois do susto passado, Ricardo ainda olhou para aquele balanço pensando no que ela quis dizer: “cuidado com o que procura ver”, antes de voltar para casa. Afundou mais uma vez no sofá e adormeceu...
          No dia seguinte, no mercado, procurou saber um pouco mais sobre aquela senhora. Passando pelo caixa, resolveu puxar assunto com a atendente:
          - Acabei de mudar para aquele sítio lá no fim da estrada! - a mulher do caixa fez uma pequena pausa no registro das mercadorias:
          - O antigo dono, não levou um mês com ele – respondeu ela;
          - Vou criar carneiros e galinhas – a mulher deu de ombros – posso lhe fazer uma pergunta?
- resolveu ser logo objetivo; – você conhece a quela senhora que mora no outro lado do fim da estrada, perto do sítio que comprei? A mulher finalmente olhou para Ricardo, com um olhar de surpresa! Ricardo ia continuar a conversa quando ela falou:
          - Pagamento com dinheiro ou cartão? Ricardo meio que sem graça respondeu: - dinheiro! Retirou do bolso a carteira, separou a quantia e entregou à mulher. Tentou novamente puxar assunto mas, outras pessoas chegaram para passar as compras.
          Pôs as compras no carro e já quase dando a partida, observou que um menino de uns doze anos, aproximadamente, estava a observá-lo sentado no banco da praça. Ligou o carro fazendo a curva para pegar a via principal, quando olhou novamente e quase se assustou ao avistar aquela senhora olhando para ele também, segurando no ombro do menino. Agora já sabia onde encontrar informações sobre aquela senhora, pensou ele.
          Ao chegar em casa, mal pôs os pés na porta e Estela lhe puxou pelas mãos, lhe arrastando para o quintal;      
          - Preciso falar sério com você! Disse ela em tom de quase desespero;
          - O que foi que houve? Indagou ele;
          - Hoje pela manhã – começou ela – as crianças estavam lá naquela árvore – apontou para a mangueira onde estava o balanço – brincando perto do balanço, quando percebi que tinha mais alguém com elas. Ricardo olhou para a mulher e viu como suas mãos suavam;
          - Mas aquele balanço está velho e suas cordas podem partir a qualquer momento, não pode deixar as crian... Estela interrompeu Ricardo com um gesto de mão:
          - Será que você não prestou atenção no que acabei de dizer? Tinha mais alguém com nossos filhos naquele balanço! - gritou ela para Ricardo levando as mãos no rosto:
          - Você viu quem era? Perguntou ele finalmente;
          - Não. Quando cheguei perto, só encontrei o balanço em movimento e as crianças sentada no chão brincando.
          - Mas como então você sabe que tinha mais alguém com nossos filhos? Interrogou Ricardo;
          - As crianças conversavam como se fosse com uma terceira pessoa presente e...
          - Ora Estela! - interrompeu ele - As crianças sempre brincam com um amiguinho imaginário – desdenhou mais uma vez;          
          - Ricardo, o balanço estava se movimentado sozinho e, desde quando nossos filhos sabem assobiar alto e agudamente?
          Esta uma frase, fez com que Ricardo tremesse na base. Lembrou de ter ouvido o assobio
no dia anterior e à noite. Pediu que a mulher entrasse em casa com as crianças até que ele voltasse da rua.

Precisava esclarecer aquela estória de uma vez por todas. Mal chegara a cidade, e já passava por uma situação estranha daquelas?
          Foi para a frente do sítio e atravessou a estrada de terra empoeirada até chegar na casa que crera ser, daquela senhora estranha. Bateu palmas, uma, duas, três vezes. Ninguém! Chamou em alta voz e gritou, também nada! Passou-lhe uma idéia maluca pela cabeça de assobiar; tentou a primeira vez e na segunda, apareceu o mesmo menino que ele vira no banco da praça perto do mercado hoje pela manhã:
          - Seus pais estão em casa? Perguntou ele ao menino;
          - Não senhor! Devolveu a resposta o garoto;
          - Alguém que eu possa conversar? Tornou a perguntar;
          - Só minha mãe que está lá no mercado trabalhando! Ricardo lembrou da mulher do caixa e a expressão em seu olhar quando lhe perguntou sobre a senhora. Agradeceu ao menino e voltou para pegar o carro; resolvera ir até o mercado novamente...
          Chegando no mercado, procurou pelo mesmo caixa e soube que ela estava em horário de descanso. Descobrindo o local, finalmente chegou à mulher:
          - Sei que você lembra que estive nesta manhã aqui no mercado e te fiz uma pergunta sobre uma senhora! - a mulher novamente lhe olhou com ar de surpresa - só queria saber de você, se você conhece aquela senhora de olhar triste que mora perto do sítio que eu comprei e acabei de descobrir, que somos vizinhos. Finalmente, ela resolveu falar:
          - Posso saber a razão de tanto interesse em saber dessa senhora? Perguntou;
          - Bem, o motivo é que desde que cheguei naquele sítio, eu ouço um assobio agudo como se fosse de uma criança ou jovem, não sei! Ontem à noite, esta senhora estava no meu quintal conversando com alguém e quando eu me aproximei, ela me disse para ter cuidado com o que queria ver “eu não entendi” e, além do mais, hoje quando cheguei em casa, minha esposa me falou que ouviu este mesmo assobio – disparou ele meio ofegante – é só por este motivo! Ao olhar com mais atenção para a mulher, viu quando ela começou a balançar a cabeça repetidas vezes, como se fosse dar uma resposta de um não:
          - Isso é uma brincadeira de mal gosto? Perguntou a Ricardo com uma expressão de quem acabou de ouvir uma piada mal contada;
          - Não! Absolutamente! Só quero saber se...
          - Acho melhor o senhor parar por aqui mesmo! Esbravejou ela – não tem nenhuma graça
ficar brincando com os sentimentos das pessoas – seus olhos se encheram de lágrimas. Ricardo observando aquela cena, procurou amenizar a situação:
          - Me desculpe! Em momento algum quis ofender ou ferir os sentimentos de alguém. Só estou tentando compreender, o que está acontecendo no meu quintal – Brandou a voz.
          - Moço!...
          - Ricardo! Disse ele se apresentando;
          - Olha seu Ricardo, eu não sei muito o que o senhor quis falar com essa estória toda. Os outros moradores do sítio, também fizeram essas mesmas perguntas mas, só sei de uma coisa; - Ricardo ficou apreensivo – o assobio que o senhor ouviu, é o meu filho que fica lá em cima do pé de manga que tem lá no seu quintal, assobiando quase todos os dias. Ricardo lembrou do assobio ser parecido com o de uma criança;
          - Se ele fica lá em cima, quem é que empurra o balanço? - Indagou mais uma vez;
          - Quem empurra o balanço, eu não sei; eu já tinha pedido ao antigo dono do sítio que cortasse aquele pé de manga mas, ele não quis, disse que gostou do balanço.
          - Por qual motivo cortar o pé se ele só levou poucos dias no sítio? Você sabe?
          - Só sei que desde que aconteceu o acidente com a minha “mãe” naquele balanço, meu filho só vive em cima daquele pé de manga assobiando.
          - Acidente??? Perguntou Ricardo;
          - Sim, desde que meu filho empurrou aquele balanço e minha “mãe caiu e morreu” ao quebrar o pescoço, ele só vive lá no alto assobiando...

                         EMANNUEL ISAC

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